Capítulo 67

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Li certa vez uma frase de Pablo Neruda que dizia:

"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências."

Algumas vezes não somos tão livres assim, algumas vezes somos forçados a fazer escolhas que não queremos e nos tornamos prisioneiros dela da mesma forma.
Eu não queria fazer o que fiz, não queria magoar Cecília, não queria ter que deixa-la e muito menos me casar com Marcela.
Fui obrigado a fazer essa escolha, a outra opção me causaria dor maior e afetaria a vida de Cecília de forma ainda pior.
Eu apenas tive que escolher qual dor queria sentir, as duas opções eram de dor e não de felicidade.
Eu ficaria sem Cecília de qualquer forma, mas pelo menos agora ela tinha uma chance de viver e ser feliz um dia.
Eu não, eu serei triste, estou fadado à tristeza.
Estou preso em minha casa até o dia do casamento, vigiado por seguranças.
Para manter Cecília segura não a procurei e isso me angustia ainda mais.
Tenho bebido demais, tenho chorado demais e todas as coisas nessa casa me lembram que um dia fui feliz, que tive Cecília e a perdi.
Eu a vejo em todos os cantos, sentada no sofá da sala, tomando um café na mesa da varanda, dançando na cozinha, dormindo em minha cama.
Ouço o som da sua rizada ecoando pela casa e seu perfume passa por mim algumas vezes e toda vez que isso acontece eu olho em volta, procuro pela casa de onde vem aquele cheiro, imaginando que ela está aqui, mas não está. Nunca mais estará
Me mudarei para a casa de Otávio e Marcela, essa foi uma das coisas exigidas por Otávio.
Mas penso que não conseguiria viver aqui com Marcela, tendo a sombra do fantasma de Cecília em todo lugar e em todas as coisas.
Tendo Marcela ocupando o lugar que sempre pertencerá a Cecília.
Decido manter esse lugar como um sacrário, onde nem mesmo eu voltarei a habitar. Fecharei as portas de dessa casa e não voltarei.
Começo a encaixotar minhas coisas, preciso também devolver as de Cecília que ficaram aqui.
Ligo para Bruno.

- Oi, irmão.

- Oi, cara.
Como vc tá?

- Nada bem! Mas não posso falar sobre isso agora.

- Ninguém está entendendo essa mudança repentina, Bernardo.
Vc terminou com Cecília da noite para o dia e vai se casar amanhã.
O que aconteceu?

- Bruno, não quero e não posso falar sobre isso.
Mas é uma decisão tomada.
Vc tem notícias de Cecília?

- Tenho. Clara me ligou, me contou que vcs tinham terminado e que vc ia se casar com Marcela. Me perguntou se eu sabia por quê vc tinha tomada essa decisão tão repentina mesmo depois de já ter decido continuar com Cecília mesmo depois de saber da gravidez de Marcela.
Eu disse que vc não estava querendo conversar com ninguém e que também não sabia.
Mas perguntei como estava Cecilia.
Ela me disse que a irmã está péssima.
Não come e não dorme à dias. Está em casa, por enquanto, mas parece que o pai vem busca-la para leva-la para o sítio.

- Ela ficará melhor lá com o pai e com o tempo irá me esquecer e ficará bem.

- E vc? Ficará bem?

- Bruno eu não posso falar sobre isso.

- Vc está muito estranho, Bernardo.

- Preciso de um favor.
Preciso que venha até aqui amanhã, antes do casamento, pegue as coisas de Cecília e devolva para ela.
Te entregarei as chaves dessa casa.
Faça o que quiser com ela.
Só não more aqui, venda se quiser, alugue, se quiser.
Mas não quero ter que voltar aqui, por isso mesmo, nem vc, nem nossos pais poderão morar nela.

- Não entendo porque está fazendo isso. Mas se prefere assim, respeitarei.
Mas e quanto aos móveis e suas coisas?

- Minhas roupas e pertences pessoais levarei para a casa de Marcela, outras guardarei na oficina. As obras já estão bem adiantadas, farei uma edícula para guardar algumas coisas.
O resto vc pode vender.

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