Cap.16

238 36 17
                                    

Emergir após você ter quase se afogado te faz sentir aliviado, exasperado, inquieto, feliz e ao mesmo tempo desesperado. Sua respiração se descontrola e seu pulso acelera inexplicavelmente. Era exatamente assim que Sara  se sentia, como se quase houvesse se afogado.

Ava  era seu mar.

Os lábios quentes sobre os seus não a deixavam pensar, só sabia de algo: Precisava de mais e foi com tal pensamento que apenas permitiu a passagem da língua da mais alta , vibrando internamente com o contato.

Não era um beijo qualquer, era Ava  ali. Ava Sharpe. Ela não podia acreditar naquilo, não conseguia cair sua ficha de que beijava a garota que...

Ela vetou seus pensamentos quando a mais alta  chupou seu lábio inferior e enfiou as duas mãos por dentro de sua camisa, arranhando as unhas curtas em sua pele, causando a inflamação de todo seu corpo. Ava  voltou a aprofundar o beijo e Sara  a puxou mais para si, levando uma de suas mãos até os cabelos da nuca da mais alta  e a enfiando ali, os puxando de leve, sentindo a textura sedosa dos fios entre seus dedos enquanto suas línguas se encontravam em um perfeito encaixe.

Ava  arfou contra sua boca e apertou sua cintura, tentando juntar ainda mais os corpos, como se os tentasse fundir.

-- Detentas! -- A voz firme e ríspida de uma das guardas fez elas separarem as bocas, sem se afastarem totalmente. -- Aqui não é lugar para isso. -- Ambas assentiram, se afastando de vez uma da outra.

-- Não deveríamos ter feito isso. -- Sara, que possuía seu lábio ligeiramente avermelhado, falou e Ava  negou com a cabeça.

-- Claro que deveríamos. -- Disse, sem se importar com o fato de pouco tempo atrás ter pensado que deveria tentar não se apaixonar por Sara .

-- Você tem problemas de interpretação? -- Sara  perguntou. – Charlie disse para você não encarar e você me encarou; eu disse para não se aproximar e você vive criando conversas íntimas; agora digo que não deveríamos e você diz que sim.

-- Não tenho problemas de interpretação. Apenas sei formar opinião própria. -- Ava rebateu e Sara  suspirou, indo em direção à sua cela.

-- Pare de me seguir, Ava ! -- Sara  pediu.

-- Só quando me disser por que não deveríamos. -- Ava  falou e Sara  entrou em sua cela, subindo em sua cama e se virando para a parede. Ava  suspirou e se encostou na parede de frente para o beliche. -- Eu não sabia que te incomodava tanto assim. Desculpe.

-- Não faça isso.

-- Isso o quê? -- Ava  perguntou e Sara  se virou para ela.

-- Esse drama todo, me mostrando que estou reagindo exageradamente. -- Sara  explicou e Ava  a fitou, sorrindo fraco antes de assentir e se deitar em sua cama. O silêncio perturbador fez Sara  suspirar. -- Ava?

Silêncio.

-- Ava?

-- O que é? -- Ava  perguntou e Sara  se equilibrou em seu peito, olhando para a cama de baixo.

-- Está brava comigo? -- Sara  perguntou e Ava negou. -- Então por que não me respondeu de primeira?

-- Não faz sentido as discussões idiotas que temos. Você é um maldito ponto de interrogação que fica no final de toda frase minha. -- Ava  disse encarando-a, vendo os olhos azuis refletirem um lampejo de tristeza.

-- Desculpe. -- Sara  murmurou e Ava  se surpreendeu. -- Só há perguntas que para a minha proteção eu devo manter as respostas para mim. -- Sara  falou. -- Eu ainda tenho mais dois anos aqui, preciso manter meu foco.

-- Bem, se a minha advogada não for eficiente o suficiente eu ainda tenho vinte e dois, então boa sorte com seus dois anos. -- Ava  disse e Sara  mordeu seu lábio inferior, descendo da cama de cima.

-- O que fez para pegar tanto? -- Sara  perguntou curiosamente e Ava  foi para o canto de sua cama, esticando a mão para Sara .

A menor encarou sua mão com hesitação, até finalmente segurá-la,  sentindo a mais alta  lhe puxar para seu lado. Sara  respirou fundo, sentindo o cheiro do condicionador de Ava  impregnado no travesseiro.

-- Não fiz nada, mas fui acusada do assassinato do meu irmão e de ter tentado assassinar minha mãe. -- Ava  disse, vendo Sara  arregalar os olhos completamente surpresa. -- Eu não fiz isso, eu juro, mas sei que você não vai acreditar em mim. -- Ava  disse, brincando com a baínha de sua camisa.

Ela se surpreendeu quando sentiu Sara  acariciar seu rosto, fitando-a com seu olhar carregado de afeto.

-- Você poderá pegar uma boa grana quando processar esses babacas do Estado, uh? -- Sara  perguntou e Ava  assentiu ainda cética.

-- Você vai acreditar que sou inocente assim... fácil? -- Ava  perguntou e Sara  assentiu.

-- Já acreditei. -- Sara  disse sorrindo de lado e Ava  se virou para ela.

-- Eu não vou perder meu tempo processando eles. -- Ava  disse e Sara  franziu o cenho.

-- Por que não? -- Indagou sem jamais deixar de acariciar o rosto da mais alta , que suspirou ante ao toque gentil.

-- Porque eu quero viver minha vida, desfrutar das coisas que eu não dava valor antes, sabe? -- Ava  perguntou. -- Não quero ficar enfurnada em uma sala o dia todo diante de uma pilha de papéis. Quero ir no parque central e me deitar sobre o gramado enquanto admiro os pássaros no céu e sinto o ar fresco acariciar minha pele.

-- O futuro amor de sua vida poderia estar junto e ambos poderiam alimentar os patos. -- Sara  disse e Ava  sorriu, assentindo.

-- Me soaria um bom lugar para eu dizer que a amo. -- Ava  disse e Sara  suspirou. -- Uma pena nada disso existir. -- Falou e Sara  assentiu.

-- Mas você tem chances de ser feliz quando sair daqui, sabe? Viver, receber de bom tudo o que já ofereceu a este mundo. -- Sara  disse e Ava  subiu seu olhar, analisando meticulosamente cada palavra que Sara  havia dito.

-- Por que sempre fala como se eu tivesse sido uma heroína lá fora? -- Ava  perguntou e Sara negou, parando sua carícia.

-- Nada. -- Respondeu baixando seu olhar. -- Se sua advogada conseguir sua inocência você sai em quanto tempo?

-- Cinco meses e duas semanas. -- Ava  disse e Sara  assentiu, fitando os lábios tão atrativos da mais alta .

-- Acho que mudei de ideia sobre nos beijarmos. -- Ela sussurrou e Ava  a olhou cheia de expectativa. -- Mas me prometa que não fará tantas perguntas.

-- Não posso prometer isso. -- Ava  disse, umedecendo seus lábios. -- Mas gostei da ideia de voltarmos a nos beijar loucamente. -- Ava  disse sorrindo maliciosa e Sara  riu. -- Por que mudou de ideia? -- Indagou curiosa e a menor suspirou, passando um braço por seu corpo, a abraçando.

-- Porque sei que será inocentada e, bem, acho que eu gostaria de aproveitar o pouco que vou ter de você. -- Sara  confessou ruborizando e Ava  sentiu um arrepio cortar sua espinha. Quanto mais tempo passava, mais encantadora Sara  se tornava aos seus olhos.

-- Então pode aproveitar bastante. -- Ava  sussurrou, levando uma mão até a nuca de Sara  para então arrastar as unhas ali, vendo um novo brilho nascer nos olhos da menor.

Ela gemeu quando sentiu Sara  beijá-la e então a mais alta  a puxou mais para cima de si. Aparentemente os próximos meses não seriam nada ruins trancafiada ali com a menor.

Entretanto, de alguma forma, incomodava se imaginar saindo daquele presídio e deixar Sara  para trás. Ela espantou seus pensamentos ao ver o rumo que estavam tomando. Focaria no "agora" e, bem, o "agora" possuía a língua de Sara  se encontrando com a sua enquanto sua mão direita adentrava a camisa de Ava  para acariciar diretamente sua pele.

É, o "agora" era bem atrativo.

𝙿𝚛𝚎𝚜𝚊 𝙿𝚘𝚛 𝙰𝚌𝚊𝚜𝚘 -𝓐𝓿𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬𝓮 Onde histórias criam vida. Descubra agora