Prólogo

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Ava chegava de seu trabalho extremamente animada aquele dia, afinal tinha conseguido o telefone de Cindy, sua companheira de escritório. Seus terno social feminino cinza moldava sua silhueta de uma forma estonteante para quem a visse; sua saia até um pouco abaixo dos joelhos modelava seu traseiro, dando confiança para quem sabia ser dona das mais belas curvas; nos pés seu salto agulha preto, que combinava com a armação de seus óculos. Seus brincos de ouro combinavam com sua pulseira e relógio, enquanto no pescoço ela levava seu simples colar de coração. O havia ganhado quando era mais nova, de seu pai.

O coração se abria e nele havia o espaço para uma pequena foto. O senhor Sharpe se recusou a deixar a menina colocar uma foto dele ali, disse que seu desejo era que o coração fosse ocupado por quem a garota se apaixonasse e realmente entregasse seu coração, no intuito de formar, um dia, uma família. Ava jamais se apaixonou tão intensamente, portanto, andava com o coração dourado vazio em seu peito, apenas para manter a lembrança de seu falecido pai.

A porta da frente rangeu quando ela a empurrou e, no mesmo instante, seus olhos se esbugalharam, sua boca secou e seu coração se estilhaçou.

O sangue inundava a cozinha, enquanto Ava não sabia como reagir. Desesperada, agiu como qualquer pessoa agiria: Correu até o corpo desacordado de seu irmão no chão. Seu olhos já estavam embaçados devido às lágrimas e então ela levou seu dedo até a artéria do pulso do rapaz, apenas para confirmar: Sem pulsação. Decidiu tentar no pescoço, somente para constatar: Seu irmão estava morto.

Seu irmão caçula, de apenas vinte anos, estava estirado no meio de sua cozinha, morto.

Morto.

Ava , entre soluços intensos, abraçou o corpo e chorou alto, sem se importar de que o sangue a sujaria. Seu irmão se fora, o que importava uma porcaria de terno sujo?

Após alguns instantes, com as mãos tremendo, alcançou sua bolsa, que estava jogada ao seu lado, e retirou seu aparelho celular, discando o número da emergência.

Um soluço chamou sua atenção assim que desligou, fazendo-a se virar para a pia, sua boca se amargou e seu coração se acelerou.

-- O que... O que você fez? -- Ava gritou, vendo a faca encharcada de sangue na mão de sua mãe, que agora se entregara de vez ao choro.

-- Ele me chamou de louca... Eu não sou... Eu não quis... oh céus! -- A mulher tremulava. Ava , tomada pelo ódio, se levantou e o ruído de seu salto pelo assoalho se destacava no ambiente silencioso.

-- Você o matou? -- Ava perguntou, vendo os olhos sem vida de Pamela se encontrarem com os seus.

-- Eu não quis. -- A mulher disse, completamente fora de si.

-- Oh, céus! Não, não, não... -- Ava repetiu para si, sabendo que sua mãe não estava sob efeito de seus remédios. -- Me dê isso. -- Ava disse, tentando pegar a faca da mão de sua mãe, porém a mulher esquivou-se de sua filha.

-- Eu vou ser presa, não vou? -- Perguntou desesperada.

-- Você precisa ser internada. Você o matou! -- Ava gritou, mesmo sabendo que aquele não era o jeito certo de se agir naquela situação, mas ela não podia se conter: A dor estava lhe corrompendo. -- Me dê isso. -- Ava pediu, avançando em sua mãe e puxando a faça de sua mão.

-- Me devolva, eu vou fazer o mesmo comigo. -- A mulher gritou, sendo segurada por Ava , quem enfiou, a força, as mãos da mulher embaixo da água para lavá-la. Seu corpo foi empurrado, mas Ava foi mais rápida e segurou a faca, impedindo sua mãe de cometer suicídio.

-- Não, mamãe! -- Gritou. Sua mãe sofria de um distúrbio mental, porém passou os últimos anos de sua vida tomando remédio que uma amiga de Nate lhe dava sem receitas, pois jamais aceitou ir para um manicômio. Como tomava os remédios corretamente, a família passou a não se importar em ir atrás de nada, porém como Ava provaria que sua mãe sofria disso tão rapidamente? Tinha certeza que o diagnóstico demoraria e que demorariam longos meses em um tribunal. Oh céus!

Sua mãe seria presa ou internada, caso conseguissem provar seu distúrbio, o que era obvio que conseguiriam, afinal ele existia.

-- Ava , pare! -- A mulher gritou desesperada. -- Pare! Pare! Pare!

-- Mãos para o alto e solte essa faca! -- Ava ouviu de supetão, fazendo-a dar um passo atrás e erguer suas mãos na cabeça.

-- Não é o que parece. Não posso soltar essa faca, pois minha mãe pode se matar. Alguém poderia vir pegá-la, por favor? -- Ava pediu enquanto tremia pela adrenalina.

-- Ela tentou me matar também. Ela nos odeia! Nos odeia! -- Pamela gritou. -- Graças a Deus vocês chegaram.

-- Senhorita, você está presa por flagrante de homicídio e tentativa de homicídio duplo. Tudo o que disser agora será usado contra você no tribunal. -- Ava fechou os olhos e suspirou, tendo um único pensamento dominando sua mente:

Puta merda. Fodeu!


-- Todos as testemunhas do bairro afirmam que a senhorita Ava Sharpe heywood vivía em constantes desentendimentos com seu irmão Nate heywood. -- A mulher dizia no tribunal. -- Nenhuma prova foi obtida de um possível distúrbio na senhora Pâmela Sharpe , por isso não submeteremos a mesma a um exame clínico. -- Ava tremia, como assim nenhuma prova? Onde estava sua irmã, afinal? Sofia sabia de tudo, ela conhecia a pessoa que costumava dar remédios ilegalmente a sua mãe, porém a Sharpe mais nova sumira do mapa nos últimos tempos. -- Após analisar todos os fatos e todas as provas aqui apresentadas, eu declaro a senhorita Ava Sharpe Heywood culpada por homicídio culposo e tentativa de homicídio da senhora Pâmela Sharpe, tendo como pena vinte e dois anos de prisão, sem direito à fiança ou à redução de pena por bom comportamento.

O quê? Ava sentiu seu estômago se revolver e uma enorme vontade de vomitar. Sua pressão baixou e ela precisou sentar-se novamente para não cair. As vozes se tornaram um som distante e sua vista ficou completamente embaçada. Que porra estava acontecendo com sua vida? Aquilo só poderia ser um pesadelo. Um dos piores.

𝙿𝚛𝚎𝚜𝚊 𝙿𝚘𝚛 𝙰𝚌𝚊𝚜𝚘 -𝓐𝓿𝓪𝓵𝓪𝓷𝓬𝓮 Onde histórias criam vida. Descubra agora