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⚘ nove

Os lábios dele continuavam macios quando tocaram-me de novo, agora percorrendo o início do meu maxilar e fazendo um percurso até os meus ombros. A respiração descompassada que fugia dos meus pulmões era forte e desesperadora.

— Michael...

No mesmo instante, os lábios pararam de me tocar, e um rosto se ergueu bem na minha frente. Meu coração quase saiu pela boca quando Taehyung me encarou um tanto assustado e bravo.

— T-taehyung?

— Quem mais seria, Jennie? — suas mãos se desvencilharam da minha cintura, e me senti uma estúpida.

— Não, não vá embora — tentei impedi-lo — Foi um acidente...

E ele saiu pela porta, sem me dar a chance de pedir desculpas. Por que Michael ainda estava na minha cabeça? Devia ser por conta da nossa filha. Levei minha mão a minha barriga, e dei um pulo ao perceber que ela não estava lá. Eu era a velha Jennie, a que vivia em festas e bebia até esquecer o próprio nome. Era a garota que morava em Nova York e construía uma carreira de respeito como jornalista.

Estranhamente, aquilo não me agradou. Comecei a me desesperar com a ausência da minha filha, e de uma hora para a outra eu me levantei da cama, ofegante e suada.

Porra, foi só um sonho. Pensei nisso quando me apoiei nos cotovelos e metade da minha visão era ocupada pela barriga imensa que eu agora tinha. Um sorriso involuntário surgiu em meu rosto.

— Você me assustou, garota.

Não consegui mais dormir pensando no sonho. Minha filha desapareceu, eu era quem pensava que queria ser e dois homens invadiram os meus pensamentos. Por que eu ainda pensava em Michael? Ele já tinha tomado a sua decisão e não queria se envolver nisso, e eu não o forçaria. A única coisa que quero é distância dele. Não é?

Quero mesmo distância dele?

E Taehyung? O que ele estava fazendo lá? Tudo bem, ele é bonito e tem me ajudado muito, mas nada além disso. Somos amigos e vizinhos, e não é como se ele estivesse interessado em uma mulher problemática com um bebê a caminho e que chora só de pensar nas contrações.

Foi difícil me levantar, mas assim o fiz e tomei um banho bem demorado. Não porquê estava procurando relaxar — por mais que eu precisasse — e sim porque a cada dia mais se tornava mais difícil me locomover.

— Querida, você está bem? — minha tia surgiu na porta do quarto.

— Sim, estou me trocando. Já desço.

Hoje eu ia fazer mais uma ultrassom, meu pai insistia para que quase toda semana eu fosse fazer os exames para ter certeza de que estava tudo bem. Ser filha de um médico sempre exigiu isso, passei mais tempo em hospitais do que na escola.

Depois de tomar um excelente café da manhã — sem cafeína, por conta do bebê — eu me levantei e fui para o carro. Tia Amélia me falava sobre o jantar que ocorreria em duas semanas na sua casa, para toda a família. Fiz um baita esforço para sorrir e dizer que estava ansiosa.

Talvez eu fugisse do jantar como a Rachel fugiu do primeiro casamento em Friends.

— Porra — minha tia murmurou e eu me assustei, já que ela não costumava xingar na minha frente — O carro não está funcionando, o que que deu nele?

Ela levantou o capô do carro e uma fumaça começou a sair dele, me fazendo perdê-la de vista por um instante. Estávamos no meio da rua, e graças a deus não estava movimentada, se não seria uma vergonha em dobro.

— Alguma válvula quebrou? — perguntei.

— Eu não tenho ideia. Abri o capô do carro mas não sei nem onde fica os fios — ela tossiu por conta da fumaça — Vou ter que ligar para o mecânico, daí chamo um táxi para você...