IV

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"As vezes, sabedoria 

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"As vezes, sabedoria 

é apenas calar e 

observar."

 — Desconhecido.

Espera aí, Geisa! Pra que andar tão rápido assim, mulher de Deus? — a voz de Guilherme soava um pouco distante de mim. Já estávamos próximos a orla da praia, e os saltos, mesmo pequenos, começavam a incomodar. Com cuidado os retirei.

No ballet dancei em apresentações com saltos inúmeras vezes, até maiores que esses. Sabia que o desconforto não eram os saltos, a roupa, ou o cabelo que agora parecia preso demais. Era ele. Era aquele maldito.

— Você que é lerdo Guilherme. Aonde já se viu? Eu estou a um tempão longe da praia e é você quem desaprende a andar na areia? 

— Ei ei, fica na tua aí, Quindim! — ele riu, me tacando areia

— Seu desaforado de uma figa! Olha só meu vestido, está estragando tudo! — tentei limpar com as mãos o pequeno estrago dos grãos  de areia que se fixaram no tecido. Mariana iria me matar se aparecesse em casa com um grão que fosse.

— Teu? — a cara de deboche evidenciava que nem por um segundo, ele acreditava que aquele vestido pudesse ser meu

— Ah, cala a boca, você entendeu! A Mariana vai me matar!

— Faz sentido, tu não usaria um vestido assim. Tá gata? Tá. Mas a Geisa que eu conheço não se vestiria assim nem se a vaca tossisse ou falasse.

— Bem, talvez a vaca não, mas contra a Marina ninguém pode — eu estava parada, assistindo o mar de longe, as ondas indo e vindo, com o céu naquela escuridão. Era lindo. O Rio de Janeiro é lindo. Suspirei.

— Tá, ô, senta aí! Queria ter uma conversa contigo e te explicar toda a situação...

   Imaginei. Me convidar para vir pra praia foi uma bela jogada, mas era óbvio que o gênio dos planos infantis e das pegadinhas com o povo do morro, não iria fazer isso do nada e a troco de nada. Guilherme era esperto, e se eu estava aqui, eu poderia ser útil em alguma coisa, bastava saber no quê. 

     Ele e Luís não se davam bem desde a infância e agora, era nítido que pelos rumos diferentes deviam se evitar e se detestar ainda mais, mesmo que Guilherme não demonstrasse tanto o sentimento sobre o fato de seu primo seguir uma vida que ele odeia e sempre odiou.

— Por situação, se refere a sua profissão atual? Guilherme, não vou brigar por algo assim, você sabe bem que nunca gostei da vida do crime e o que ela trás, certo? Nós não gostávamos.

Inclusive ele. Mas ao que parece, isso mudou.

— Da vida do crime não, mas notei que os anos fora não mudaram esse sotaque seu aí... — ele sorriu  — Mas não, o assunto não é esse. É o LM, ele está se sentindo incomodado com minha presença aqui no morro.

DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora