Capítulo 19

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Acordo com a luz entrando no quarto e fico feliz com a primeira visão do dia. O Sol já está alto na minha janela, o mar ao longe reluz, os passarinhos cantam. Solto o travesseiro, me levanto, tiro com cuidado meu moletom e vou tomar banho.

Passar a noite ali foi a melhor decisão. Enquanto me permito sentir a água correr pelo meu corpo deixo meu pensamento ir até ele. Ah como queria ele aqui passando as mãos por mim, explorando cada pedacinho do meu corpo. Lavando meu cabelo, enquanto sinto seu corpo colado ao meu, nossas mãos nos decifrando, sua boca me beijando e ele dizendo no meu ouvido "Sou teu! Sempre fui, antes mesmo de te encontrar..."

- Ah Piruca, estranho seria se eu não me apaixonasse por você. - Falo alto pra tentar fazer ele ouvir meus desejos. Mantenho os olhos fechados aproveitando cada segundo desse devaneio.

Desligo o chuveiro, coloco um roupão e vou me arrumar. Faço tudo com calma, sem pressa.

E enfim tomo uma decisão. Vou fazer uma reunião com a equipe hoje e anunciar umas mudanças.

A primeira coisa é que aquela casa lá agora é meu estúdio, meu local de trabalho. Se mainha e Preto quiserem continuar a morar lá, tudo bem. Mas eu vou fazer morada aqui. Vai ser meu refúgio, sem ninguém pra me atrapalhar ou dizer o que tenho que fazer.

Visto uma roupa de academia e vou embora. No caminho já ligo pra Giu pra saber se dá pra encaixar essa reunião ainda pela manhã.

- Ta bom Ju, vou falar com todo mundo, e chegando na sua casa te confirmo se deu certo.

- Ok, muito obrigada. – Feito isso já me sinto mais animada. Fazer essa caminhada matinal também me fez muito bem. Vou gostar de fazer isso todos os dias.

Entro na minha casa e já não sinto mais aquele aconchego de antes. Tem coisa de trabalho espalhada por todo canto. É mais uma empresa do que um lar.

- Ei Ju minha filha, onde cê tava?

Mainha aparece na sala e me vê parada na porta.

- Oi Mainha, fui fazer uma caminhada. A senhora ta bem?

- To sim minha filha. Cê ta diferente, aconteceu alguma coisa?

- Nada mainha, deixe de história e vamos tomar café que eu to varada de fome.

Dei o braço pra ela e fomos pra cozinha. Preto já estava por lá

- Olha, apareceu a bonita! Onde cê passou a noite hein?

Mainha me olha mais desconfiada ainda e faço sinal pro Preto mudar de conversa, depois explico pra ele. Parece que ele entendeu o recado.

- É que fui no seu quarto e cê tinha saído. Não podia perder a piada.

Acho que mainha acreditou nesse papo. Preto fuxiqueiro visse.

- Acordei cedo e fui dar uma volta. – Pego um café um pedaço de bolo e vou me levantando.

- Vou subir que tenho que me trocar. Preto, me ajuda com o cabelo?

- Sim patroa já estou indo.

Faço uma careta, não gosto que ele me chame assim e ele sabe. Dou um beijo em mainha e saio com Preto no meu calcanhar.

Subimos as escadas em silencio e só quando estamos no quarto que ele finalmente abre a boca.

- Aquela live de ontem não foi aqui no seu quarto. Onde cê tava?

- Ai Preto, tenho tanta coisa pra contar. Cê promete que vai me ouvir sem me julgar?

- Mulher, tu cometeu algum crime?

- O que? Logico que não, ta doido!

- Então não tenho por que te julgar. Eu amei o seu jeito na live ontem, aquela sim é você.

- Eu decidi que quero fazer dessa casa somente meu local de trabalho. Se você e mainha quiserem continuar morando aqui, tudo bem! Vou estabelecer horários fixos trabalho e outras coisas.

- E cê vai morar onde? Na casa que estava ontem?

- Lembra da casa que o Rodolffo me levou pra conversar?

- Sim, aqui no condomínio.

- Isso mesmo, vou me mudar aos poucos pra lá. Quero ter meu cantinho, com liberdade total. Um lugar longe dessa loucura toda. Com acesso restrito das pessoas.

- Cê ta querendo morar numa caverna?

- Preto, não tem graça, cê entendeu o que eu falei.

-Entendi e gosto muito da sua decisão. Cê tem mesmo que tirar um tempo pra você, desligar de verdade, parar de respirar só trabalho.

- Obrigada por me compreender. Isso é muito importante pra mim.

- Seu bem-estar é o mais importante de tudo mana. Não carregue o peso do mundo nos ombros.

Estamos ambos deitados no chão do quarto, igual quando éramos crianças. Rolo pro lado e abraço ele.

- Se você quiser ir pra outro lugar a gente agiliza isso.

- Não precisa, eu continuo aqui. Pra mim é diferente, ninguém entra no meu quarto sem bater e já vem falando de trabalho. Tenho meus limites bem impostos por aqui. E sei que mainha também não vai querer se mudar.

Vou me levantando e já prevendo minha conversa com mainha, ela não vai gostar muito dessa ideia. Mas aos poucos ela vai ver que vai ser melhor assim.

- Tudo bem, o que você preferir. Mas qualquer coisa se mudar de ideia me avise, visse.

- Pode deixar. Agora bora ajeitar esse cabelo.

Então vamos juntos para o banheiro começar o processo de arrumação do dia.

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