Destinados

Capítulo 52

- Preciso entrar, já está tarde.

Digo, depois de nos beijarmos.

- Não pode ficar mais um pouco?
Temos muito para conversar e não quero ficar longe de vc nem mais um minuto.

Bernardo diz segurando minha mão com força, como se suplicasse por mais tempo.

- Temos muito a conversar. Mas não hoje.
Hoje estamos com as emoções a flor da pele, vamos falar do que o coração está cheio, mas corremos o risco de ignorar a realidade por causa disso. E não posso fazer isso comigo de novo.
E não é por mim, sei que qualquer coisa que eu te disser agora já foi pensado antes, já passou pelo filtro das emoções, e as tenho como certas.
Mas vc, não. Vc ainda está agindo no impulso, está falando atravéz do impulso da emoção que te fez largar tudo, talvez por um momento e correr até aqui.
Vc precisa acalmar o coração, filtrar suas emoções, deixar que o impulso passe e pensar no que fez e no que fará daqui pra frente.
Por mais que eu te ame, Bernardo, não posso deixar que sua confusão me bagunce outra vez.
Vá para casa, durma, descanse, pense. Reflita sobre nós e sobre sua vida.
E só volte a me procurar se tiver certeza do que quer.
Foi bom vê-lo, e se por acaso, depois de pensar sobre tudo isso, se arrepender de ter vindo até aqui. Vou perdoa-lo por isso, vou entender que foi um impulso e que isso é humano.
Não terei nada para me arrepender se vc for embora agora e não voltar mais.
Mas se ficar, se falarmos tudo que estamos sentindo, se fizermos planos para o futuro, se nos amarmos e depois disso, vc for embora, e depois de pensar, se arrepender e não mais voltar, eu terei do quê me arrepender para sempre.
Me arrependerei de ter confiado em vc, de ter te entregado meu coração mais uma vez, de colocar vc em meu futuro de novo, de dar ouvidos ao seu coração impulsivo e acreditar.
Então, isso irá me quebrar ainda mais. Terei na memória tudo isso como uma grande mentira, da qual eu poderia ter me poupado e eu passarei a te olhar com outros olhos. Transformaremos uma coisa boa em ruim.
Agora estamos como a água de um rio, que foi agitada por uma pedra que atiraram nela. Não podemos ver o que tem embaixo, porque as águas das emoções estão agitadas. Talvez esse rio seja profundo demais para vc.
Eu sei que não é para mim, mas talvez seja para vc. Vc deseja entrar nele, como já quis antes, mas desistiu uma vez. Agora pensa que consegue, mas as águas estão agitadas e vc corre o risco de ao entrar perceber que ainda tem medo e voltar mais uma vez para a margem.
Eu entrei com vc uma vez, confiando que segurava minha mão e tive coragem, mas vc teve medo e me deixou lá sozinha. E foi assustador, porém, isso me fez aprender a nadar e a descobrir o quão profundo era esse rio. Eu o conheço, mesmo com as águas agitadas, porque enfrentei meu medo, esperei as águas ficarem calmas e olhei para ele. Eu só voltei para a margem, porque não tinha nenhum motivo para estar alí sem vc.
Não vou correr o risco de ficar lá sozinha outra vez, mesmo conhecendo esse rio. Não é porque eu tenha o conhecido e nadado até a margem, que signifique que não foi assustador e doloroso. Não quero ter que passar por aquilo novamente.
Vá para casa, deixe suas águas acalmarem, veja a profundidade do rio do amor que diz sentir por mim, se é capaz de enfrentar sua correnteza, sua profundidade, e o caminho que leva até o mar. E se é nesse mar que vc quer desaguar.
Porque talvez, por mais que vc diga que ama estar nesse rio comigo, ele não seja o seu caminho para o mar.
Não é só por mim que te peço para ir embora e pensar, é por vc também.
" Vc pode até acreditar que seu caminho é o certo, o que vc não pode nunca é acreditar que o seu caminho é o único". Lembra? Tá no livro.
Eu acredito que meu caminho é o certo, mas ele não é o único. Vc pode ter outros caminhos que te levarão ao que é melhor para vc. Ainda que eu acredite que o meu seja o certo, só vc sabe qual é o seu e a escolha será sempre sua.
A minha escolha agora é entrar e esperar que vc descubra o seu caminho, o meu eu já sei. Se eles forem o mesmo, amanhã conversaremos. Se não, isso é o adeus que não tivemos, e foi um bom adeus. Ainda somos uma coisa boa, sem nada para nos arrepender.