Capítulo 39

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Chegamos no carro do Ryan e sou obrigado a colocar o Lucca na cadeirinha.

Vamos conversando a caminho do restaurante e o Ryan me conta que vai ter um show de talentos no Instituto no próximo fim de semana.

- Você podia participar né Bastião? Seria nossa atração surpresa.

- Com muito prazer. Só que não sei cantar em inglês não cara.

- Não tem problema. O importante é participar.

- Vou precisar de um violão pra ensaiar.

- Pode pegar qualquer um lá no instituto. Chegamos. Espero que você curta a comida daqui. É típica do país.

- Se for ruim, cê paga conta!

- E o contrário, quem paga é você.

Ele sai do carro e vai soltar o Lucca, e pelo sorrisinho na cara dele, é melhor eu me preparar para morrer numa grana. Saio do carro e me junto a eles.

Entramos no restaurante e pelo jeito que as pessoas falam com o Ryan, ele é bem querido aqui.

Sentamos em lugar que fica próximo de uma área com brinquedos, e ele coloca o pequeno Lucca ainda sonolento para brincar ali.

- Está pronto pra provar o melhor da culinária canadense?

- Não, mas vou comer mesmo assim.

Ele me responde em meio a risadas.

- Você é engraçadinho né Bastião.

- O que cê vai pedir pra gente?

- Poutine e Montreal Smoked Meat.

- Eita, não entendi nada que cê falou.

- Imaginei, forcei bem meu sotaque. O poutine é um prato de batatas fritas acompanhadas por um molho saboroso de carne, o famoso "gravy" e muito queijo.

- Isso me parece bão. E o outro?

- O montreal é um lanche de carne defumada e temperada com diversas ervas e especiarias. Em seguida, o cozinheiro prepara fatias finas para rechear pães caseiros.

- To vendo que vou pagar a conta!

- Com toda certeza, por isso vou pedir até sobremesa depois.

Ainda rindo ele faz o pedido para o garçom e inclui um prato de macarrão para o carinha.

- Então Bastião, quais são seus planos para os próximos dias?

- Ah eu queria fazer aquele passeio de balão, mas o tempo não está ajudando.

- Não mesmo. E nem invente de querer voar com tempo fechado, é perigoso demais.

- Não, a April já disse que não da pra voar com o tempo assim. Ela me mostrou umas fotos quando fui na casa dela, a paisagem lá de cima é surreal.

- Hum, então você foi na casa dela? Quando?

- Pode parar Ryan, não ta rolando nada.

- Mas eu nem falei nada, só perguntei quando foi que vocês ficaram amigos assim.

- Não falou, mas pensou. - Impossível não rir da cara de sonso dele agora. – Foi no dia que almocei na sua casa, na volta passei lá pra ver as fotos dos balões.

- Só pra ver fotos né. Te conheço Rodolffo. Você não deixa passar nada.

- Ah cara esse Rodolffo pegador aí, não existe mais.

- Ué e aquela mulherada toda que o povo vive dizendo que você ta pegando.

- É tudo fofocaiada. Cê sabe que depois do programa eu mudei.

- Depois da Juliette você quer dizer né.

- É.

- Eu pensei que vocês fossem casar. Você fala dela de um jeito tão diferente, achei que era pra valer.

- Eu também. Mas acho que ela pensa diferente.

- Como assim?

- Ah cara, não sei explicar. Quando estamos sozinhos tenho certeza que nada é capaz de nos separar, que nascemos pra viver esse amor. Mas quando saímos da nossa bolha tudo muda, ela muda, me afasta, diz que não quer namorar e essas coisas.

- E foi isso que te fez vir parar aqui em Banff?

O garçom chega com nosso pedido. E caramba, é coisa viu. O cheiro é maravilhoso. Pego um pouco da batata e nunca comi nada igual, o sabor é meio agridoce e misturado com o queijo fica perfeito.

- Nossa Ryan, isso aqui é bão demais!

- Eu te avisei! Mas não muda de assunto não. Admite que você fugiu dela.

- Não fugi dela. Eu fugi de quem eu estava me tornando por ela.

- Agora não entendi.

- Eu me perdi de mim pra me encontrar nela. Pra fazer o que fosse possível pela gente. Deixei de viver minha vida pra viver a dela. E isso não foi recíproco.

- Nossa Rodolffo, nunca te vi falando assim, nem da Rafa. Você acha que ela é a sua pessoa?

- Sim. Mas eu não sou a pessoa dela.

A tristeza nos olhos dele me machuca, é difícil ver um amigo sofrer e não poder fazer nada.

- Não fica assim cara, vocês vão conseguir se entender.

- Não tenho mais esperança disso. Vim pra cá pra me reencontrar e seguir em frente.

- Então você está em busca de um novo amor?

- Não estou procurando. Mas também não vou me fechar. Eu amo a Ju, ela sempre vai ser o amor da minha vida. Mas nem todo mundo tem a sorte que você teve de se casar com a sua alma gêmea.

Ele já terminou de comer e trouxe o Lucca pra mesa pra dar a comida dele.

- Isso é verdade, a Jenna é minha alma gêmea. E a maior prova disso é esse menino aqui.

- Então, eu quero um menino também, uma família. Queria muito que fosse com a Ju, mas se não é pra ser, aceito meu destino.

- Calma, quem sabe quando você voltar ela não mudou e agora quer as mesmas coisas que você.

- Quando eu voltar, certeza que ela vai estar enrolada com varias outras coisas e tudo vai continuar na mesma. Então não posso esperar isso.

- Não seja tão duro com você mesmo cara.

- Tenho que ser. Quando amoleci um pouco olha a bagunça que arrumei pra minha vida.

Ele está mais magoado do que quer admitir. Quer se fazer de forte. Quer voltar a ser a pedra de gelo que era antes. Coitado do meu amigo. Ele ainda não se deu conta que não é possível voltar a ser o que era. Depois que se conhece o amor verdadeiro, é impossível deixar ele pra lá.

Melhor mudar de assunto.

- Então, você vai mesmo querer participar do show de talentos?

- Sim cara. Sabe que estou com saudade de cantar.

- Então vou te colocar na programação.

Seguimos o almoço conversando sobre as coisas do Instituto. Mas no fundo eu estava pensando em como podia ajudar meu amigo. Ele não pode desistir assim tão fácil de ser feliz.

Vou ligar pra Bella.

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