Capítulo 74

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Eu estava até achando engraçado ela cair de bunda no chão.

Mas agora ela pedir pra ele não se trocar. Ela ta pensando que é quem?

Eu devia ter ido naquele banheiro e ter dado na cara dela. Mas, assim como ele sou burra e corri.

E agora a gente está tendo uma briga totalmente desnecessária.

- Ela pediu pra que eu continuasse de toalha. E o que vou te falar daqui pra frente, vai fazer você querer me bater. E talvez eu até mereça isso.

- O que você fez Rodolffo? Cê você comeu aquela piranha eu vou dar na sua cara!

Agora quem está gritando sou eu.

- Eu estou errado no que fiz. Mas escuta de uma vez por todas. E.U N.U.N.C.A T.O.Q.U.E.I U.M D.E.D.O N.A.Q.U.E.L.A M.U.L.H.E.R.

Ele fala pausadamente e entre dentes.

- Então o que aconteceu?

- Você sabe que eu gosto de brincar de seduzir o povo no Instagram, cê mesma já me ajudou a gravar vídeos dançando. Sei também que as vezes sou inconsequente. E pode ter certeza eu já me arrependi muito do que fiz. E se pudesse eu voltava no tempo.

- Fala logo!

- Eu fiz uma ceninha, como se fosse soltar a toalha. Não durou mais que dois minutos. Enrolei a toalha de volta e fui me trocar. Ela não viu nada além do meu abdome e minhas canelas finas. Juro pela minha mãe que foi só isso.

...

Ela não responde nada. Mas sei que ta muito brava comigo agora. Eu também estou.

Como queria voltar no tempo e apagar esse momento da minha vida.

Ela continua em silêncio então sigo falando

- Pra você ter ideia de como foi sem intenção nenhuma. Eu nem sequer fiquei excitado. Não teve efeito nenhum sobre mim.

- E você realmente quer que eu acredite que não rolou nada além disso?

-Quero!

- Impossível Rodolffo. Cê já viu o jeito que ela te olha?

- Não. Ela não significa nada pra mim. Nem sequer reparo nela.

- Rodolffo!

- Uai, cê quer que eu faça o que pra acreditar em mim? Estou te contanto toda a verdade.

- Não sei se consigo acreditar nisso. Aquela mulher te come com o olhar. Cê já deve ter reparado que cê não é besta.

- Eu não tenho por que reparar nela. Eu vim pra cá todo ferrado por sua causa. Cê acha mesmo que eu ia querer me envolver com alguém pra te esquecer? Se fosse isso eu tinha ficado lá no Brasil mesmo.

- É difícil acreditar Rodolffo.

- É sempre assim Juliette, é sempre difícil acreditar em mim. Mas por exemplo, durante todo esse tempo eu tive que acreditar cegamente em você quando ia viajar só com o Daniel. Você falava que era só trabalho e eu acreditava. Estava em todos os lugares que vocês estavam juntos e eu tinha que acreditar que era só uma cortina de fumaça pra abafar a gente. Sempre fui obrigado a ficar quieto nos bastidores enquanto via ele ajustar seu microfone, seu cabelo, sua roupa. Afinal era só trabalho. Você por acaso já viu como ele te olha?

- Não tem nada ali Rodolffo. Ele faz parte da minha equipe e só isso.

- Só isso o caramba. Aquele homem te deseja Juliette, sempre desejou. Se você estalar os dedos ele larga qualquer coisa e fica com você. Eu sempre vi isso, mas fiquei quieto. Afinal é seu trabalho, sua equipe. Eu nunca tive palavra quanto a isso.

- Eu não sabia que você se sentia assim.

- Porque você nunca me escutou. Eu sempre falei que não curtia essa história, mas pra fugir da briga você vinha me fazendo carinho, me enchendo de beijos, e eu deixava pra lá. Sempre foi assim, eu queria discutir, queria entender as coisas e você queria fugir. Então o nosso tempo junto foi diminuindo, e eu achava melhor aproveitar você do que discutir. Mas tudo isso me matava por dentro.

A verdade dói quando acerta a gente. Ouvir como ele se sentia sobre o Daniel me faz entender muitas coisas.

Por isso que ele sempre ficava estranho quando eu estava só com o Daniel. Fazia várias perguntas sobre todos os passos, o porquê a Giu não tinha ido. Eu achava que era besteira.

A respiração dele está acelerada.

- Cê ta vendo. Quando é com você é mais fácil de entender né, não tem motivos para desconfiar. Só tenho que confiar cegamente em você e pronto. E quando é comigo cê fica cheia de dúvidas. Isso cansa. E eu to cansado de ter que provar meu caráter e minhas intenções sempre.

Tento de novo abraçar ele. Preciso disso para me acalmar. Mas tenho medo de que se fizer isso ele vai achar que estou querendo uma distração e não é isso.

É que o toque dele me acalma, me devolve o ar.

Então, mais uma vez ele parece que lê meus pensamentos. Coloca os braços na minha perna e encosta o corpo no meu. Fecha os olhos e fica ali em silêncio um pouco.

O rosto dele está lavado por lágrimas.

Passo meus braços pelo seu pescoço e beijo seu cabelo.

- Desculpa meu amor. Me desculpa por todas as vezes que não te ouvi.

Ele puxa minhas pernas mais perto dele e continua falando. Mas segue de olhos fechados.

- Juliette, faz tempo que não tenho mais olhos pra nenhuma mulher. Estou sempre a procura do seu olhar, do seu toque. Quando eu acho que estamos evoluindo, e seguindo em frente. Vem alguma coisa e atrapalha. Uma desconfiança, um mal entendido.

- Eu não sei o que te falar.

- Então só me escuta. Eu me acho incrível quando cê olha pra mim, quando diz que me ama. Ta pra nascer outra mulher que vai ter meu amor assim. Só se ela for um pedaço seu misturado com um pedaço meu. E mesmo assim, isso só vai fazer meu amor por você crescer mais ainda.

- Eu tô aqui na sua frente mais uma vez, expondo tudo o que sinto, o que penso, meus medos. Eu só te peço isso em troca. Antes de pensar em fugir, em se esconder, cê tem que lembrar que a gente precisa conversar. A gente precisa se ouvir.

Não resisto, abaixo e dou um beijo nele. Eu preciso disso, dessa nossa conexão.

Ele resiste um pouco, mas acaba permitindo.

- Ju, não pense que não quero te beijar. Eu sempre quero, todos os minutos. Mas agora a gente precisa conversar. Por favor, me fala o que você sentiu hoje. Quero ouvir de você, não quero que nada fique subentendido.

Ele finalmente abre os olhos. E esse olhar me atinge em cheio.

A marra é de durão, as palavras são duras, mas no fundo ele é só um menino.

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