O crime não é brincadeira.
Essa realidade se apresentou para mim quando eu era ainda um moleque, simplesmente por ser filho de quem eu era.
A idade não importa muito para quem está nessa vida. Tem quem ingressa na vida marginal aos 7, ou aos 12. A realidade é que a infância termina muito cedo na favela. Na maioria das vezes, ela nem começa.
Meu pai assumiu o comando com 18 anos. E não foi na base da filosofia ou do intelectual. Meu pai conversava com uma pistola 12 na mão, ou com os punhos, ou com facas.
A imagem dele, ou sequer a lembrança, me causava ódio desde cedo. Não que ele não fosse um bom pai, mas ele não era uma boa pessoa, e isso eu soube quando vi ele matar na minha frente um garoto que não podia ter mais do que 15 anos, porque tinha denunciado para a polícia a localização da boca de fumo.
Ele era um estudante, que estava cansado de levar esporro de vapor, que achava graça debochar e agredir o garoto só por ele botar o pé para fora de casa. Ele trampava de garçom no asfalto, fazia bico e ganhava pouco, pra ajudar a mãe em casa, com o irmão recém-nascido, porque o pai drogado tinha abandonado a família depois de roubar tudo que podia para sustentar o vício.
Ele era só um garoto tentando fazer a vida funcionar no caminho certo. Mas pro meu pai, ele era um X9, e não importava a idade, a história, a família.
Ele era X9, e na favela, X9 morre.
Esse é o meu ódio, a justiça que meu pai dizia fazer, só promovia dor e violência.
Mas ódio gera ódio, e meu pai morreu pagando o mal que fez em vida.
É engraçado como a justiça, o Karma, tudo isso só vem quando a pessoa está tentando mudar de vida, tentando ser melhor.Meu pai também teve uma história triste. Um pai traficante morto na frente de casa, que agredia os filhos por qualquer motivo, abusava das irmãs do meu pai. Um pai de bosta, numa realidade de bosta.
E a mãe dele também não era exemplo, foi presa pela primeira vez aos 14 anos, como menor infrator. Disso em diante, foi e voltou para a cadeia um par de vezes, metida em assaltos pra sustentar a família e seduzida pela chance da prosperidade e da luxúria.Novamente, uma realidade de bosta.
Mas meu pai cresceu, se tornou Luciano, ou Zico, como também era chamado. Dono do morro, traficante temido e frio e bandido ruim e cruel quando necessário.
Eu sabia diferenciar o Luciano pai, do Zico dono de morro. Mas isso começou a se misturar conforme eu fui crescendo, e ele foi desejando criar em mim, uma extensão dele.
Um dia meu nome já foi Luis Felipe. Mas desde os 13, meu nome é LM, e me tornei herança do crime.
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DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃO
Roman d'amour#2 mudanças - 18/11/2021 #1 risadas - 07/03/2023 #1 nostalgia- 07/03/2023 #2 afeto - 02/12/2021 - Quem é tu garota? Fumou foi? Não tem medo de morrer não? - Eu? - sorri, indo em direção a mesa em passos devagar, me escorando nela - Nunca tive medo d...