31-E viva o Monteiro Lobato!

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O fim de semana passou tranquilo e aproveitei para descansar.Na segunda-feira,a minha mãe foi conversar com os alunos do CEM sobre a profissão de farmacêutica. Era parte do ciclo de palestras sobre profissões que a Aninha tinha organizado pelo grêmio. Minha mãe consegue ser bem simpática quando quer! Tudo bem,estou sendo implicante. Afinal de contas, ela aceitou a minha paixão pelo vôlei. Os alunos adoraram,aplaudiram e tudo.

Fui com ela até o portão e a abracei.

– Mãe, se você soubesse como estou feliz!

– Que bom, filha! – ela me abraçou mais apertado. – Gostei muito de conversar com os seus amigos. Aliás, não foi nada difícil, pois eu adoro o que faço.

Ela soltou o abraço, olhou para cima e começou a rir.

– O que foi, mãe?

– Até outro dia você era a minha menininha, vivia correndo pela casa. Agora,para te abraçar tenho que ficar na ponta dos pés, assim como faço com seu pai. Nisso você puxou totalmente a família dele. Como você cresceu,querida! Não só na altura,mas se tornou uma mocinha adorável,que sabe o que quer e corre atrás para conseguir. Você já me perdoou por ter sido tão inflexível?

– Claro que sim, sua baixinha – ri. – Obrigada por tudo. Mesmo!

Com a desculpa de assistir ao ensaio da peça, fui com a Mari até o teatro e o Eduardo já estava lá.

– Adorei a palestra da sua mãe, Susana – ele sorriu, colocando a mão no meu ombro. Aquele toque inesperado me fez estremecer.

– Que bom que gostou! – sorri de volta. – Fiquei feliz quando ela aceitou o convite para participar.

– Daqui a pouco vai ser você a dar palestra no CEM.

– Como assim? – estranhei.

– Você vai ficar famosa como jogadora profissional de vôlei. Logo vai poder dar palestra contando como é a vida de atleta.

– Não tinha pensado nisso... Como sabe que eu vou ser profissional?

– O Rubens, treinador do time do CEM, é meu tio. Você não sabia?

– Não! – respondi espantada.

– Ele me conta tudo. E é seu fã. É como se eu te conhecesse há muito tempo, de tanto que ele fala como você é especial.

– Vem, Eduardo! O professor quer falar com você – a Mari interrompeu.

– Deixa eu ir, Susana. Torce por mim?

– Claro que sim!

Que coisa doida! O Rubens é tio do Eduardo? Então foi por isso que ele me chamou pelo nome lá na Estação do Som. De repente me deu uma vergonha... Quer dizer que o treinador falava de mim para o sobrinho e eu nem sabia? Que mico! Eu querendo saber mais sobre ele,e ele já sabia tudo a meu respeito.

Claro que ele passou no teste para ser o Visconde de Sabugosa! Os outros alunos que participariam da peça o receberam muito bem, mas disseram que ele teria que se esforçar mais,pois todos já tinham ensaiado seus papéis antes da saída do outro ator.

Por causa dos treinos do time da CSJ Teen,não consegui ir a todos os ensaios da peça,mas sempre que possível estava lá. Até porque eu queria me aproximar do Eduardo.

E por falar em treinos, todas as meninas do time já estavam selecionadas. Eram doze atletas,seis que estariam em quadra e as outras seis no banco. Por enquanto tudo era festa,uma adicionando a outra nas redes sociais, trocando MSN... Vamos ver se essa harmonia toda vai continuar até o ano que vem, quando as titulares forem escolhidas. Mas não quero ficar preocupada antes da hora.

Ganhamos dois uniformes de treino. Completos! Também tem o de jogo e o de viagem, mas,como isso só vai acontecer daqui a três meses, não vimos ainda. Já estou curiosa!

Bom, voltando ao teatro, era fim da tarde de sexta-feira e todos os atores da peça pareciam exaustos. Foi quando o Eduardo teve uma ideia.

– Gente, tô morrendo de fome. Vamos comer uma pizza? Ainda é cedo. Se a gente avisar nossos pais, não vai ter problema. A gente não vai demorar muito. O que acham?

– Acho ótimo! – a Mari concordou.

– E você, Susana? Vem com a gente? – ele perguntou.

– Claro! Só preciso avisar a minha mãe.

Fomos em oito pessoas. Juntamos duas mesas e sentei bem ao lado do Eduardo. Todo mundo ria e comentava sobre os ensaios. No início eu estava tão tímida que não conseguia comer direito.

Mas fui relaxando e me soltei.

Umas duas horas depois, o Lucas, namorado da Mari, foi juntando o dinheiro do pessoal para pagar a conta. O meu irmão tinha ficado de me buscar,mas cadê? Esqueceu de mim. Liguei para o celular dele. Ele atendeu e disse que estava com a namorada.

– Eu posso te deixar em casa, Susana. Meu tio vem me buscar e podemos te dar uma carona – o Eduardo ofereceu.

– O Rubens vem te buscar? Acho que vou aceitar sim.

– Olha ele lá! – ele apontou.

Entrei no carro e cumprimentei o treinador.

– Estou com saudades da minha atleta favorita – ele brincou. – Mas foi por uma boa causa. Não dava para treinar nos dois times.

– Pois é. Fiquei feliz por um lado e triste por outro. Mas tudo bem,estou gostando bastante dos treinos,e as meninas do time são muito legais.

– Que bom, Susana! O seu prédio é aquele ali?

– Isso, aquele mesmo.

– Amanhã é a festinha de aniversário do meu filho. Ele vai fazer 6 anos! Você está convidada.

Vai ser à tarde,regada a brigadeiro e cachorro-quente.

– Se você for,Susana,vai me fazer companhia. Acho que vou ser o mais velho da festa – o Eduardo falou, fazendo cara de cãozinho abandonado.

– Vou sim. Adoro brigadeiro! – achei o comentário meio ridículo,mas foi a única coisa que consegui responder.

– Ótimo! Sabe onde eu moro? – o Rubens perguntou,ao estacionar na porta do meu prédio.

– Não sei...

– Agora que eu sei onde você mora, passo aqui e a gente vai junto. O que você acha? – o Eduardo perguntou, me encarando com aqueles olhos repuxados.

– Tudo bem, combinado.

– Passo aqui às quatro.

– Vou te esperar então. Tchau.

– Tchau, até amanhã.

Saí do carro quase pulando de alegria! A sexta-feira não poderia ter acabado de maneira mais perfeita. Cheguei tão empolgada em casa que resolvi trocar o esmalte. Escolhi um azulzinho com um toque de glitter,que tinha visto numa revista de moda. Minhas unhas ficaram lindas! Esperei secarem e fui dormir,torcendo para sonhar com aqueles olhos repuxados...

As Mais - Patrícia BarbozaOnde histórias criam vida. Descubra agora