Destinados

Capítulo 12 - Cecília

Seis da manhã. Não consegui dormir muito bem. Sonhos me atormentaram.
Em um dos sonhos eu sentia muito medo, dor e angústia.
Eu corria, corria desesperada, chorava e as vezes colocava a mão no peito como se a dor viesse dalí, como se meu peito fosse se partir em dois.
Não sabia se o ar me faltava pelo esforço em correr ou se pela dor que sentia em meu peito.
Meus olhos pareciam cachoeiras que não paravam nunca de verter água.
As vezes eu olhava para trás enquanto corria, e então eu me sentia triste.
Eu corria só, por um caminho que parecia não ter fim, não havia mais ninguém lá, então uma pergunta veio a minha mente.
"De quem ou de quê eu corria?"
Não sei!
Mas quando acordei, uma profunda tristeza tomou conta de mim.

Tomei meu café, peguei minhas pastas, olhei por algumas vezes a cama, a mesa, a bolsa, com a sensação de que estava me esquecendo de algo importante.
Mas não, tudo que eu precisaria para o dia estava lá, em ordem.
Então saí e fechei a porta, ainda com aquela sensação estranha de que algo faltava.

Os pacientes da manhã comparecem sem atrasos.
Tudo está em ordem, mas a tristeza e angústia sentidas no sonho permanecem comigo.
Algumas vezes sinto vontade de chorar, em alguns momentos as lágrimas vieram sem minha permissão, sem aviso, e elas caíram.

Saio para o almoço, ando meio sem rumo, vou até o parque, estou com os fones, coloco minha playlist "Inspiration Songs", ela me acalma, mas também me conecta a mim mesma, aos meus sentimentos mais profundos e ocultos, aqueles que muitas vezes eu ignoro, mas que meu subconsciente conhece bem, é quando eu os ouço, é quando me compreendo e me acolho.
Sentei-me em um dos bancos, enquanto as músicas tocavam suavemente em meus ouvidos eu prestava atenção nas pessoas que passavam por ali, algumas apressadas, outras conversando animadamente, alguns estudantes, outros solitários como eu apenas transitavam ou sentados também assistiam o movimento da vida acontecendo.
Casais apaixonados de mãos dadas eram os que mais gostava de observar.
Eles sorriem entre eles de uma forma única, sorrisos que conversam entre si, e que adoro observar e tentar decifrar o que dizem.
Meu pai dizia quando eu era pequena que eu tinha múltiplos sorrisos e que ele conhecia cada um deles, e ele realmente conhecia, meu pai era o meu "tradutor de sorrisos."
Quando me dava um presente que eu queria muito ele dizia "Esse é o sorriso de: "Como vc sabia que eu queria tanto isso?"
Ou quando eu estava triste e queria disfarçar me fazendo de durona, ele dizia " Este é o sorriso de: "Não está tudo bem, mas não quero te preocupar".
Ou quando eu estava apaixonada e sorria para o vento, ele dizia "Esse é seu sorriso mais bonito, e o que me causa mais medo".
E eu perguntava "Por quê, papai?"
E ele dizia:

_ Porque quando vc sorri assim, a inocência do seu coração sai pelo seu sorriso, vc ilumina todos os cantos com cada um deles e aí eu sei que é porque o amor está fazendo vc sorrir.

_Mas isso não é bom, papai?

_ É sim minha filha. Mas eu te amo, e tenho medo de que vc se machuque. Quando vc sorri assim é contagiante, e parece que o amor está em todos os lugares, tudo fica mais bonito, mais quente, mais colorido, até para quem está perto de vc.
Mas, meu medo de ver vc sofrer me faz querer chorar quando a vejo sorrindo assim.
Mas não desejo que deixe de dar esse sorriso, desejo que vc dê muitos desses sorrisos, ainda que eu morra de medo.
Eles são tão lindos que sei que um dia alguém vai se encantar por eles e vai querer ver vc sorrir assim todos os dias e vai lutar para que cada sorriso desse seja apenas dele.
É que até lá, eu sei que vc vai chorar um pouco depois de dar alguns desses sorrisos à homens que não o merecerão.
Mas eu estarei aqui, para te lembrar o quanto eles são lindos e valiosos.

_Obrigada, papai!

_ Vc sabe qual é o meu sorriso favorito?

_Nao, qual é?