Destinados

Capítulo 31 - Bernardo

Passamos na casa de Cecília para deixar sua mala.
Percebi que ela usa o chaveiro com a xícara que dei a ela. Isso me deixou feliz de um jeito inexplicável, a forma como uma coisa tão simples que a dei, a deixou tão feliz e teve importância a ponto de carregar consigo.
Conheci também sua irmã, Clara. Ela é muito simpática e autêntica, assim como Cecília, mas Cecília tem uma doçura diferente da irmã, uma ingenuidade difícil de se encontrar nas pessoas hoje e isso me encanta.
Deixei Cecília no trabalho e segui para o meu. Quanto mais ficava próximo o momento de me despedir de Cecília, mais próximo estava também o meu encontro com Marcela e isso me deixava nervoso, talvez por isso tenha me esquecido de marcar de vê-la outra vez, mas mandarei mensagem depois.

Fui direto para empresa. E pouco tempo depois Marcela apareceu.
É lógico que alguma das secretárias a comunicou de minha chegada e ela não perdeu tempo.

Entrou sem ser anunciada, com sua roupa perfeitamente elaborada e elegante, seus cabelos loiros presos em um coque baixo, sem um único fio fora do lugar, seus saltos que faziam tanto barulho quanto sua arrogância. Tudo nela naquele momento me irritava, pois me lembrava do frescor oposto de Cecília. Me lembrava da vida real que tinha e não queria mais ter, e do quanto eu só queria sair dalí e correr ao encontro de Cecília.

_ Então resolveu voltar? Por onde esteve? Por acaso acha que não me deve satisfações?

Ela diz com os braços esticados sobre minha mesa me encarando.
Me levanto, tentando manter a calma e digo:

_ Bom dia para vc também, Marcela. Estou bem e vc?

Ela vem em minha direção, se aproxima me beija e eu me esquivo.
Está com cheiro de perfume de mulher, e não é o meu!

_ Marcela, preciso trabalhar, podemos conversar a noite? Tenho uma reunião importante agora.

_ Não, nós vamos conversar agora. Não vou mais esperar.

_ Deixe de ser mimada, Marcela. Isso aqui não é sua casinha de bonecas que vc faz como bem quer. É meu trabalho.

Meu sogro, entra me apressando para a reunião e sinto um alívio. Salvo! Por enquanto!

_ Bernardo, trouxe o contrato da construtora? Precisamos resolver tudo isso hoje. Vamos!

_ Ora, papai, não pode liberar Bernardo dessa reunião? Preciso resolver umas coisinhas com ele. Por favor!
Marcela se aproxima do pai fazendo beicinho e o beija.

_Querida, vc sabe que sempre faço o que quer, mas dessa vez não poderei. Preciso de Bernardo nessa reunião, foi ele quem fez a negociação e só ele está a par das cláusulas. Sinto muito. Terão que conversar depois. Mas tenho certeza que não é nada tão importante assim, afinal, Bernardo é um excelente rapaz e jamais magoaria minha garotinha perfeita! Não é mesmo, Bernardo?

Ele diz me lançando um olhar ameaçador.
Eu entendo o recado, sempre entendi. Desde o começo quando Marcela e eu começamos a nos relacionar eu sabia o que ganharia com isso e os riscos que corria, porém não medi as consequências, apenas fui em frente, eu só pensava no quanto lucraria com esse relacionamento e não me importei com o resto, não pensei que um dia tudo isso deixasse de ter a importância que tinha ou que me apaixonaria por alguém como Cecília, alguém que não pertence a esse mundo.
Então, apenas assinto com a cabeça e saímos.

Marcela me grita quando já estou no corredor.

_ Nos vemos a noite. Não se esqueça!

_ Claro.
Respondo.

O dia passa, acordos são assinados, ligações são feitas, contratos são lidos, mas meus pensamentos vão sempre até Cecília. Penso nela o tempo todo, me lembrando do fim de semana, de cada conversa e de cada sorriso que ela me deu. Não consigo tirar aquele sorriso da cabeça. Ele está lá o tempo todo. E também sorrio ao pensar nela.
Mas penso também em Marcela, nesses momentos um calafrio me percorre a espinha, meu estômago embrulha, porque sei o que enfrentarei hoje a noite, já passei por isso antes. Mas não como será hoje. Hoje será definitivo.