Capítulo 62

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Pegamos a estrada, rumo a lugar nenhum.
A ideia surgiu do nada, durante um café da manhã.
Bernardo sugeriu que apenas fizéssemos uma pequena mala, e decidiriamos no trajeto para onde ir.
Mais um fim de semana vivendo o inesperado de forma incrível, como tudo que existe entre nós.
Quando a loucura é recíproca, o amor se torna extraordinário.
E acho que é isso que existe entre nós, duas loucuras que se colaram e tornou o amor extraordinário.
A verdade é que eu iria pra qualquer lugar, desde que fosse com ele, pois sei que não é o lugar, é ele.
Então, a idéia nos pareceu tentadora demais para não executar e isso nos rendeu boas risadas. Parecia loucura, mas uma loucura que renderia histórias para o futuro.

- O que coloco na mala?

Perguntei. E ele disse:

- Não sei.
Um pijama, um biquíne, uma roupa para sair, uma roupa do dia a dia, um casaco, e coisas de higiene pessoal.
Acho que isso deve ser o suficiente, o resto a gente improvisa. Porque o interessante será a parte do improviso.

Começo a rir muito disso e digo:

- Nós somos dois loucos.

- Somos! E é essa a mágica entre nós!
É o nosso " Vamos? Vamos!", sem nem mesmo pensar para onde.
Só precisamos saber como começaremos.
Uhn, litoral ou interior?

Ele pergunta.

- Já visitamos o interior, fomos para Campos do Jordão. Então dessa vez sugiro o litoral.

- Ótimo! Então coloque na bolsa coisas para praia.

E foi assim que essa viagem começou.
Sem destino, mas isso não importava, o que importava era a companhia e a nossa era a melhor.
No carro vamos escutando nossas músicas favoritas, até que uma que ainda não havíamos escutado juntos toca. Era AnaVitoria.
Então eu digo:

-Gosto muito das músicas delas. As letras são lindas, a voz é suave e me trazem uma sensação muito boa.

- Eu não conheço.

-Eu amo essa.

Digo quando começa a tocar Fica.
Eu canto do começo ao fim.
Quando ela termina ele coloca pra tocar de novo, igual quando lhe mostrei Crusin, na viagem de Campos do Jordão.
Por fim, estávamos os dois cantando Fica sem parar ou enjoar.
Penso que não somos mesmo normais. Mas que bom que nossas loucuras são iguais.

- Eu nunca li Mel & Girassóis.

Digo.

- Oi?

Ele pergunta sem entender.

- Elas citam isso na música. Não sei se é um texto, poema ou livro. Mas se chama Mel e Girassóis, de um escritor chamado Caio.
Acredito que seja o Caio Fernando de Abreu.
Já li algumas coisas dele, mas esse não conheço.

- Procura aí no Google para descobrirmos então.

Eu procuro e encontro.

- Tem um livro com esse nome. São contos e tem um conto com esse mesmo nome. Oito capítulos.

- Acho que temos tempo. Vc poderia ler em voz alta enquanto dirijo.

- Está falando sério?

Pergunto rindo.

- Estou, ué.
Se a música parece com a gente e foi inspirada nesse conto, nada melhor do que vc lermos, eu estou dirigindo, então vc lê em voz alta, e temos tempo.

Ele abaixa o som do carro e eu começo a ler.
Vez ou outra comentamos sobre o que leio e rimos.

-Olha só, eles se conheceram em uma praia, e estamos indo para uma. Que leitura sugestiva. Não?

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