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Antonella

- Então vocês se beijaram?

- Sim.

- Porquê agora? Porquê falar-me depois de semanas? - a Dr. Martin, minha terapista, indagou.

- Talvez porque não queria me lembrar desse dia e nem ser julgada de alguma maneira. - disse cabisbaixa.

- Será isso mesmo, Antonella? - a voz consistente da Dra. chamou o meu olhar ao encontro do dela, sugando a verdade de mim.

- Não...

- Prossiga.

- Eu gostei, Dra. Eu gostei imensuravelmente e o quero ainda mais. Queria não ter gostado e repulsá-lo mas-...mata-me não o ter comigo. - suspirei alto.

- Você disse que o ignorou todas as vezes em que ele tentou se comunicar com você.

- Ele tem mulher, é comprometido.

A Dra. lançou-me um olhar genuíno.

- Prossiga.

- A verdade é que eu tenho medo que agora que ele voltou à minha vida, possa sair tão rápido e deixar mais um grande vazio em mim. Eu tenho medo de voltar a estar tão apaixonada como estava antes porque todas as vezes em que estive apaixonada deu em merda. É como se eu não tivesse sido feita para o amor.

Uma lágrima escorreu sôbre o meu rosto.

- De qualquer jeito, ele parou o nosso acto...por causa da mulher. O que significa que ele a ama e aquilo foi só um deslize. - mexi as mãos nervosa.

- Um deslize?

- Hum.

- Que belo deslize, no entanto, não é? - a Dra. sorriu de lado.

- É...quer dizer, eu não teria parado e isso me assusta mais. O facto de que por mim não teria parado.

- Olha, nem eu pararia.

Surpreendi-me.

- À sério?

- Claro, olhe para um homem daqueles! Você põe muita carga em suas costas, seja leve. Tenta olhar para as situações da vida da maneira que menos te magoem. Pare de pensar tanto nos outros, olhe para você.

- A Dra. está aconselhando-me a ser um pouco...egoísta? - estranhei, porém, apreciei.

- O egoísmo engloba todas as pessoas, Antonella. Na verdade, todo mundo precisa de um pouco do egoísmo para viver as suas vidas sem remorso, pelo menos, sem tanto remorso. Só que o excesso dele causa o narcisismo, a desumanidade e a imoralidade.

Pensei sobre aquilo.

- Compreendo.

Parei de mexer minhas mãos, mais convicta da minha situação actual.

- Deixa ele entrar na sua vida, verdadeiramente. Viva sem remorsos e, desculpe a expressão, foda-se o mundo que já a tanto fez sofrer. E se você sente um desejo por ele, mate-a. Permita-se viver...

Essas palavras foram como um balde gigante de água fria para mim na atmosfera calorífica que é o meu psicológico.

Dois dias passaram-se desde aquela secção. Estou agora saindo da última da semana em rumo à casa.

Na recepção avisto Leeis sentado, que logo que me vê se levanta.

Fico surpresa.

Que porra de lei de atração é essa!?

A Que Me Deixou De QuatroOnde histórias criam vida. Descubra agora