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— Então, conta aí

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— Então, conta aí. Guardou o anel barato que te dei? — ouvi sua voz por entre o som do trânsito e do vento.

Fazia um sol lindo no Rio de Janeiro. Um sol que abraçava o corpo e aquecia. Refletia como eu me sentia. Um dia lindo para um sentimento lindo. Tínhamos voltado e agora qualquer coisa poderia ser enfrentada.

Precisava mentalizar esse mantra com força, caso contrário, sabia que cederia a todos os pensamentos negativos que fervilhavam em minha cabeça desde o momento que o encontrei sentado atrás daquela mesa, naquela salinha horrível e cheia de péssimas memórias. Confirmando que de fato, Luís tinha entrado para a vida do tráfico.

Acenei a cabeça, tentando sorrir e jogando pra longe toda maré negativa que ameaçava me alcançar.
Luís já tinha encostado a moto, em frente a uma loja de Ballet, com faixada cor-de-rosa e branca.

— Barato? É prata. Você teve de ralar um monte pra conseguir. Ficou se gabando por um mês que tinha conseguido de forma honesta. — revirei os olhos, sorrindo, mesmo sabendo que ele não veria por de trás só capacete. Mas sua visera mostrou seus olhos castanhos esverdeados risonhos e infantis, quando ele virou rapidamente para trás, me olhando, mostrando que havia ouvido o que eu tinha dito.

Desceu com cuidado da moto, colocando o aparador contra o chão. Antes de tirar seu capacete, tirou o meu e me desceu da moto com igual cuidado. Tirou seu capacete, prendendo o meu na moto, dentro de uma redinha que, até então, eu não havia percebido. Pegou o seu, ajeitando no punho, e com a outra mão, enlaçou a minha.

— Tendo 15 anos e um pai bêbado, drogado e assassino, era um avanço, firmeza? 

— Claro — eu ri — 'Te contar que eu não sabia se ria ou se chorava te vendo catar latinha só pra me comprar um anel de namoro. Você falava cada bobagem. Dizia que eu iria te esquecer assim que embarcasse no avião. Como se fosse possível.

— Tu ia pra fora, viajar, conhecer gente nova e bacana. Esperava que eu não chorasse no seu ombro, sabendo que poderia encontrar alguém melhor?

—  Hey! — chamei, parando de observar as barras de metal de ballet dispostas logo próximo a entrada — Ninguém é mais que você, e ninguém é menos que você. Quantas vezes já te disse isso? E quantas outras vezes não te disse que meu coração te pertencia por inteiro?

—  Isso vale pra agora? — ele se aproximou mais, colocando seu rosto entre o vão do meu pescoço e me dando um cheiro bem ali. Senti meus pelos se arrepiarem e estremeci com o contato. O senti sorrir contra minha pele. Levantei a mão livre e, com o rosto corado, dei um tapa leve em seu ombro, o afastando do meu pescoço e daquela sensação perigosa que ele me causava.

— Isso vale pra sempre. — respondi com firmeza, o olhando nos olhos esverdeados brilhantes, para logo em seguida me focar novamente nas barras prateadas que ornavam a imensa parede.

—  E quando eu não merecer? — insistiu, como uma criança birrenta. O olhei, tomando a cabeça para o lado, como quem faz pouco caso de sua manha

— Você recupera o tempo perdido, tenho certeza

DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora