Capítulo 37

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Passo em minha casa, para trocar de roupa.
Sigo para a empresa.
Ao chegar em minha sala me deparo com a surpresa.
Minhas coisas estão em uma caixa e a mesa está vazia.
Chamo a secretária que vem correndo, mas junto com ela chega Otávio, pai de Marcela.

_ Bom dia, Bernardo.

_ Otávio, o que está acontecendo aqui?

_ Vc não trabalha mais aqui.

_ Como assim? Eu não apenas trabalho aqui, também tenho parte nas ações.

_ Como empregado, vc não trabalha mais aqui. Como acionista, vc não é necessário aqui, apenas precisará comparecer às reuniões e se for convocado ou convidado.
No mais, seus serviços foram dispensados.

Paro com as mãos na cintura e dou uma risada.

_ Ah, estou entendendo. Foi Marcela, não foi?
Ela te contou que terminamos.

_ Claro! Ela é minha filha. Por acaso achou que iria fazer o que fez e ainda terminar com minha filha e continuaria trabalhando aqui, na minha empresa, empresa essa que será dela no futuro?

_ Apenas achei que o senhor fosse mais profissional, e sendo, desse valor ao trabalho que sempre executei e executo aqui.

_ Ora, rapaz. Bons profissionais tem aos montes por aí. Vc não é insubstituível.
Deixou que o dinheiro e o poder que vieram com minha filha te subissem demais a cabeça e se esqueceu que vc não é ninguém sem ela.

_ Ótimo. Pois muito bem. Sendo assim, estou me retirando.

_ Bernardo!

Antes que eu saísse pela porta ele me chama. Uma voz firme e fria. Paro e me viro para ele que diz:

_ Vou te dar uns dias para pensar. Por enquanto são só férias. Reflita durante elas. Goze sua vida com essa mocinha que encontrou por aí.
Depois, reflita no que está perdendo.
Deixe-a e volte para Marcela e então poderá voltar a ocupar o seu lugar.
Senão, além de não trabalhar mais aqui, eu cuidarei para que não encontre trabalho em lugar nenhum.

_ Está me ameaçando?

Pergunto.

_ Não, por enquanto é apenas um aviso.

Saio. Entro no carro e dirijo sem rumo.
Mais uma vez fui otimista demais.
Primeiro com Cecília, acreditando que ela me entenderia.
E agora com Otávio.
Sinto que o controle da minha vida está escorrendo pelas minhas mãos como água.

Soco o volante. Estou furioso.
O que estou fazendo?
Será que tudo isso vale mesmo a pena?
Vou perder tudo! Otávio não está brincando e sei que ele é capaz disso.
Mas como continuar escravo desse compromisso com Marcela?
Eu teria que viver isso para sempre.
Eu não consigo mais. Não consigo. Não aguento.
E Cecília?
Eu a amo. Como poderia viver com Marcela amando Cecília?
Como poderia seguir minha vida sem nunca mais vê-la, sem nunca mais toca-la.
Por quê tem que ser tão difícil assim?
Por quê não pode ser fácil?
Por quê?

Soco de novo o volante.
Vou para casa.
Pego uma garrafa de whisky e me sento na varanda com ela.
Bebo, bebo como nunca.
Estou confuso e irritado.
Não gosto dessa sensação.
Tudo muito novo. Novo demais.
Nada está no lugar desde que conheci Cecília. Mas ao mesmo tempo, dentro de mim tudo está no lugar certo, antes é que não estava.
Mas mesmo sabendo disso, toda essa mudança me deixa transtornado.
O desconhecido me incomoda.
Sinto que estou rompendo barreiras que eu mesmo coloquei, mas rápido, rápido demais. E quando as coloquei demorei, por isso não senti.
Mas agora que as vejo cair tão rápido, me incomodo.
É um querer, não querendo.
É saber que é necessário, mas não querer.
É chutar e segurar ao mesmo tempo.

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