Cap.54

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Sara não sabia exatamente o que havia dado nela, entretanto, ver Ava sofrer nunca seria algo que ela fosse ver sem tentar fazer algo para ajudar. Era quase como se o estado de alerta que ela havia adotado nos últimos anos na cadeia se despertasse instantaneamente naquela situação.

Ela estava quase arrependida de estar ali parada atrás da cama de Pâmela. A mulher não dormia, estava fitando a parede exatamente como quando Ava havia entrado no quarto e, Sara só não desistiu porque precisava ao menos tentar.

-- Uh... Com licença... -- Usou seu tom mais doce, fazendo a mulher suspirar.

-- Eu estou cheia de remédio. -- A voz saiu mole, a língua ligeiramente dormente. -- Não preciso de mais, por enquanto. -- Falou sem emoção na voz. Sara mordeu o lábio inferior e se atreveu a dar a volta na cama, ficando de frente para a mulher, que ergueu demoradamente os cílios, levando os olhos de encontro aos azuis.

-- Eu não, uh... Não trabalho aqui. -- Explicou, ganhando a atenção da mulher ali sentada. -- Eu vim conversar com você, mas você parece cansada. Por que não dorme um pouco? -- Sugeriu, vendo a mulher negar levemente.

-- Eu tentei, mas eu não consigo. -- Ela disse baixo, vendo Sara suspirar.

-- Problemas com os sonhos? -- Sara indagou e a mulher negou com a cabeça, sentindo os olhos pesados.

-- Eu juro que eu queria dormir. -- Explicou. -- Qualquer coisa é melhor que minha realidade. -- Disse, passando a mão pelo rosto. -- Eu não sinto a minha língua direito. -- Disse rindo tristemente. Sara mordeu o lábio inferior e se aproximou alguns passos.

-- Posso, uh, te tocar? -- Perguntou mansamente. -- Sabe, para te ajudar a deitar. Sentada fica mais difícil do sono vir e acredito que você precise dormir, ao menos um pouquinho. -- Os olhos verdes da mulher analisaram Sara, assentindo mansamente antes de sentir a garota lhe acomodar sob as cobertas e se sentar ao seu lado.

-- Você veio para tirar a dor? -- A mulher perguntou e Sara franziu o cenho. Ela sabia que dizer coisas sem sentido às vezes era efeito da forte dosagem. Um riso amargurado saiu fraco por entre os lábios da mulher antes de suspirar. -- Me sinto tão mole que não consigo nem fazer o que eu queria.

-- E o que você queria fazer? -- Sara perguntou, iniciando uma leve carícia no dorso da mão da mais velha.

-- Chorar. -- A mulher sussurrou, fitando Sara com os olhos quase fechados.

-- É inevitável não sentir dor, só não é justo que você se culpe, uh? -- Sara falou calmamente. -- Que tal descansar? -- Mudou de assunto, vendo a mulher assentir.

-- Só um pouquinho. -- Pâmela murmurou, fechando os olhos.

-- Eu vou deixar você dormir tranquila, assim que acordar eu volto. -- O aperto em sua mão a fez parar eu voltar a fitar a mulher.

-- Fique. -- Foi tudo o que ela disse e, mesmo a mulher já estando de olhos fechados, Sara respondeu baixinho.

-- Eu não vou sair daqui então.

[...]

O barulho dos pássaros fez Sara arregalar os olhos rapidamente, percebendo que ainda estava ao lado da cama da mãe de Ava. Seu olhar foi de encontro ao da mulher e a viu encarando-a.

-- Quem é você? -- A voz saiu confusa, baixa e ainda arrastada.

-- Ontem a noite eu...

-- Eu me lembro. -- A mulher disse. -- Só quero saber quem é você.

-- Sou a, uh, vim com a Ava. -- Disse, não sabendo o quão bem a mãe dela recebia algumas informações relacionadas à filha.

-- Oh. -- Ela respondeu. -- Ela te mandou aqui? -- Indagou e Sara negou rapidamente.

𝙿𝚛𝚎𝚜𝚊 𝙿𝚘𝚛 𝙰𝚌𝚊𝚜𝚘 -𝓐𝓿𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬𝓮 Onde histórias criam vida. Descubra agora