Cap.24

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Os olhos azuis fitaram Ava por longos minutos, vendo que a mais alta sequer se movia. Sara decidiu se aproximar dela, se deitando sobre a cama, ao seu lado, antes de tentar a comunicação.

-- Hey... -- A voz rouca soou docemente atrás de Ava e um braço circundou sua cintura. -- Não fique chateada comigo. -- Sara pediu e Ava torceu a boca, se virando para ela lentamente.

-- Não estou. -- Ela disse, fitando as orbes azuladas.

-- Então por que ficou assim? -- Sara indagou e Ava a abraçou, se encostando mais em seu corpo.

-- É que havíamos compartilhado algo... nosso. -- Ava disse envergonhada. -- E eu me senti tão bem, mas aí a realidade dos segredos e mistérios bateu em minha porta cedo demais. -- Confessou e Sara assentiu, decidida a ceder mais um pouco.

-- Se eu te contar a segunda vez que nossas vidas se cruzaram eu ainda poderei dormir abraçadinha com você? -- Sara perguntou e os olhos curiosos de Ava encontraram os seus.

-- Sim. -- Ela respondeu, se aconchegando nos braços de Sara antes de sentir a menor puxar o cobertor para cobri-las.

-- Desta vez precisarei ir mais a fundo em alguns detalhes.

-- Quanto mais fundo melhor. -- Ava disse, ouvindo Sara rir alto ao ouvir aquilo, só então caiu em percepção do que havia dito. -- Hey, eu não disse com malícia! -- Falou rindo e Sara assentiu.

-- Certo, desculpe. -- Ela disse iniciando uma carícia leve e mansa no braço de Ava. -- Dessa vez tudo começou em um funeral. -- Sara disse, fazendo Ava erguer o rosto para ela com preocupação.

-- Já não sei se quero ouvir. -- Ava disse e Sara depositou um beijo na ponta de seu nariz.

-- Então eu não falo. -- Sara disse e Ava negou rapidamente.

-- Não, por favor... -- Ela insistiu e Sara riu, assentindo.

-- Bem, eu tinha uns dezoito anos e ainda precisava muito, muito, muito mesmo de dinheiro... Um dia vi na televisão que um empresário muito conhecido e importante havia falecido... -- Sara começou. -- Eu sequer me importei em gravar o nome dele, o que havia chamado a minha atenção era o local do enterro. Era perto de onde eu estava e era aberto ao público.

-- O enterro do meu pai foi assim. -- Ava cortou e Sara a fitou, levando uma mão até seu rosto para acariciar a região.

-- Naquele dia eu decidi investir todo o dinheiro que eu tinha em flores. -- Sara confessou. -- Comprei de todos os tipos e passei horas fazendo arranjos e buquês. Peguei todas as flores e as embrulhei em um enorme tapete, com cuidado para não danificá-las e, uh, as levei para o enterro do homem para vendê-las. -- Disse, analisando a ruga que se formava no rosto de Ava. -- Chegando lá eu te vi. -- Ava paralisou, ligando os pontos.

-- Era... você estava... você... -- Ava estava atônita e Sara apenas a abraçou mais forte, fitando-a.

-- Sim, era o enterro do seu pai. -- Informou e Ava sentiu seu corpo fraquejar e uma antiga dor se reacender em seu peito. -- Você me salvou aquele dia também.

-- Como? -- A voz vacilante perguntou curiosa. -- Eu mal podia me salvar.

-- Eu te vi lá, sozinha, sentada no gramado, mais afastada de todos, chorando. Tão frágil... -- Sara disse em um suspiro. -- Você estava com o corpo mais desenvolvido desde a última vez que havia te visto, tão linda como sempre, só que chorava incessantemente. Eu já disse... Ver você chorar me quebra.

-- Você foi falar comigo? -- Ava perguntou e Sara assentiu. -- Mas eu não lembro. -- A menor riu baixinho ao ouvir aquilo.

-- É porque nunca cheguei até você. -- Falou. -- Não diretamente.

-- Covarde. -- Ava brincou e Sara riu, selando-lhe os lábios com os seus.

-- Eu posso me defender? -- Sara indagou contra os lábios da mais alta e Ava sorriu, assentindo. -- Bem, eu peguei o ramo de flores mais bonito que havia entre os meus e deixei as outras flores lá, unicamente para me aproximar de você, mas antes eu escrevi um bilhete. Eu queria agradecer sabe? Me sentia em débito, porém também queria te consolar... -- Ela disse.

-- Eu não acredito... -- Ava proferiu boquiabierta.

-- Deixei as flores ao seu lado junto com meu bilhete e estava pronta para me sentar ao seu lado e te tomar em meus braços ainda que você não quisesse. -- Falou veemente. -- Céus, você sequer havia me visto, estava chorando tanto... -- Sara umedeceu seus lábios antes de continuar. -- Mas aí o grito de um dos seguranças do local chamou a minha atenção. Quando olhei ele queria jogar fora minhas flores. Eu... precisei ir, sabe? Era todo o meu dinheiro ali. -- Confessou tristemente.

-- Foi você... -- Ava disse surpresa e Sara projetou um meio sorriso.

-- Você gostou das flores?

-- Amei, mas o bilhete... -- Ava disse sorrindo bobamente.

-- Fico feliz. -- Sara disse sorrindo junto. -- Bem, o segurança queria jogar tudo fora e me expulsar dali, dizendo que eu não tinha licença e eu tive que me humilhar implorando para ele, por favor, não me expulsar. Ficamos longos minutos debatendo, mas aí você chegou perguntando o que estava acontecendo ali. -- Sara disse rindo nostálgica. -- Novamente mostrando o quão destemida e incrível você era. -- Disse sorrindo, deslizando a vértice de seu nariz ao longo do rosto de Ava, fazendo a mais alta ter suas batidas cardíacas irregulares.

-- Não acredito que estive do seu lado... -- Ava disse ainda incrédula.

-- Ele te disse que eu não tinha autorização e você o disse para calar a boca antes que fosse despedido, que seu pai havia falecido enquanto ele pensava naquela estupidez e então ele se calou e me deixou ficar. Vendi todas as flores aquele dia.

-- Não lembro do seu rosto... -- Ava disse e Sara sorriu.

-- Não poderia lembrar mesmo...

-- babe, mas você disse que você me conheceu só por nome dessa vez, não por rosto.

-- Não foi dessa vez que te conheci por nome... Dessa vez ainda não sabia que você era Ava Sharpe , mas já descobri que tinha dinheiro por ser filha do empresário que havia partido.

-- Oh...

-- Mais uma vez você foi um rosto sem nome para mim, porém salvou novamente a minha pele. Eu realmente precisava daquele dinheiro.

-- Eu ainda guardo o seu bilhete até hoje... Ele significou muito para mim, mesmo nunca sabendo quem havia me dado.

-- Ainda lembra o que dizia? -- Sara indagou e Ava sorriu.

-- Como esquecer? -- Perguntou nostálgica. -- Ele foi a razão para eu conseguir continuar.

-- Jura? -- Sara perguntou incrédula.

-- U-hum. -- Ela disse assentindo e logo afundou o rosto do pescoço de Sara. -- Não deveria ter me dito que foi você a dona daquele bilhete.

-- Por quê? -- Sara indagou e Ava mordeu o lábio inferior.

-- Porque faz eu ficar ainda mais... -- Não, não deveria dizer. E se Sara desse o famoso surto de proteção e decidisse se afastar dela para protegê-la? Não queria ficar longe dela.

-- Mais o quê? -- Sara indagou e a mais alta suspirou, negando com a cabeça.

-- Ainda mais grata. -- Falou, decidida a jamais dizer em voz alta o quão apaixonada por Sara ela ficava a cada dia que passava.

𝙿𝚛𝚎𝚜𝚊 𝙿𝚘𝚛 𝙰𝚌𝚊𝚜𝚘 -𝓐𝓿𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬𝓮 Onde histórias criam vida. Descubra agora