⚘ três

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Quando acordei a primeira coisa que senti foi enjoo. Depois as memórias entraram na minha mente como um furacão e eu lembrei repetidamente do que tinha acontecido antes de eu apagar. Vergonha, raiva, irritação... tudo estava me consumindo pelas entranhas até o topo da minha cabeça. Desde quando minha vida tinha se tornado esse caos?

— Bebe — meu pai me entregou o copo evitando me encarar.

Eu queria chamá-lo de idiota.

— Você precisa comer — ele foi atrás de uma enfermeira e voltou alguns segundos depois tirando o copo vazio da minha mão — recolheram seu sangue, irão apresentar os resultados daqui a pouco. Ainda não tinha feito um exame de verdade, não é?

Neguei com a cabeça.

Ele respirou fundo se sentando na poltrona no canto do quarto.

— Como foi se meter nisso, Jennie?

— Quer mesmo que eu responda?

— Minha filha... isso é uma responbilidade enorme. Grande mesmo.

— Eu sei disso.

— E já decidiu o que vai fazer?

— Tirar o bebê não é uma opção — o avisei de imediato — Talvez eu o dê para a adoção. Não sei se conseguiria criá-lo.

— Jennie...

— Pai, por favor — fechei os olhos — Eu estou tomando uma decisão por mais difícil que essa situação seja. Eu agradeço que se preocupem, mas não preciso que fiquem me dizendo ou me olhando como se eu fosse a pessoa mais irresponsável do planeta.

— Você já conversou com o pai dessa criança?

Me lembrei imediatamente do meu celular. Droga, meu celular.

— Preciso do meu telefone.

Meu pai se levantou e caminhou para fora, depois voltou acenando para que eu esperasse. Vinte minutos depois, minha tia entrou no quarto com o meu celular nas mãos.

O segurei rápido e senti meu coração disparar quando vi que ele tinha respondido. Michael tinha respondido.

MICHAEL:
"Jennie... eu não sei o que dizer. Sinto muito por essa situação, mas vou precisar de um teste de DNA."

O enjoo veio mais forte e meu pai pegou o balde que estava ao lado da cama e segurou na frente do meu rosto batendo nas minhas costas enquanto eu colocava tudo para fora.

Teste de DNA? Como ele teve coragem de dizer uma coisa dessa?

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O meu pai era pura fúria no caminho de volta para casa. Eu acho que nunca o vi xingar tanto em toda a minha vida. Quando contei para ele o que Michael tinha dito, ele me prometeu que eu nunca mais precisaria olhar na cara dele se não quisesse. Ele realmente era superprotetor.

Minha tia não ficava atrás. Ela deixou claro que eu não precisava me sujeitar a teste algum a menos que eu quisesse muito. Agradeci por ter eles como minha família apesar de me irritarem muito ás vezes.

— Posso por favor só... dormir? — pedi quando o carro parou.

Desci do carro e meu pai tentou me ajudar mas eu neguei, eu conseguia andar. Ele devia saber das minhas capacidades estando apenas no segundo mês de gravidez já que ele é médico.

Quando estávamos chegando na porta eu observei um pacote sobre o tapete, o segurei e notei que ainda estava quente. Dentro do pacote tinha uma vasilha e um post-it verde em cima.

"me desculpa por ter te dedurado.
— Taehyung"

Taehyung. Sorri sozinha ao perceber que só agora eu vim saber seu nome.

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Então, é isso? — Trinity dizia enquanto cozinhava em meio á nossa ligação.

— É, acho que sim.

Você está certa disso, não é? Não tem volta quando o fizer.

— Tenho certeza, sim. Meu pai ficará aqui por mais uma semana antes de voltar para Chicago e vai passar por aí para pegar minhas coisas.

Não acredito que aquele imbecil teve a audácia de querer um exame de DNA, fala sério...

— É, eu sei.

Acho que vou matar ele assim que vê-lo.

— Não perca seu emprego por minha causa.

Nunca gostei dele. Sempre soube que era um lixo.

— Eu devia ter te escutado.

Nos últimos dois dias eu tinha chegado a várias decisões com a ajuda da minha família. Eu ia me mudar oficialmente para cá durante a gravidez — insistência de tia Amélia e meu pai — e largaria o meu emprego em Nova York. De qualquer forma, mesmo se eu tirasse o bebê, não conseguiria olhar para Michael de novo. Aprendi do pior jeito em como não se envolver com colegas de trabalho, ainda mais quando são seus superiores.

Eu não tinha respondido nenhuma das mensagens dele nos últimos dois dias. Tudo que eu tinha lhe escrito era que eu não ia fazer um teste, e se ele não quisesse ser um pai tudo bem. Eu que não iria insistir.

A única decisão que eu não tinha tomado era sobre o que eu ia fazer com a pessoa que crescia na minha barriga. Ainda não estava certa ou segura de que deveria cuidar dele com uma mãe cuida de um filho. Não acho que eu estou pronta para essa responsabilidade.

Eu ainda tinha tempo para pensar.

Tempo o suficiente, eu espero.

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