Capítulo 26 - Nós

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Domingo, último dia da viagem.
Hoje me bateu um medo de que tudo acabe.
Depois do show de ontem ficamos ainda mais grudados um no outro, na noite anterior dormimos na biblioteca e nessa noite dividimos o mesmo quarto, a mesma cama, o mesmo corpo, e acho que até a mesma alma.

Ainda sinto o cheiro dele em mim.
Ele está dormindo, tranquilo. Sorrio ao vê-lo na cama, nu entre os lençóis.

Me olho no espelho do banheiro e vejo que a noite passada não me deixou marcas apenas na memória, mas também no corpo.
Memórias da noite passada me vem, do toque suave dos dedos dele ao tirar as alças do meu vestido, dos beijos no meu ombro, mas costas, no cóccix. Da minha cabeça que girava a cada beijo e a cada sensação da boca dele no meu corpo.
Pude enfim tirar-lhe o terno, desabotoar todos os botões daquela camisa que mexeu com minha imaginação durante todo o show.
Meus seios nus, despidos pelo vestido que parado estava em minha cintura...
O sentei na cadeira da penteadeira, puxei as saias do vestido e me sentei por cima dele, encaixando meu corpo ao dele, no movimento lento e quente de nossos corpos , agarrei-lhe os braços que ainda estavam vestidos com as mangas da camisa, mas que deixa a mostra o peito nu, beije-lhe o pescoço, mordi-lhe o dorso...
Ele agarrou-me os cabelos, puxando minha cabeça para trás, deixando meu pescoço exposto e livre para que ele fizesse o mesmo.
Tirei-lhe a camisa, agarrei ainda mais seus braços, e cada vez que o prazer aumentava sentia que o apertava mais, que meus dentes e lábios perdiam o controle em seu ombro e sentia que os dele também se perdiam no meu...

E não foi um sonho. Meu ombro me diz, ao olhar-me no espelho.
Dou um sorriso travesso e mordo meu polegar.
Olho para ele imaginando que talvez minhas unhas tenham feito um estrago maior em seus braços e costas.

Ele se mexe na cama.
Abre os olhos...
Decido brincar com ele...
Coloco "Escape" Rupert Holmes, pra tocar e faço charminho dançando na porta do banheiro.

Ele está rindo, gargalhando.
Se senta na cama, gira o travesseiro, como se quisesse participar da brincadeira e começa a cantar a música.
Então, faço sinal com o dedo indicador o chamando.
Ele engatinha sobre a cama e vem até mim que estou de pé na ponta.
Me puxa pela cintura e caio na cama sobre ele. Rimos, rimos muito.
Ele me gira, agora estou em baixo dele.
Ele fica sério de repente, me olha nos olhos por um tempo que me pareceu longo, muito longo, e então disse:

_ Estou com medo. E é a primeira vez que sinto medo desde que cresci. Desde que entendi que não há monstros no armário, que fantasmas são pessoas tristes e não fazem nada mais que chorar. Desde que quebrei a perna e pensei que não poderia mais jogar futebol, ou que não passaria de ano...
Depois que cresci, achei que tinha ganhado o mundo e me tornei confiante, confiante demais pra sentir medo de perder qualquer coisa...
Mas agora, eu sinto um medo muito maior do que os que eu senti um dia, eu tenho medo de perder você, e ao perder vc, me perder de mim.
Tenho medo de que ao sair desse quarto, desse hotel a vida real nos afogue e nos mate.

Eu seguro seu rosto com minhas mãos e digo:

_Eu também tenho, tenho medo de nunca mais sentir o que sinto quando estou com vc.
Medo de deixar esse lugar e descobrir que o que vivi foi um sonho e nada mais.

Os olhos dele estão olhando os meus, mas o branco, ganhou um tom avermelhado e lágrimas brotaram deles.
Percebo que os meus também fazem o mesmo.
E agora nossos olhos aprenderam uma nova linguagem, as lágrimas...

Ele me beija, eu o beijo.
O doce dos lábios com o salgado das lágrimas...

A trilha sonora utilizada para a escrita desse livro e músicas citadas em capítulos estão disponíveis em uma playlist de mesmo nome no Spotify. O link está disponível logo abaixo.
Vc pode ouvir enquanto lê!

https://open.spotify.com/playlist/5yZi7RLihaORb1kvti11Ry?si=1P5SW6oASluB4ChRhVQZ8w

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