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"Você pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir"

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"Você pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir"

— Anônimo.

Quando meus pés tocaram o chão do aeroporto, pude sentir que eu havia concluído muito mais do que eu imaginava. Naquele breve momento, enquanto descia do avião, um frio se alastrou por meu corpo, e senti meu estômago dando gambalhotas. A sensação era como ser esmagada e apertada, como em um abraço ansioso e angustiado.

O que viria agora e quais seriam meus próximos passos, eu não fazia ideia.  Planejei tantas coisas, pensei em tantas outras, mas nada parecia ter me preparado para o que viria agora.

Não quando o pensamento que mais rodava pela minha cabeça, era a certeza de que o veria de novo. Aquele que eu me recusava a nomear, mesmo que só em pensamento. Aquele que era proibido nas conversas entre amigos, tal qual o nome de Valdemort era em Hogwarts.

Dentro de mim, eu ansiava por isso, por vê-lo. De uma forma desesperada e, na mesma medida, temerosa.

Viver longe de seu país natal me expôs a alguns riscos que precisei encarar de frente. Tive receio e, por vezes, me senti só.  Principalmente ao perdrr contato com o Inominável.

Agora, a sensação era de alívio, de missão cumprida, um sonho realizado, que valeu a pena investir tempo, esforço e perdas necessárias. Foi a certeza de que, lá de cima, minha mãe teria orgulho de me ver aqui, hoje, tendo conquistado muito mais do que aquela menina de periferia achava que conseguiria. Muito mais do que nos meus sonhos mais loucos, imaginava poder.

Dançar era minha paixão desde muito nova. Crianças por si só, adoram se movimentar, extravasar a energia caótica e divertida, a sede por novidade, que tem dentro de si.

Mas para mim era diferente. Dançar era tudo. Era como tocar o céu, meu pequeno pedaço de paraíso, em meio a um ambiente que, por vezes, podia ser um inferno.

Eu me imaginava sim, dançado em um palco, sendo aplaudida, ganhando dinheiro com algo que encheria meu coração. Mas jamais imaginei que a dança me levaria para fora do Brasil.

— GEEEEISAAAAAAA — uma voz que eu conhecia muito bem me chamou, ecoando no salão amplo e pouco movimentado do aeroporto

Era uma terça-feira de sol no Rio de Janeiro, uma leve brisa fria soava. Meu casaco rosa já estava colocado sobre a mala, que eu segurava nas mãos. A calça legging preta soava cada vez mais como uma escolha acertada para aquele clima, junto com a regata igualmente preta e fresca que abraçava meu corpo.

Dei uma leve risada, antes de virar minha cabeça em direção a área de desembarque do aeroporto. Lá estava ela, a mulher que eu seria capaz de reconhecer em qualquer lugar do mundo. A imagem da mulher negra, de quadril largo, sorriso branco brilhante, cabelos negros cacheados amarrados no alto da cabeça, fez meu coração afundar, e minhas pernas se movimentarem rapidamente, em sua direção.

DE VOLTA AO MORRO - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora