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Quando chego em casa, tento com todas as minhas forças não desatar a chorar. De repente, respirar não é tão fácil e natural como era. Como eu vou fazer isso? Como vou cuidar de uma criança quando não consigo sequer cuidar de mim?

Eu não tenho renda financeira para me responsabilizar por outro ser humano. O que diabos eu vou fazer?

Apenas perguntas surgiam em minha mente e nenhuma solução.

Pela primeira vez em uma hora noto que há cartas abaixo da porta. Me esforço muito para levantar do buraco do meu sofá quebrado e pegá-las. Quando leio o remetente da primeira, não hesito em abri-la.

"Querida Jennie,

A casa ainda está aberta para você. Sempre esteve. Venha passar uma temporada comigo. Prometo que não irei expulsar mais nenhum garoto do seu quarto.

p.s: só se ele for um idiota.

Com amor, sua tia Amélia"

Sorrio pela primeira vez em uma semana, e finalmente as perguntas cessam por um instante em minha mente.

Tia Amélia foi como a minha mãe depois que perdi a minha para o câncer. Ela ajudou muito o meu pai a superar o luto e a cuidar de mim que ainda era muito pequena.

Lembro de ter passado mais tempo na casa dela do que na minha.

Fazia séculos que eu não a via, me mudei para Nova York e acabei sempre enrolando por conta do trabalho e da faculdade. Agora, eu não tinha desculpa. Na verdade, era a solução para alguns problemas.

Eu estava prestes a ser despejada, e acho que a minha tia me ajudaria quando soubesse que a sua sobrinha de vinte e três anos estava grávida.

No dia seguinte, eu embarquei no primeiro voo.

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— Querida! — minha tia correu para me abraçar.

Tia Amélia era uma mulher muito bonita, meio hippie. Foi com ela que eu experimentei maconha pela primeira vez, e em suas palavras era melhor eu fumar com alguém de confiança do que uma pessoa aleatória em uma festa. Os cabelos pretos dela estavam mais curtos e menos encaracolados do que da última vez que a vi, dois anos atrás.

— Senti saudades — ela beijou minha bochecha.

— Senti sua falta também — sorri, e ela segurou minhas mãos.

— Aconteceu algo? Parecia tão tristinha ao telefone.

— Eu estou bem, só estressada por causa do trabalho — e porque terei um filho; omiti essa parte.

— Bom, vamos. Fiz aquela torta de pêssego que você adora.

Entramos em seu cadillac vermelho e fomos para a casa. Minha tia morava perto da praia em um povoado pequeno mas muito charmoso — ela era rica. O falecido marido dela mandava em alguns imóveis em Nova York, e ganhou uma fortuna quando vendeu eles para grandes empresas que queriam transformar tudo em prédios. Hoje, Nova York é pura poluição.

Amélia foi me contando tudo que aconteceu nos últimos tempos, como eu passava muito tempo com ela na infância, acabei conhecendo tudo nessa cidadezinha. Fiquei admirada ao perceber que não tinha mudado muita coisa desde os meus dezesseis anos — a última vez que estive nesse lugar.

— Temos vizinhos novos também, gente boa. As pessoas descobriram o povoado e vem para cá no verão se esconder da realidade da cidade grande — ela contou se aproximando da sua casa.

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