Capítulo 43 - Bernardo

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Desde que comecei minha nova vida meus dias tem sido de descobertas diárias.
Eu que antes vivia dias sempre iguais, agora não posso dizer que vivo sequer um único dia igual à outro. Todo dia tem algo novo, ou várias coisas novas.
É como se estivesse mesmo vivendo tudo pela primeira vez.
Tudo tem um novo sabor, um novo cheiro, uma outra cor.
Como se antes eu visse o mundo em preto e branco e agora houvesse uma explosão de cores quando abro os olhos pela manhã.
Me pergunto como pude viver todos esses anos sem isso. Talvez pq não conhecesse essa sensação e agora que conheço é tão fantástico que me parece absurdo viver de outra forma.
Nos dias que passo sem Cecília, descobrindo coisas sobre mim mesmo, vejo o quanto não me conhecia, sobre como estava em modo automático o tempo todo. Fazendo o que precisava ser feito, mas nunca fazendo o que gostaria de fazer, porque nem mesmo sabia o que eu queria de verdade.
Acho que depois que conquistei as coisas que pensei querer um dia, passei a penas a vive-las e mante-las, sem nunca me questionar se era aquilo mesmo que desejava e se me faziam feliz de fato e passei para o modo automático.
Eu apenas existia, mas não vivia. E hoje sei que viver é muito mais que apenas existir.
Os momentos que passo e vivo com Cecília, são únicos e felizes.
Provamos coisas novas, algumas para mim, outras para ela, outras para ambos. Fazemos planos para o futuro de lugares que gostaríamos de conhecer juntos.
Eu digo ela que gostaria de leva-la para conhecer a Itália, me imaginando estar com ela pelas vielas e museus, provando vinhos e comidas. Coisas que já fiz, mas que percebo que com ela seria muito melhor.
Ela me diz que nunca saiu do país mas que quer conhecer o Chile.
Então pergunto:

_ Chile? Por causa dos vinhos?

_ Eu gosto dos vinhos chilenos, mas não é por causa dos vinhos.

_ E o que o Chile tem de tão especial para querer o conhecer então? Com tantos lugares no mundo, por que o Chile?

_ As estrelas!

_ Continuo sem entender, Cecília. Estrelas?

_ Sim! Não é simplesmente conhecer o Chile, é o deserto do Atacama. Quero passar uma noite lá.
O céu noturno do deserto do Atacama é conhecido como o mais bonito do mundo.
Quero um dia poder tomar um vinho lá, me deitar sob aquele céu e admirar as estrelas.
É isso! Não há nada de extraordinário como a vontade das outras pessoas em conhecer outro país. Eu só quero passar uma noite no deserto observando as estrelas e tomando vinho.

_ Vc sempre me surpreende! Sério!
Quando acho que não vai haver mais nada para ser surpreendido, vc diz algo ou faz algo que me mostra o contrário.

_ Achou idiota, né!

_ Não, não! Achei lindo! Lindo e simples como tudo que tem haver com vc. Vc vê beleza em tudo, enxerga o extraordinário no simples. Coisas grandes são pequenas para vc, e coisas pequenas são gigantes.
É estranho e particular ao mesmo tempo observar essas coisas em vc, vindo eu de um mundo completamente oposto ao seu. Onde quanto maior são seus feitos, melhor e mais importante é! E nunca é o suficiente! É cansativo, desgastante.
Mas com vc, é diferente. Vc fica feliz com pequenas coisas, pequenos gestos.
Uma felicidade genuína que vejo no seu olhar, no seu sorriso.

_ Quando vc diz isso, me sinto meio patética!

_ Amor, não é! É lindo, juro! Acho que é uma das coisas que acho mais lindas em vc.

Seguro seu rosto com as minhas mãos, fazendo- a olhar em meus olhos, para que encontre sinceridade no que digo.
Porque não estou mentindo mesmo, é real, a simplicidade que há em Cecília, há felicidade nas coisas simples do dia a dia, como crianças brincando em um parque, ou uma menina usando fantasia de princesa e galochas cor de rosa em pleno verão, ou um casal de velhinhos que ainda se sentam no banco da praça e conversam como jovens, ou no meu abrir e fechar de portas para ela, um café que a sirvo, um vinho que abro, a mala que carrego, ou quando elogio a maciez de seus cabelos, o perfume de sua pele, o desenho perfeito de seus lábios, ou o quanto ela é linda e não sabe, ela sorri nesses momentos de uma forma que vejo a felicidade em sua forma mais pura e inocente.
Não é como dar um colar de ouro ou diamantes há alguém.
Me lembro de quando dei um a Marcela, um não, vários, brincos, colares, anéis.
Ela ficava feliz é claro, mas a frase que vinha logo em seguida era, " Preciso tirar uma foto" . Era isso, uma felicidade instagramavel.
Com tudo! Presentes caros, viagens, comidas!
Uma felicidade que dava para fotografar.
Hoje percebo que felicidade verdadeira é impossível de se fotografar.
Ela não é palpável, é um sentimento que é tão inesperado que não há tempo de fotografar, e que quando a estamos vivendo, não lembramos de tirar fotos, porque estamos aproveitando ao máximo o momento. Estamos aproveitando os risos espontâneos, as piadas contadas, as gafes cometidas, um momento belo que estamos observando como as crianças e o casal de idosos, uma música que a banda toca e queremos curtir juntos ao invés de gastar o tempo dela filmando para postar para que alguém sinta à emoção por nós.
Não, isso é viver atravéz da tela de um celular, e acho que era isso que eu fazia, observava o mundo pela tela. Mesmo eu estando lá, eu tinha sempre o celular entre eu e o que estava vivendo.
Mas com Cecília eu nem mesmo lembro que o celular existe e isso veio com ela.
Me lembro de uma noite, enquanto estávamos assistindo um filme juntos, dos muito que já assistimos, que meu smartwatch apitou, olhei, logo em seguida aptou de novo. E ela me disse:

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