No sábado, eu não sabia se ria ou se chorava. Esperei tanto por essa oportunidade e, quando ela finalmente acontece, preciso bancar a babá. Mentaliza positivo, Ingrid! Resolvi relaxar e acendi um incenso de anis-estrelado, para atrair boa sorte.
Preciso falar que a Jéssica era a empolgação em pessoa? Meia hora antes do horário combinado para irmos ao shopping, ela já estava pronta e não parava de entrar e sair do meu quarto.
Anda logo, Ingrid! A gente vai se atrasar!
– Calma, garota! Quer que eu vá feia, é?
– Você tá demorando muito.
– Mas ainda falta meia hora!
– Se a gente perder o filme, a culpa é sua!
Ela me perturbou tanto que acabamos saindo mais cedo. Quando chegamos ao shopping, o Caíque já estava lá com o irmão. A gente se cumprimentou e foi a primeira vez que o vi com a Jéssica. Ela era fascinada pelo Caíque, incrível! E ele a tratava com muito carinho, que fofo.
Compramos as entradas e as pipocas.
Nunca vi um filme tão surreal. Os tais coelhos alienígenas eram muito doidos e aprontavam um bocado com os terráqueos. A Jéssica e o Caio riam tanto que eu e o Caíque não tínhamos como não rir também. Até que a espaçonave mãe resgatou os coelhos doidos fujões e o filme acabou.
Ao sair do cinema, a Jéssica bateu palmas e nos lembrou da segunda parte do programa.
– Oba, vamos comer hambúrguer!
– Jéssica, você se entupiu de pipoca dentro do cinema e ainda quer comer hambúrguer?
– Claro, Ingrid! Eu quero a promoção que dá o boneco de coelho do filme.
– Eu também quero! – gritou o Caio.
– É... Pelo visto, a coelhada continua! – o Caíque caiu na risada.
Compramos os sanduíches e nos sentamos na praça de alimentação. Sabe o que o Caio fez?Abriu o pão e enfiou lá dentro mais da metade da porção de batata. Depois abocanhou aquele troço gigantesco. Inacreditável! Como um menino tão pequeno pode ter um bocão daquele tamanho?
Quando pensei que a sessão espanto tinha terminado, adivinha só? Ouvi uma voz familiar atrás de mim.
– Oi, gente! – a Aninha falou toda animada. Como se eu não conhecesse aquele sorrisinho sarcástico dela.
– Oi, Ana Paula – o Caíque sorriu e cumprimentou o Guiga em seguida.
– Vamos entrar no cinema agora. E a fominha da sua amiga não aceita só pipoca, precisa de uma porção gigante de batata. Viemos comprar e já estamos indo – o Guiga disse.
– Peraí! – ela falou enquanto abria a bolsa. – Posso tirar uma foto de vocês quatro?
Ok. Vamos esquecer toda a minha pose de boa moça, pensamento positivo, paz e amor. Será que eu vou presa se matar a minha melhor amiga só um pouquinho? Só uma estranguladinha básica?
A Jéssica e o Caio se empolgaram, fazendo pose com os bonecos de coelho. Eu e o Caíque não tivemos alternativa e posamos para a foto.
– Ah, ficou linda! Depois mando pra vocês pela internet. Tchau! – e saiu de fininho a cara de pau.
O meu padrasto nos buscou de carro na saída do shopping. Deixamos o Caíque e o Caio e seguimos para casa. Foi só virarmos a esquina para a Jéssica dormir esparramada no banco de trás.
Quando chegamos em casa, foi a minha vez de me esparramar, só que na minha cama.
Fiquei me lembrando de tudo que tinha acontecido. Apesar dos coelhos loucos e do sanduíche de batata frita do Caio, foi muito divertido. Na verdade, acho que a parte divertida estava justamente aí. A gente deu muita risada, comeu, conversou.
Mas tudo aconteceu de maneira bem superficial. O Caíque sorria para mim, daquele jeito que me tirava o fôlego, mas não percebi nada que pudesse confirmar que ele gostava de mim.
Liguei o computador e ele não estava online. Ele não comentou se tinha outro programa para mais tarde. Será que ia sair? Fiquei com uma pontinha de ciúme. Fui arrancada dos meus pensamentos pela minha mãe, gritando lá da cozinha. Ela tinha feito a receita secreta de família de pizza de atum. Vou ter que fechar a boca o resto da semana! Pipoca, hambúrguer e pizza, tudo
no mesmo dia? Não sou que nem a Aninha, que tem uma lombriga de estimação.E por falar em Aninha, por volta da meia-noite ela me ligou no celular.
– Oi, amiga! Desculpa a hora, mas sei que você dorme tarde no sábado. Ainda bolando um plano para me matar sem deixar pistas?
– Claro que não! – ri do jeito que ela falou. – Cadê a foto?
– Acabei de mandar pro seu e-mail. E aí, como ficaram as coisas?
– Não sei.
– Como não sabe?
– A gente comeu, andou um pouquinho e depois veio embora.
– E ele não tentou nada?
– Tentou o quê?
– Ai, Ingrid! Tentou te beijar, pegar sua mão, te abraçar, sei lá! Qualquer coisa.
– Nadica de nada. Aninha, essa ida ao cinema hoje foi muito divertida, mas ao mesmo tempo um micão danado. Acho que, quando estava naquele joguinho de esconde-esconde, era mais divertido para ele. Quando partiu para o mundo real, perdeu a graça.
– Será? Não sei... Olha, amiga, você está sendo muito contraditória.
– Como assim?
– Você não é a rainha do pensamento positivo? Então? Relaxa! Vamos esperar para ver no que vai dar.
Desligamos e acessei meus e-mails. A foto tinha ficado maravilhosa! Apesar de estar com pouca tinta na impressora, imprimi e colei na porta do armário da Jéssica. Quando ela acordasse,ia dar pulinhos de alegria. Voltei para o quarto e fiquei olhando a foto na tela do computador. Os quatro sorrindo com cara de felicidade. A Aninha estava certa. Vamos esperar para ver no que vai dar.
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As Mais - Patrícia Barboza
RomanceMAIS é a sigla da amizade, formada pela inicial do nome das amigas Mari, Aninha, Ingrid e Susana. As MAIS são alunas do Centro Educacional Machado, no Rio de Janeiro, e são inseparáveis. Tanto que resolveram escrever um livro juntas, relatando suas...