Capítulo 30 - Cecília

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Despedir-me daquele lugar foi difícil, o sentimento era parecido como me despedir do lugar onde passava as férias quando criança, mas também sentia que tinha ido até alí resgatar uma parte minha que havia esquecido e agora voltava com ela para casa.
O sentimento era tão bom que a viagem de volta foi leve e queria que não chegássemos nunca.
Cantamos, conversamos, brincamos um com outro e rimos, rimos muito. Embora vez ou outra sentia Bernardo distante, pensativo, mas acho que eu também ficava assim as vezes e tentava arrancar tanto dele quanto de mim os pensamentos intrusivos.

Chegamos ao meu apartamento, preciso deixar minha mala e ir para o trabalho.

_ Posso subir e te ajudar com a mala?
Ele pergunta.

_ Claro. Não só pela mala, mas quem sabe minha irmã ainda esteja em casa e vcs possam se conhecer.
Vem!

Entramos no elevador, estamos sozinhos e brinco em um tom malicioso:
_ Adoro como elevadores e casais tem uma sintonia misteriosa, silenciosa e provocativa.

_ A senhorita não deveria me provocar assim, corre o risco de deixar seus pacientes sem atendimento hoje.
Ele sorri, um sorriso de lado enquanto se aproxima lentamente. Mas o elevador para e um morador entra. Ele se afasta e rimos.
Chegamos, pego minhas chaves e ele diz:

_ Que lindo chaveiro. Imagino que deve ser especial já que guarda as chaves de sua casa. Não é mesmo?

_Gostou, é? Ganhei de um admirador secreto. Acho que ele também deve gostar de café.
Digo balançando o chaveiro no ar, era o chaveiro com a xícara que ele havia me enviado com o bilhete pedindo para me encontrar.
Dou um sorriso irônico.
Ele me agarra e me beija.

_ Será que devo ter ciúmes desse admirador?

_ Seu bobo. Eu gostei do chaveiro. Vc foi criativo, gosto de coisas criativas. Então, continue sendo criativo e não precisará ter ciúmes.

Ele me dá mais um beijo, abro a porta e chamo por Clara:

_Clara? Está em casa?

_Ora, ora! Então está viva! Achei que precisaria ir até a delegacia fazer um boletim de desaparecimento.
Clara diz vindo da cozinha com uma xícara de café na mão.

_Vejo que o amor por café é de família!
Bernardo diz, tentando ser simpático!

_Clara, esse é Bernardo! Bernardo, essa é Clara, minha irmã.

_ Então é vc o sequestrador de livros e irmãs?
Diz Clara estendendo uma das mãos para Bernardo.
Percebo que ele cora, e sorri desconcertado.

_Clara!
A repreendo!

_Perdoe minha irmãzinha, Bernardo. Ela cresce mas não perde o ciúme e nem as manias de irmã mais nova.

_ Qual é Cecília! Estou brincando!

_ Tudo bem, Cecília! Gosto desse jeito de vcs! E se sua irmã é assim, percebo a quem ela puxou, não é mesmo?

Clara, que acabara de colocar um gole de café na boca quase o cospe com uma risada ao ouvir isso.

_ Já gostei dele! Precisa me contar mais sobre isso! Conseguiu tirar minha irmã da caixa, é?

_ Caixa? Como assim?
Ele pergunta meio sem entender.

_ Clara, deixe de atormentar Bernardo!

_ Não, não, não! Eu quero saber!

_ Estou com pressa, vou até meu quarto pegar umas coisas e saímos, ok.
Deixo os dois na sala e vou para o quarto.

Ouço os dois conversando e rindo. Bernardo contando a Clara sobre o passeio no shopping, os pijamas, o karaokê e ela rindo dizendo que não acreditava que finalmente eu tinha voltado ao normal.

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