Os olhos azuis fitaram Ava por longos minutos, vendo que a mais alta sequer se movia. Sara decidiu se aproximar dela, se deitando sobre a cama, ao seu lado, antes de tentar a comunicação.
-- Hey... -- A voz rouca soou docemente atrás de Ava e um braço circundou sua cintura. -- Não fique chateada comigo. -- Sara pediu e Ava torceu a boca, se virando para ela lentamente.
-- Não estou. -- Ela disse, fitando as orbes azuladas.
-- Então por que ficou assim? -- Sara indagou e Ava a abraçou, se encostando mais em seu corpo.
-- É que havíamos compartilhado algo... nosso. -- Ava disse envergonhada. -- E eu me senti tão bem, mas aí a realidade dos segredos e mistérios bateu em minha porta cedo demais. -- Confessou e Sara assentiu, decidida a ceder mais um pouco.
-- Se eu te contar a segunda vez que nossas vidas se cruzaram eu ainda poderei dormir abraçadinha com você? -- Sara perguntou e os olhos curiosos de Ava encontraram os seus.
-- Sim. -- Ela respondeu, se aconchegando nos braços de Sara antes de sentir a menor puxar o cobertor para cobri-las.
-- Desta vez precisarei ir mais a fundo em alguns detalhes.
-- Quanto mais fundo melhor. -- Ava disse, ouvindo Sara rir alto ao ouvir aquilo, só então caiu em percepção do que havia dito. -- Hey, eu não disse com malícia! -- Falou rindo e Sara assentiu.
-- Certo, desculpe. -- Ela disse iniciando uma carícia leve e mansa no braço de Ava. -- Dessa vez tudo começou em um funeral. -- Sara disse, fazendo Ava erguer o rosto para ela com preocupação.
-- Já não sei se quero ouvir. -- Ava disse e Sara depositou um beijo na ponta de seu nariz.
-- Então eu não falo. -- Sara disse e Ava negou rapidamente.
-- Não, por favor... -- Ela insistiu e Sara riu, assentindo.
-- Bem, eu tinha uns dezoito anos e ainda precisava muito, muito, muito mesmo de dinheiro... Um dia vi na televisão que um empresário muito conhecido e importante havia falecido... -- Sara começou. -- Eu sequer me importei em gravar o nome dele, o que havia chamado a minha atenção era o local do enterro. Era perto de onde eu estava e era aberto ao público.
-- O enterro do meu pai foi assim. -- Ava cortou e Sara a fitou, levando uma mão até seu rosto para acariciar a região.
-- Naquele dia eu decidi investir todo o dinheiro que eu tinha em flores. -- Sara confessou. -- Comprei de todos os tipos e passei horas fazendo arranjos e buquês. Peguei todas as flores e as embrulhei em um enorme tapete, com cuidado para não danificá-las e, uh, as levei para o enterro do homem para vendê-las. -- Disse, analisando a ruga que se formava no rosto de Ava. -- Chegando lá eu te vi. -- Ava paralisou, ligando os pontos.
-- Era... você estava... você... -- Ava estava atônita e Sara apenas a abraçou mais forte, fitando-a.
-- Sim, era o enterro do seu pai. -- Informou e Ava sentiu seu corpo fraquejar e uma antiga dor se reacender em seu peito. -- Você me salvou aquele dia também.
-- Como? -- A voz vacilante perguntou curiosa. -- Eu mal podia me salvar.
-- Eu te vi lá, sozinha, sentada no gramado, mais afastada de todos, chorando. Tão frágil... -- Sara disse em um suspiro. -- Você estava com o corpo mais desenvolvido desde a última vez que havia te visto, tão linda como sempre, só que chorava incessantemente. Eu já disse... Ver você chorar me quebra.
-- Você foi falar comigo? -- Ava perguntou e Sara assentiu. -- Mas eu não lembro. -- A menor riu baixinho ao ouvir aquilo.
-- É porque nunca cheguei até você. -- Falou. -- Não diretamente.
-- Covarde. -- Ava brincou e Sara riu, selando-lhe os lábios com os seus.
-- Eu posso me defender? -- Sara indagou contra os lábios da mais alta e Ava sorriu, assentindo. -- Bem, eu peguei o ramo de flores mais bonito que havia entre os meus e deixei as outras flores lá, unicamente para me aproximar de você, mas antes eu escrevi um bilhete. Eu queria agradecer sabe? Me sentia em débito, porém também queria te consolar... -- Ela disse.
-- Eu não acredito... -- Ava proferiu boquiabierta.
-- Deixei as flores ao seu lado junto com meu bilhete e estava pronta para me sentar ao seu lado e te tomar em meus braços ainda que você não quisesse. -- Falou veemente. -- Céus, você sequer havia me visto, estava chorando tanto... -- Sara umedeceu seus lábios antes de continuar. -- Mas aí o grito de um dos seguranças do local chamou a minha atenção. Quando olhei ele queria jogar fora minhas flores. Eu... precisei ir, sabe? Era todo o meu dinheiro ali. -- Confessou tristemente.
-- Foi você... -- Ava disse surpresa e Sara projetou um meio sorriso.
-- Você gostou das flores?
-- Amei, mas o bilhete... -- Ava disse sorrindo bobamente.
-- Fico feliz. -- Sara disse sorrindo junto. -- Bem, o segurança queria jogar tudo fora e me expulsar dali, dizendo que eu não tinha licença e eu tive que me humilhar implorando para ele, por favor, não me expulsar. Ficamos longos minutos debatendo, mas aí você chegou perguntando o que estava acontecendo ali. -- Sara disse rindo nostálgica. -- Novamente mostrando o quão destemida e incrível você era. -- Disse sorrindo, deslizando a vértice de seu nariz ao longo do rosto de Ava, fazendo a mais alta ter suas batidas cardíacas irregulares.
-- Não acredito que estive do seu lado... -- Ava disse ainda incrédula.
-- Ele te disse que eu não tinha autorização e você o disse para calar a boca antes que fosse despedido, que seu pai havia falecido enquanto ele pensava naquela estupidez e então ele se calou e me deixou ficar. Vendi todas as flores aquele dia.
-- Não lembro do seu rosto... -- Ava disse e Sara sorriu.
-- Não poderia lembrar mesmo...
-- babe, mas você disse que você me conheceu só por nome dessa vez, não por rosto.
-- Não foi dessa vez que te conheci por nome... Dessa vez ainda não sabia que você era Ava Sharpe , mas já descobri que tinha dinheiro por ser filha do empresário que havia partido.
-- Oh...
-- Mais uma vez você foi um rosto sem nome para mim, porém salvou novamente a minha pele. Eu realmente precisava daquele dinheiro.
-- Eu ainda guardo o seu bilhete até hoje... Ele significou muito para mim, mesmo nunca sabendo quem havia me dado.
-- Ainda lembra o que dizia? -- Sara indagou e Ava sorriu.
-- Como esquecer? -- Perguntou nostálgica. -- Ele foi a razão para eu conseguir continuar.
-- Jura? -- Sara perguntou incrédula.
-- U-hum. -- Ela disse assentindo e logo afundou o rosto do pescoço de Sara. -- Não deveria ter me dito que foi você a dona daquele bilhete.
-- Por quê? -- Sara indagou e Ava mordeu o lábio inferior.
-- Porque faz eu ficar ainda mais... -- Não, não deveria dizer. E se Sara desse o famoso surto de proteção e decidisse se afastar dela para protegê-la? Não queria ficar longe dela.
-- Mais o quê? -- Sara indagou e a mais alta suspirou, negando com a cabeça.
-- Ainda mais grata. -- Falou, decidida a jamais dizer em voz alta o quão apaixonada por Sara ela ficava a cada dia que passava.
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𝙿𝚛𝚎𝚜𝚊 𝙿𝚘𝚛 𝙰𝚌𝚊𝚜𝚘 -𝓐𝓿𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬𝓮
RomanceO que você faria se, por um golpe do destino, você fosse presa mesmo sendo Inocente? Ava Sharpe não se assustou tanto quando foi mandada ao julgamento, afinal sua família tinha a conta bancária transbordando dinheiro o suficiente para pagar o melho...