Capítulo 137

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Esses últimos dias foram estranhos. Tudo está em ritmo de despedida. E é muito doido o sentimento de voltar pro Brasil. Aqui se tornou nossa casa, vivemos coisas inesquecíveis. E ir embora é o certo, mas também parece errado.

Deixei a Ju na casa da Jenna, elas estão super dedicadas no treinamento dela. É tão bonitinho de ver ela toda cheia de cadernos, fazendo anotações, lista de coisas que precisa comprar, lista de coisas pra perguntar pra médica, lista de coisas para o casamento. Uma infinidade de lista de afazeres.

Eu mesmo já anotei umas coisas que preciso aprender, comprar e fazer. Meu bloco de notas no celular deixa a Ju agoniada, ela queria que eu tivesse um caderno, mas isso não é pra mim.

Além disso, tenho que administrar umas coisas lá no Brasil, sem que ela saiba.

A Bella está me ajudando com uma surpresa pra Ju, e estou ficando cada vez mais ansioso com isso.

Chego no instituto e vou direto pra sala de música. Preciso mandar pro Juzeh as guias que a Ju gravou ontem a noite. A voz dela está cada dia mais bonita.

Quando estou terminando de subir as músicas alguém bate na porta e me desconcentra.

- Pode entrar.

- E aí Bastião, tudo certo?

- Oi Cumpade, ta sim. Acabei agora de subir as músicas.

- Certo.

Ele se senta na cadeira em frente a minha mesa. A cara dele não é das melhores.

- Aconteceu alguma coisa cara?

- To preocupado.

- Fala aí, o que ta acontecendo.

- Ta chegando o dia de vocês irem embora e estou preocupado com o Lucca. Ele está muito apegado em vocês.

Eu pensei nisso ontem a noite. Me afastar dele vai ser o mais difícil.

- Eu a Ju conversamos sobre isso ontem a noite. Não queremos perder esse vínculo com ele. Ela ta morrendo de medo de que ele esqueça da gente.

- Esquecer ele não vai. Mas vai sofrer de não ter vocês por perto.

- Por que vocês não passam um tempo com a gente lá no Brasil?

- Seria maravilhoso bastião. Mas aí eu faço o que com o instituto?

- Verdade moço. A gente vai dar um jeito. E outra, logo vocês vão pro casamento.

- Então, sobre isso.

- O que foi agora Ryan?

- A gente tem que pedir autorização da Doutora Samantha pra isso. Você sabe, a gravidez da Jenna começou de um jeito turbulento.

Não gosto da possibilidade deles não irem pro casamento. Mas nossos filhos são prioridade.

- Calma bastião, vamos deixar pra pensar nisso quando estiver mais perto.

- Queria ter essa sua calma aí.

- Não adianta nada moço, sofrer antecipado só maltrata a gente.

- Sei bem. E aí, as músicas da Ju ficaram boas?

- Massa demais. Vou deixar cê ouvir em primeira mão.

Coloco as músicas pra tocar e vou explicando cada uma pra ele. Eu não poderia estar mais orgulhoso dela. As escolhas pra esse novo EP foram perfeitas, todas as músicas tem a cara dela. E se tudo der certo nossa composição vai entrar de faixa bônus. Juzeh quer que eu grave com ela. Mas não sei não. Nunca gravei música sem o cumpade.

...

O universo da maternidade é infinito. Em poucos dias eu já descobri tanta coisa. A gente acha que sabe tudo, porque tem sobrinhos, tem filhos de amigas. Mas quando é com a gente é tão diferente. Descobri que não sei nada e que esse universo é infinito.

Eu e Rodolffo seguimos fazendo nosso combinado. Todo dia separamos um tempinho e vemos coisas só sobre isso. Ele me deu um caderno pra cada coisa, gravidez, enxoval, nomes e casamento.

Já ele segue com seu bloco de notas no celular, o que me irrita, porque não posso ver o que ele anotou e nem incluir coisas. Então fiz um grupo, "nossa vidinha" no whatsapp, só eu e ele. Passo o dia todo mandando coisas e ele me responde com figurinhas. É fofo, mas irritante ao mesmo tempo.

A gente tem tanta coisa pra resolver e pra fazer. Mas hoje eu quero que seja diferente. Tenho um plano, ele só precisa topar.

Mando uma mensagem, "Vida, hoje não quero ir pra casa. Quero fazer uma coisa diferente. Topa?", não demora muito e ele responde, " Topo tudo com você gata".

Vou encontrar a Jenna na cozinha, vou precisar da ajuda dela.

- Ei Jenna.

- Fala Ju.

- Tive uma ideia. Tu me ajuda?

- Claro, o que você vai aprontar?

Explico tudo que pensei, e ela tem as coisas certas que preciso.

Passamos a tarde toda ajeitando tudo e agora estou aqui deitada com o Lucca tentando fazer ele dormir, enquanto ela toma banho.

- Bebê, o que você acha que é o neném da sua mamãe? Menina ou menino?

Ele me olha sério por um instante e não responde nada, só me puxa mais pra perto e encosta o nariz no meu.

- A madrinha acha que é menina.

- Menina?

- Isso, acho que você vai ter uma irmãzinha.

- Qué.

- Você quer uma irmãzinha bebê? Se for menina, cê vai ser o herói dela, e sempre vai ter que cuidar e proteger ela.

Mais uma vez ele fica em silêncio. Tadinho, nem entende o que eu to perguntando. Mas gosto tanto desse momentinho com ele. De ter esse papo cabeça. Ele pega um pouco do meu cabelo e enrola na mão.

- E o neném da madrinha, cê acha que é menino ou menina?

- Menina.

- Hummm será, a madrinha acha que é menino.

- Não, menina.

Ele se aninha no meu peito e está praticamente dormindo agora.

- Seu padrinho quer uma menina. Mesmo que ele fale que não tem preferência, todos os nomes que ele sugeriu até agora são de menina.

A respiração dele agora está mais lenta e profunda. Meu coração até doí de saber que daqui uns dias vou estar longe desse carinha. Vou sentir tanta saudade que nem sei.

Quando estou quase pegando no sono a Jenna entra no quarto.

- Ju?

Respondo baixinho pra não acordar ele.

- Oi. Ele dormiu.

- Que bom. Vem, os meninos chegaram.

- Ta bom.

Dou um beijo de leve na testa dele que me segura pela mão.

-Ô meu amorzinho, a madrinha tem que levantar. Prometo que amanhã eu volto.

Solto seus dedinhos com calma dos meus e saio do quarto deixando um pedaço do meu coração ali.

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