Epílogo

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Olhei ao meu redor, mil pensamentos na cabeça, a saudade indo e vindo, as lembranças inundando minha mente, tornado cada parte de mim, feita de nostalgia em uma mistura quase que perfeita com o presente.

Um relacionamento nunca é fácil. Uma pessoa criada diferente de você, com ideias e opiniões, com gostos e desgostos, com graças e desgraças em sua história, cada um em seu contextos tão seu quando o meu era só meu.

Chega a ser louco pensar o que temos na cabeça, afinal? Nem nós mesmos nos estendemos e temos o egoísmo de trazer alguém para o olho do furacão e pedir que fique mesmo quando tudo cair. É tanta confusão e tantos acertos que aquilo que se torna tão improvável apenas se fortalece nos maus dias: o amor.

Atualmente, tudo anda tão perdido que, quando vemos algo ruim acontecer aceitamos como uma extensão de nós mesmos, o mínimo se torna o possível, e estar em cima do muro se tornou tão banal quanto a quantidade de pessoas vazias em cada esquina.

Sorri. Eu tive sorte, no fim que na verdade é só o meio. Tudo que passei, os momentos em que pensei que um final feliz não chegaria.

- Ei minha nega, que tá pensando? - João Matheus, o pequeno travesso que me olhava com seus olhinhos idênticos os do pai brilhando como esmeraldas esverdeadas com pequenos pontos castanhos, o cabelo cacheado e negro contrastava com a pele pálida e as bochechas vermelhas de tanto correr. Quatro anos de existência e já sabia me domar feito ninguém

- Tua nega, moleque? - o peguei no colo, deixando de lado a carne que eu temperava sobre a mesa do quiosque

- Sim mamãe, minha nega - ele sorriu sapeca - E a loirinha do papai.

- Porque tua nega hein nenê?

- Porque a dinda Mainana me chama e aperta minha bochecha bem assim - simbolizou em mim, com suas mãos gordinhas. Ficava totalmente boba quando ele falava certinho para logo após errar em alguma palavra. Isso me mostrava a criaturinha que tenho, tão esperto e fofo.

- E tu é o que da mamãe e do papai?

- O Cachinho.

- Owwwwn ti coisa fofa da mãe - afundei meu nariz em sua barriga cordinha, o fazendo ter uma crise de risadas cujo som era tão lindo que me insentivava a continuar

- Para mamãe - disse ele, me parando, e olhando-me como um homenzinho maduro teve a ousadia de me repreender - Eu sou um moço mamãe, não pode falar desse jeito comigo. Já sou homem feito.

- Ah é, e quem te disse isso hein? - sorri, o descendo de meu colo, para que não me atrasasse mais quanto a comida. Aqueles esfomiados não me esperariam nem que eu quisesse.

- Tio Guilherme.

- Tio Guilherme fala muita besteira.

- Nananinanão mamãe. Tio Guilherme é muito certinho. Papai diz que chega a ser irritante.

- Ah, ele diz? - semisserrei os olhos, observando pela janela do quiosque, o dito cujo esparramado na cadeira de sol, rindo com nossos amigos com uma cervejinha na mão.

- Sim sim - João diz, tratando de soltar seu sorrisinho maldoso. A peste adora quando eu puxo a orelha do pai

- E ai miga, é pra hoje? - a Voz de Vanessa soa alta e brincalhona, atraindo meu olhar, me fazendo perceber que junto com ela as mais novas gravidinhas do morro chegavam.

- Cadê o pitelzinho da tia? - Nicoly soou com a voz carinhosa, fazendo o pequeno corar

- Tia, assim não pode, a Luiza vai pensar o que de mim? - falou João nervoso, olhando ao redor com certo nervosismo no olhar, observando tudo ao seu redor como se esperasse alguém, como se esperasse ela

DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora