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Marinetta

Ingrata...nem sequer veio me buscar no hospital, tive de chamar uma "amiga" que me deixou ficar em casa dela e tenho consciência de que não é por muito tempo sem nada em troca.

Ela voltou a encontrar-se com aquele preto e já sabe, não de tudo, mas do 'caso Leeis'.

Deus sabe o que uma mãe é capaz de fazer para proteger, cuidar e ensinar os filhos. E foi isso que eu fiz.

Por tanto tempo, planeei a vida perfeita para ela, para que ela não tivesse que mendigar, ser humilhada...como eu fui quando fiquei grávida dela.

Era um projecto de modelo, linda, esbelta, de olhos azuis radiantes e cabelos loiros acendentes na luz. Era perfeita. Mas me desviei por um artista de quinta e acabei cavando minha própria cova.

Meu sonho foi água à baixo com a gravidez, fiquei furiosa mas não podia fazer nada mais já que eu já tinha bons meses de gravidez. Não podia tirar simplesmente porque podia matar-me, então a tive.

Num compartimento de banheiro de um restaurante de 1 estrela, em que um servente novato me ajudava, dei a luz. Estava aliviada, não queria tocar nela no princípio mas, Gito insistiu que eu a pegasse e sentisse a "nossa conexção".

Ele tinha razão...assim que aquele bebê, que não havia chorado no processo do parto até às mãos de Gito, entrou em contacto comigo, chorou, chorou parecendo que queria expelir os pulmões. E ele disse "Bueno, è viva!" [Hey, está viva!].

De alguma maneira, o idiota apaixonou-se por mim, bom, mais pela pequena mas deu no mesmo. Ele era bom, confesso que me amou e dedicou sua vida a mim e a Antonella.

Tempo foi se passando e nós erámos felizes, muito felizes. Uma verdadeira família. Não tive mais filhos porque não quis e claro que Gito não protestou.

Mas aí ele adoeceu e os custos aumentaram e aumentaram.

Decide agir quando os custos médicos passaram a cobrir a escola de etiqueta, ballet e beleza de Antonella. Tive de agir e acabar com o sofrimento dele.

Empurrei-lhe escada à baixo e foi o suficiente para todos os ossos dele se partirem. Lembro-me de sua última expressão, como quem soubesse o que viria mas mesmo assim não pudesse acreditar. Essa mesma expressão atormenta-me até hoje.

Jurei que não me envolveria com nenhum homem e fiz como prometido. Jurei também zelar pela minha filha, ela recompensaria tudo que passei, ela teria a vida que sempre quis ter.

Depois da morte de Gito, tive a certeza que faria tudo que pudesse para garantir que eu vivesse como uma rainha através de Antonella.

Aí entrou o preto na história e ela tinha mesmo de engravidar...dei um jeito de acabar com aquela aberração, se há algo que não me arrependo de tudo que já fiz é de ter interrompido a gravidez, em contrapartida, como mãe, doeu-me vê-la sangrando tanto.

Consegui chegar a um consenso e transformei numa história para Leeis deixar Antonella em paz. E foi um sucesso!

Ela ficou deprimida por algum tempo mas tratei de levantar-lhe o queixo dizendo que ela só tinha a mim e precisava confiar e obedecer que tudo correria bem. E ela consentiu.

Daí, ela começou a ser só e somente instruída por mim. Eu criei a Antonella, eu calculei as suas palavras, o jeito que cruzava as pernas e como tapava a boca quando sorria educadamente...tudo para fazer um milionário se apaixonar.

Na mosca caiu Lorenzo Armani! Confesso que ele era um bom homem, no entanto reservado, mas o facto de ser o herdeiro dos Armani gritou mais que tudo. A minha felicidade era imensa e gigantesca. Ele foi rápido em pedir em namoro, logo em casamento.

Quando ela disse o "sim" já sabia que havia alcançado o meu- nosso objectivo.

Ela não queria se casar com ele e nem o amava, era transparente para mim até na forma que o olhava, mas de certeza que a beleza dela ocultou isso para ele.

A medida que o tempo foi passando, ela foi se apaixonando e percebendo que ele era o único certo para ela.

Dei vários empurrãzinhos, principalmente quando tivessem discussões.

Eu aconselhei-lhe a furar a camisinha e engravidar. Ela o amava e estava pronta para ter uma família com ele, mas não queria forçar uma família. Ele já reclamava do divórcio.

Ela engravidou e as coisas melhoraram um pouco. Antonella estava muito apegada à Lorenzo e eu não gostei nada daquilo então reprendia-lhe, dopando Lorenzo para que se atrasasse no pré-natal, acabassem discutindo e assim, fizesse-lhe entender que mesmo casada ela só podia confiar em mim.

No entanto, Antonella ainda tinha o mesmo brilho no olhar quando olhasse para ele. Eu invejava aquilo de alguma maneira.

A mãe dele era uma intrometida, querendo saber o que se passava com a minha filha e afins. Quem ela pensava que era? A mãe dela sou eu. Um dia Antonella recusou-se a tomar o meu chá de hibiscos que eu preparei para tomar a "receita especial de chá para grávidas" que lhe pertencia.

Reprendí-lhe dando doses de "chá's especiais" para ela que uma senhora recomendou-me para Lorenzo parar com a ideia de divórcio.

Mal sabia que...aqueles chá's iriam matar o bebê. Não foi o que queria. Longe de mim! Eu só estava tentando ajudar.

A minha filha, oh Antonella sofreu muito com a perda do segundo bebê, diria até mais do que o primeiro. Ela ficou devastada com a vida.

Eu não podia deixar-lhe duvidar que os chá's que dava a fizeram perder o bebê então novamente levei-lhe à culpar Lorenzo, mal sabia eu que daquela vez seria diferente.

Ela passou a odiar Lorenzo com todas as forças. É verdade que ele pretendia se divorciar dela mas ele não era de todo mau. Eu mexia com o psicológico de Antonella dizendo que Lorenzo faltava e não dava justificações porque a estava traindo mesmo ele dando recados antecipados à mim.

"Por quê você fez isso, sua víbora!?" Devem estar se perguntando...

O esperado era uma vida burguesa, milionára de luxos e privilégios. Não contava com o amor. Antonella se apaixonou, Antonella voltou a amar e os dois se davam.

Notei que sempre que eu estivesse longe em viagens e afins os dois estavam felizes, a verdade é que Lorenzo prezava a minha ausência. E eu senti inveja daquilo. Ela estava...não, ela era...feliz.

De qualquer maneira,

Deus sabe o que uma mãe é capaz de fazer para proteger, cuidar e ensinar os filhos. E foi isso que eu fiz.

Por tanto tempo, planeei a vida perfeita para ela, para que ela não tivesse que mendigar, ser humilhada...como eu fui quando fiquei grávida dela.

Eu fiz tudo por ela.


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Bjs!
_masus_●

A Que Me Deixou De QuatroOnde histórias criam vida. Descubra agora