⚘ dois

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Eu ainda me sentia humilhada pelos acontecimentos da noite anterior. Não conseguia acreditar e aceitar que eu tinha mesmo vomitado em uma pessoa que mal conhecia. Tudo bem, eu tinha uma boa desculpa, mas ele não fazia ideia de que eu estava grávida.

Aliás essa situação estava me colocando em maus lençóis. Eu tinha conseguido mais dois dias de folga por conta das férias que eu não tinha tirado no ano passado, mas precisava tomar uma decisão logo sobre onde eu ficaria durante a minha gestação.

Tia Amélia entrou na cozinha depois de ir até o jardim aguar suas plantas.

— Você sabe bem que é melhor ficar aqui do que naquela pocilga de poluição que é Nova York — disse ela me dando mais um pouco de água.

Ela ficava me paparicando como fazia quando eu era criança.

— Mas meu trabalho é lá.

— Largue ele, então.

— Isso não é uma opção, tia. Sou muito grata por estar me ajudando, mas não posso ficar desempregada e viver da sua bondade.

— Pare de falar como se eu estivesse te fazendo um favor, Jennie — ela me olhou impaciente — Somos família, é isso o que fazemos. Se for o melhor a se fazer só largue de uma vez e venha ficar comigo. Também pode arrumar alguma coisa por aqui.

— Eu sou jornalista, tia.

— Ora, eu sei bem disso — ela que me incentivou a fazer a faculdade de jornalismo, diferente do meu pai que queria que eu seguisse seus passos e me tornasse médica — Tem o jornal local.

Amélia revirou os olhos quando viu minha feição.

— Sei que tem muitas ambições em relação á sua carreira, e eu respeito isso querida — ela sentou-se ao meu lado — Mas no momento precisa decidir o que é prioridade. Essa criança ou o seu emprego.

Omiti a parte em que eu estava considerando entregar a criança para a adoção assim que ela nascesse. Eu sabia que tia Amélia não apoiaria essa decisão, mesmo que respeitasse. A verdade é que eu ainda não conseguia chegar nem perto de decidir nada sobre isso além de que eu não queria de maneira alguma tirar a criança.

— Consigo ouvir o barulho dos seus pensamentos daqui — Amélia falou voltando-se ao fogão.

— É muita coisa para decidir de uma vez só.

— Então vamos por partes. Faça o que já devia ter feito: comunique o pai dessa criança.

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Eu sei que era um ser humano terrível por contar uma notícia dessas por telefone, mas em minha defesa, mesmo estando em Nova York, Michael nunca teria arranjado tempo para me ver. Eu sempre soube que ele não era o tipo de cara que ligava para as garotas com quem saia e que tínhamos um lance meramente carnal, mas nunca planejei que acabasse grávida dele.

Michael trabalhava como editor-chefe no jornal onde eu trabalhava. É, eu sei. Onde eu fui me meter? Transar com o chefe? Loucura total. Ainda mais quando você acaba grávida dele.

Tive que respirar por uns dois minutos antes de apertar o botão para enviar a mensagem.

JENNIE:
Olá, Michael. Não sei se reparou que não tenho ido para o trabalho, mas algo aconteceu. Sei que não é o ideal eu contar isso por uma mensagem, mas estou fora da cidade e deus sabe que você não deixaria o escritório só para me encontrar a menos que acabássemos transando no banheiro.
Eu estou grávida, Michael. E o bebê é seu. Não sei se vai querer parte nisso e honestamente, não vou te obrigar a participar de nada. Nem eu sei o que vou fazer, mas fui aconselhada por uma das pessoas mais importantes da minha vida que deveria lhe contar primeiro. É isso. Qualquer coisa me liga.

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