Na segunda-feira, as MAIS estavam loucas para saber do meu encontro com o Lucas. A mais decepcionada foi a Ingrid.
– Eu sinto que algo ainda vai acontecer! Senão ele não teria te convidado para ir ao cinema. Você vai ter que ter paciência.
– Aliás, cadê esse garoto que ainda não chegou? – olhei em volta preocupada, já que faltavam apenas cinco minutos para as aulas começarem. – Vai ver está tão arrependido que não teve nem coragem de dar as caras no CEM hoje.
– Ai, mas que garota mais dramática! – a Aninha riu. – Vai ver ele se atrasou, só isso.
Ele não apareceu. A carteira dele ficou lá, vazia, a manhã inteira. Fui embora já imaginando como eu ficaria com aquele hábito que as freiras usam. Será que faz muito calor embaixo daquela roupa?
Cheguei em casa morrendo de fome! Depois do fim de semana supermovimentado, com a festa da Giovana e o cinema com o Lucas, minha fome tinha dobrado. Esqueci de levar dinheiro para o lanche e filei uns biscoitinhos de polvilho da Aninha. Ela é tão gulosa! Só porque peguei meia dúzia de biscoitos, já me olhou de cara feia. Só me restou então uma barra de cereais meio amassada que achei no fundo da mochila. Minha barriga estava roncando tão alto que fiquei com medo de o pessoal ouvir aquela sonoplastia de desenho animado. Ronc, ronc, ronc.
Entrei em casa doida para saber o que o meu pai tinha feito de almoço. Como ele trabalha em casa, acabou ficando responsável pela nossa comida. Ele adora cozinhar! Acho que ele devia ser chefe de cozinha, em vez de tradutor e revisor. Levantei a tampa da panela e foi aí que recebi a grande notícia.
– Mari, vai ao mercado comprar alface, filha?
– Ai, pai! Alface? Quero alface não! – Odeio comer folha, confesso.
– Já preparei o resto da salada, só falta a alface. Vai lá rapidinho que já vou fritar os bifes.
Meu pai começou um discurso sobre os benefícios da alface, que é uma ótima fonte de vitaminas A e C, além de ter alto teor de fibras e ser um ótimo calmante. Está me chamando de nervosinha nas entrelinhas? Mas fazer o quê, né? Lá fui eu...
Eu até gosto de ir ao supermercado, mas para comprar coisas que já venham em pacotes, latas ou caixas. Escolher frutas, legumes e verduras não é comigo. Sempre fico indecisa, nunca sei como escolher, saber se está bom, maduro, verde, esses detalhes básicos.
Avistei um aglomerado de gente perto da seção de frios e fui lá dar uma olhada. Era um estande de degustação de uma marca de pão de queijo. Amo pão de queijo! Tinha uma demonstradora toda vestida de azul, cor da embalagem do produto. Ela era linda e conseguiu atrair os poucos seres do sexo masculino presentes no supermercado. Ela abria o pãozinho e colocava um pedacinho de presunto ou uma porção de requeijão. Com a fome que eu estava, não pensei duas vezes. Peguei um com requeijão, que estava uma delícia.
Os homens são muito engraçados. Todos em volta da demonstradora, estufando o peito e tentando ser simpáticos e sorridentes. Até o vizinho do 303 estava lá, cheio de amor para dar. Falta de desconfiômetro é um problema sério!
Na seção de verduras, encontrei três tipos de alface: americana, crespa e romana. Devo ter feito uma cara de interrogação tão grande olhando para elas que apareceu uma senhora e sorriu para mim. Sorri de volta.
– Posso abusar da sua boa vontade? – perguntei toda sem graça.
– Claro, mocinha. Não sabe escolher alface?
–Isso mesmo! Preciso levar e não sei como escolher.
– A alface-americana está fresquinha. Veja as folhas como estão bonitas. Pode levar sem medo.
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As Mais - Patrícia Barboza
RomanceMAIS é a sigla da amizade, formada pela inicial do nome das amigas Mari, Aninha, Ingrid e Susana. As MAIS são alunas do Centro Educacional Machado, no Rio de Janeiro, e são inseparáveis. Tanto que resolveram escrever um livro juntas, relatando suas...