Cartas de amor

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- Isso é uma carta de amor mãe! - Ele me encarou.

- Realmente as nossas conversas mudaram muito com o tempo meu filho - Encarei o chão.

- Você sentia o mesmo por essa pessoa?

- Sim! Quando eu comecei a namorar com seu pai eu gostava dessa pessoa, na verdade eu pretendia espera-la mas a vida não para e eu tive que me casar com seu pai.

- Então você se casou com meu pai sem gostar dele?

- Seu pai era meu melhor amigo filho, então eu gostava muito dele mas não da forma que eu gostava da pessoa das cartas.

- E por que se casou então?

- Porque antigamente as coisas eram muito diferentes de hoje em dia e eu não tinha escolha.

- E você gosta dessa pessoa ainda?

- Eu não sei te dizer filho mas sempre que remexo em tudo isso sinto um vazio muito grande dentro do meu peito.

- Você se importa se eu ler essas cartas?

- Todas? Tem muita carta filho.

- Eu não me importo, quero ler toda essa historia.

- Por mim tudo bem!

Deixei a minha tão amada caixa com meu filho com a condição que ele não deixasse seu pai ler as cartas, não que ele já teve interesse alguma vez mas caso tenha acho melhor que não leia, não me sentiria a vontade com isso. Ter aquela conversa com Gustavo me colocou novamente em uma situação que eu já vivi diversas vezes durante a minha vida, procurar ou não P.P?

Depois de me servir de uma xicara de café bem forte me sentei em frente ao meu computador e fiquei o encarando por um bom tempo, não consigo nem dizer o que passa na minha cabeça, são tantas coisas que consigo sentir meu coração do tamanho de um grão de mostarda, entrei no google e fiquei passeando meus dedos pelo teclado sem conseguir digitar uma palavra sequer, não sabia do que eu tinha mais medo, de quebrar uma promessa ou de realmente achar quem eu tanto quero.

Eu já estava na quarta xicara de café quando decidi colocar no google o endereço de onde vinham as cartas, esperei alguns minutos até clicar em pesquisar, meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo sem encostar, quando abriu o endereço pra minha surpresa era uma fabrica abandonada, me perguntei diversas vezes se eu tinha colocado alguma informação errada mas estava tudo certo, uma fabrica de tecidos abandonada, será que os pais dessa pessoa eram donos e ela mandava com o endereço de lá? Será que ela trabalhava nessa fabrica? Questões que eu provavelmente nunca vou ter respostas surgiram na minha cabeça, fiquei ali mais algum tempo fazendo algumas pesquisas mas nada de respostas, apenas coisas vagas que não me serviram de nada, me levantei quando a campainha tocou e eu tive que atender porque provavelmente Gustavo estava trancado no quarto lendo minhas cartas.

- Mãe? Não falou nada que vinha - Dei passagem pra ela entrar.

- Agora preciso avisar quando vier na sua casa filha? E só pra constar você está péssima!

- Eu estava trabalhando em algo importante e acabei exagerando no café.

- Mas o que te trás aqui? Veio ver o Gustavo? - Ela quase não aparecia e eu estava realmente curiosa com essa visita.

- Na verdade vim falar com você mesmo filha, tem alguém em casa? - Ela disse olhando ao redor.

- Gustavo esta estudando no quarto e não vai sair de lá tão cedo, então pode falar - Nos sentamos no sofá.

- Seu pai está preocupado com seu casamento filha e pediu pra eu vir falar com você.

- De novo isso mãe? Eu já disse que está tudo bem - Já era a terceira vez em um mês que ela vinha com a mesma historia.

- Filha está nítido que não esta tudo bem! Seu marido vive viajando e quase não fica com vocês já pensou na possibilidade de ele ter outra pessoa? - Ela me encarava.

- Ele vive viajando porque é o trabalho dele e se ele tiver outra pessoa uma hora ou outra a verdade aparece mãe, não vou ficar perdendo meu tempo preocupando com isso - Eu estava ficando irritada.

- Sabe que o que eles não tem em casa procuram na rua né? Você tem feito seu serviço certinho?

- Mãe, eu não vou ficar falando da minha intimidade com você e diferente do que você pensa sou uma ótima esposa pro meu marido mas infelizmente não da pra ser perfeita em tudo.

Fomos interrompidas pelo meu filho descendo as escadas segurando uma das cartas e todo eufórico;

- Mãe, quero conversar com você sobre essa carta - Ele parou em minha frente ofegante.

- Cumprimenta sua avó filho e vai pro seu quarto, quando eu terminar aqui subo pra gente conversar - Peguei a carta de sua mão.

Depois de cumprimentar a avó e trocar algumas palavras ele subiu pro quarto nos deixando a sós novamente.

- Essas cartas de novo Natalie? Você nunca vai esquecer isso? Tenho certeza que é isso que esta estragando seu casamento - Ela aumentou o tom de voz.

- São apenas cartas mãe e respondendo sua pergunta, eu nunca vou esquecer isso porque faz parte da minha vida - Falei no mesmo tom.

- Se tem uma única coisa que me arrependo em toda minha vida foi de um dia ter deixado você responder aquela carta, se eu soubesse que isso afetaria toda sua vida nunca teria deixado tudo isso acontecer.

- Sabe o que afetou toda minha vida mãe? Ter casado com meu melhor amigo porque vocês praticamente me obrigaram - Gritei.

- Fala baixo, quer que seu filho escute você dizendo umas coisas dessas? - Ela falou em um sussurro - Casar com o Rodrigo foi a melhor coisa que você fez na sua vida e se eu fosse você dava um jeito de consertar esse casamento se não sua próxima conversa vai ser com seu pai e acredito que não vá querer isso né? Você deve muito a ele e creio que não vai decepciona-lo - Ela se levantou.

- Eu estou cansada de tudo isso mãe, tudo que tenho é mérito meu e não vou ficar vivendo minha vida da forma que vocês querem que eu viva, já tenho 35 anos e sei muito bem o que e o melhor pra mim.

- Você nunca soube o que é o melhor pra você! Agora faça o que eu te falei sem discutir.

Ela saiu sem olhar pra trás e o que eu achei que estava ruim eu vi piorar quando não sustentei minhas pernas e cai ao chão em um choro silencioso, até quando eles me diriam o que fazer? Até quando eles tirariam minha liberdade? Tudo isso pra manter um nome que eu nem faço questão de ter?

Até o próximo...

Cartas pra vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora