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WOOYOUNG




– Coma mais batatas, querido. – Mamãe diz, apontando para a tigela na minha frente. Não sei porquê ela  está sugerindo que eu repita a porção, mas não discuto.

– Obrigado, mãe – Mesmo que eu não esteja olhando, eu sei que ela e o meu pai estão compartilhando um olhar, eles acham que eu não noto o quão cuidadosos eles estão sendo ao meu redor, como se eu fosse uma peça de porcelana na qual eles estão com tanto medo de quebrar que nem se aproximam.

Pego o garfo e continuo remexendo a carne no meu prato sem muito interesse, esperando que o jantar termine logo para que eu possa ir para o meu quarto e desligar a máscara de minhas emoções por um tempo. Fazem cinco dias desde que cheguei do hospital, sete que acordei depois do acidente no gelo, e oito que San está em Nova York.

Ainda não sei como consegui quebrar minha perna com aquele salto. Mas acordei no hospital sentindo a dor que era muito real.

Um dia depois dele ir. Meu relógio biológico não poderia ser mais filho da puta se pudesse. Ele provavelmente ainda estava no avião quando eu acordei confuso como um animal cego e  dolorido como nunca senti antes, demorou mais algumas horas até as lembranças chegarem até mim e meu cérebro conseguir reunir tudo direito na minha cabeça. Não gosto de pensar no que aconteceu, no que eu falhei e no que perdi, e é bom que eu não lembre de tudo, assim eu consigo superar e seguir em frente.

Eu lembro de muita pouca coisa sobre aquele dia. Meu médico, Seungsik avisou que séria normal dado ao trauma que a queda foi e a pancada na cabeça. As dores de cabeça são o lembrete diário disso, mas há algumas coisas que eu lembro, não sei como, mas ouvi muitas vozes quando estava desacordado e não questionei ao meu irmão porque as coisas entre nós dois estão um pouco borradas no momento.

Yeosang tem muitas opiniões próprias que eu não estou interessado em seguir.

O que me leva de volta a ele. Faz dias que San e eu não nos falamos. Na verdade, que eu não falo com ele. Eu sei disso porque há algumas mensagens não lidas e ligações não atendidas. O fuso horário me ajuda com as desculpas, a recuperação em outras. A fisioterapia realmente me deixa em pedaços, eu sinto que ocasionalmente meu crânio vai rachar, a fadiga é contínua ⏤ eu só vou de menos exausto para mais exausto e de volta a exausto, mas não é por isso que eu escolhi ignorar ele nos últimos dias.

Dentre as coisas que eu lembro durante o período desacordado estão suas palavras.

"Eu escolheria você, em cem vidas, em cem mundos, em qualquer versão da realidade, eu te encontraria e escolheria você."

E eu sei que ele faria exatamente isso. Porque isso é tão San que é assustador. Eu sei que ele seria capaz de desistir da viagem pra ficar do meu lado mesmo que ele não soubesse que no dia seguinte eu acordaria, e foi o que Yeosang disse que ele faria se não tivesse o ameaçado de deporta-lo numa caixa para Nova York ele mesmo. O que ele mesmo me disse, quando depois de chegar lá, a primeira coisa que fez ao saber da notícia de que eu tinha acordado foi pensar em voltar para Seul.

Claro que ele ficaria por mim.

Mas eu fui sério quando eu falei que não ficaria entre ele e o seu sonho; jamais me perdoaria se fosse a razão dele não aproveitar cada segundo do momento incrível que ele está vivendo  e por mais que doa saber que ele provavelmente vai ficar lá, pois  quem seria o time idiota de deixar o seu talento passar, e que eu vou continuar do outro lado do mundo, eu estou feliz por ele. Tudo está perfeito. Mesmo que agora, ele não esteja mais do meu lado.

Tudo está perfeito até eu me pegar sozinho, pensando sobre ele. Porque quando ele não está por perto eu me sinto vazio. Mas eu preciso me preparar para o que vai acontecer. Pra quando não formos mais nós dois.

The thin ice; woosan Onde histórias criam vida. Descubra agora