XXI

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Desde minha conversa com o Magrelo, a única coisa que fiz, por longos minutos, foi ficar parada em frente a janela, esperando, sei lá, uma estrela cadente aparecer e me fazer acreditar que unicórnios existem, pra descontrair da realidade de amar u...

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Desde minha conversa com o Magrelo, a única coisa que fiz, por longos minutos, foi ficar parada em frente a janela, esperando, sei lá, uma estrela cadente aparecer e me fazer acreditar que unicórnios existem, pra descontrair da realidade de amar um cara que é mal falado e dado como criminoso. Amado no morro, odiado fora dele.

Foi aí que, tão de repente, Guilherme apareceu, batendo na porta do meu quarto.

- Oxi, que faz aqui? Achei que não ia vir me buscar. A tia disse que cê tava ocupado e tudo mais.

- Sim, sim - ele passou a mão no cabelo, impaciente

- Que foi, Guilherme? Tá tudo bem? 

- Não, não tá. A gente pode conversar ali fora?

Estranhei.

-Tá okay. Só vou pegar meu casaco aqui. Quer conversar sobre o que?

- Ali fora, Geisa.

Oxi

Peguei meu casaco, e a chave da porta, que estava no bolso do mesmo. Com um Guilherme nervoso no meu encalço, abri a porta.

- Pronto, aqui estamos, que foi?

Guilherme pegou minha mão, me puxando para mais longe da porta, e me colocou contra parede.

- Eu hein, precisava disso tudo? - massageei a mão

- Geisa eu preciso que tu fale o que tu sabe. Agora.

- Que? Comassim?

- Não te faz Geisa!

- Êê ê, manera ai, bom rapaz. Já fui feita a dezoito anos, não preciso me fazer agora. Para de falar em códigos e manda a real.

- O que tu sabe sobre o LM? De onde ele consegue todo esse dinheiro? Como ele se banca? Ele tá roubando outro lugar? Porque ele não tá aparecendo como envolvido de assaltos por ai?

- Que?! Guilherme, vai na boa paz de Cristo, e me explica o que tá acontecendo? Porque tá nervoso assim? Porque saber disso agora? 

- Geisa, quem faz as perguntas aqui sou eu - falou, rudemente - Fala o que tu sabe, vai ser melhor pra ti.

- Tá me ameaçando, Guilherme? 

- Não tô ameaçando, Geisa. Mas cadê tua consciência? Não vai agir da forma correta? Tu sabe que ele é um bandido de merda, fala logo o que tu sabe.

- Guilherme, não tô gostando desse teu tom não. Acho melhor eu entrar, amanhã, quando tu tiver mais calmo,a gente se fala okay? Você parece estar fora de si. Vai pra casa, toma um banho, relaxa. Okay? - tentei  sair de perto, mas fui interrompida por um aperto forte no braço

- Você não vai sair daqui, Geisa!

- O que deu em ti, Guilherme? Isso é abuso de poder, e tu nem tá com farda! Tá ameaçando uma pessoa de bem, que nunca fez nada contra a lei?

- A partir do momento que tu é cúmplice de tráfico e roubo, você não é mais cidadã de bem, e sim ameaça pra sociedade.

- Guilherme, tu não tá falando coisa com coisa. Solta meu braço. 

- Fala logo o que tu sabe que eu te solto, Geisa.

- Tu não tem direito judicial algum pra fazer isso comigo, Guilherme! Me solta - tentei o empurrar, o que não adiantou de nada

- Geisa, age da forma certa e as coisas vão correr bem. Tu sabe que eu não vou te machucar, eu só quero a verdade!

- Não tem verdade nenhuma, Guilherme! Me solta ou eu vou gritar!

De longe, uma voz alta foi ouvida.

- LM - Guilherme constatou

E aí, tudo aconteceu rápido de mais.

Guilherme me empurrou com força contra a parede, segurou meu outro braço, e avançou contra minha boca, forçando um beijo.

Meu estado mental entrou em desespero, eu queria gritar, queria esmurrar, mas o medo se apoderou de mim. 

Eu simplesmente não conseguia fazer nada. Absolutamente nada.

O borrão foi ágil de mais. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não pude decifrar o que estava acontecendo. Ouvi barulhosmas eles pareciam longe de mais, fui solta do aperto de Guilherme, e senti ele se afastar de mim. Fui escorregando até a base da parede, me encolhendo, segurei meus joelhos e escondi o rosto ali.

Eu estava em choque, ao menos, essa era a explicação mais rápida pra minha fase catatônica. De encontro a parede, me forcei a respirar com mais calma. Aos poucos as coisas foram se normalizando dentro de mim, e eu pude limpar as lágrimas perdidas, e me levantar.

Mas tudo ao meu redor se resumia em caos.

Luís Felipe estava sobre Guilherme, o esmurrando sem piedade alguma. Me aproximei devagar, ainda com medo de alguma outra reação, eu não conseguia racionalizar direito as coisas, e isso me fazia sentir fora de órbita, e não de um jeito bom.

Quando cheguei perto o suficiente, percebi que Guilherme já estava quase desacordado, e que mesmo assim, Luís continuava a esmurra-lo seguidamente, sem demonstrar cansaço, apenas raiva, raiva, raiva e mais raiva.

- Luís - me forcei a falar, com a voz trêmula - Larga ele

Não surtiu efeito

- LUÍS! - chamei mais alto, coma  voz falha - LARGA ELE, LUÍS!

Nenhuma resposta.

Me aproximei mais.

- Luís larga ele - falei outra vez, sendo logo em seguida, surpreendida por um empurrão feito pelo cotovelo de Luís. Com o impacto, recuei dois passos para trás, com as mãos na região que se encontrava minhas costelas, ela ali que se ardia, pela força da batida

Luís pareceu acordar do transe de raiva, e olhou para trás. Seu olhos estavam ferozes, sua mão tinha um sangue que, pouco se misturava com o seu e com o de Guilherme. Ele então, se levantou, largando Guilherme de qualquer jeito contra o chão. Seus olhos me miravam, mais suavemente, mas ainda sim, eu via a raiva bem ali. A cada passo que ele dava, não pude negar a sensação de proteção que se aproximava. Pegando minha mão, ele me levantou com cuidado.

- Vai ficar tudo bem, Cachinhos. Vai ficar tudo bem - ele sussurrou

DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora