Capítulo 32

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Cecília me convida para entrar, mas decido que seria melhor irmos para outro lugar, preciso contar a ela as coisas que omiti, sobre mim, sobre Marcela, eu havia começado do jeito errado e agora precisa reverter isso e contar com a sorte de que ela entendesse e desejasse continuar ao meu lado mesmo assim. Mas era algo que não podia esperar mais para ser feito.
Vamos até a cafeteria, peço dois cafés e começo:

_ Cecília, preciso te contar algumas coisas que não serão fáceis de dizer e nem fáceis de escutar, peço que por favor me escute antes de me julgar, depois que eu terminar, prometo que respeitarei sua decisão.

_ Meu Deus, Bernardo! Vc está me assuntando. Está tão sério. Acho que nunca te vi tão sério assim.

_ Cecília, eu não fui completamente honesto com vc. Vc nunca me perguntou, e eu omiti. Mas quando nos conhecemos eu não era um homem solteiro, eu tinha uma noiva. Marcela, é o nome dela. Já estávamos juntos há quatro anos. Nunca foi um relacionamento fácil, no começo eu gostava dela, mas com o tempo nossas diferenças foram ficando maiores que nossas afinidades e posso dizer sem orgulho nenhum do que fiz que acabei permanecendo nesse relacionamento porque era bom para mim financeiramente e socialmente falando. O pai de Marcela é dono de mais da metade das ações da empresa onde trabalho. Com tempo ganhei espaço, dinheiro, status e comprei algumas ações da empresa, tudo isso em grande parte, devido ao meu relacionamento com Marcela.
Eu achava que era isso que eu queria para minha vida. Ter poder e dinheiro, para nunca ser humilhado por ninguém. Para que eu pudesse ter o controle sobre pessoas e sobre a minha vida eu acreditava que isso era o necessário e fiz tudo e qualquer coisa para chegar lá.
Dei o melhor de mim, sim. Mas também sei que se não fosse por meu relacionamento com Marcela eu não teria chegado onde cheguei.

Eu não acreditava no amor, acho que porque ainda não tinha sentido. E quando não conhecemos algo, ignoramos sua existência e até duvidamos daqueles que dizem sentir.
Mas aí eu conheci vc. E tudo mudou, eu mudei.
Senti coisas com vc nunca sentidas antes, experimentei sensações que jamais tive e o sentimento que antes duvidava existir agora tenho certeza que existe porque o sinto por vc.
Então, por medo, medo de que vc se afastasse ao saber o que eu escondia, eu não te contei e me permiti viver tudo aquilo que vivemos.
Porém, voltei de Campos do Jordão decidido a por um ponto final em meu noivado.
E foi o que fiz hoje.
Marcela e eu conversamos, uma conversa dura e franca. Contei a ela sobre vc, que me apaixonei, que não foi culpa sua, que vc nem ao menos sabia que eu era noivo, e que não podia mais continuar com ela sentindo tudo o que sinto por vc.
Dizendo assim, parece ter sido simples, mas não foi. Nunca é com Marcela. E sei que não será depois dessa conversa toda, sei que não aceitará assim e que vão acontecer muitas coisas ainda, mas estou disposto a enfrentar para ficar com vc.
Isso se mesmo depois de saber dessas coisas, vc ainda me quiser.
Não fui correto, mas desejo ser de agora em diante.

Paro de falar e a observo, parece estar em choque com o que acabei de contar, ela observa os nós dos dedos, e depois me olha e diz:

_ Vc deveria ter me dito, vc sempre soube de Tiago, eu nunca te escondi, mas vc me escondeu que era noivo. Enquanto eu achava que estava me apaixonando por alguém que estava livre para ser meu se assim desejasse. Não me disse que havia outra mulher e nem que eu corria o risco de me apaixonar e me machucar por causa disso. Vc apenas deixou que acontecesse para depois ver o que fazia, se assim fosse melhor para vc. Vc foi egoísta, pensou apenas em si mesmo. Não calculou os danos para as outras pessoas.

Há mágoa no olhar de Cecília, eu ainda não conhecia aquele olhar, e ele doía quando ela olhava nos meus, como se ela já não confiasse mais em mim, e que eu tinha cruzado uma linha invisível que não deveria, a linha que rompia a confiança e passava a ser um desconhecido outra vez.

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