↬𝟎𝟐↫

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Nesse momento um novo estrondo foi ouvido, assim como o tilintar da fechadura da porta a cair no chão, quando esta foi finalmente arrombada. Um homem de capuz entrou e empunhou o arco, preparando-se para disparar contra mim.

Sem hesitar um segundo que fosse, Mickey começou a ladrar e a morder as pernas do intruso. Já o rapaz ruivo pegou a jarra com a qual me ameaçou anteriormente e jogou-a diretamente na cabeça do homem.

— Vamos! — gritou ele.

Reagindo ao grito dele, corremos para o corredor do prédio. Mas quando eu ia me virar na direção das escadas que nos levariam aos andares superiores, ele pegou-me no pulso e arrastou-me para as escadas que davam acesso aos andares de baixo.

O pequeno de quatro patas corria à nossa frente como se soubesse qual era o plano do dono.

Quando chegamos ao último andar, pensei mesmo que talvez fôssemos sair para a rua, o que seria uma autêntica loucura. Afinal, a rua estava repleta deles. Mas não foi isso que aconteceu. Ele puxou-me para um corredor que nos levou à cave do edifício. Ao entrarmos na mesma, trancou a porta e caminhou até junto de um armário que ali se encontrava.

— Ajuda-me a empurrar isto, por favor.

Olhei para ele e obedeci ao seu pedido. Com esforço, empurramos o mesmo. Cheguei mesmo a pensar que talvez ele o quisesse colocar em frente à porta. Mas não. Ao desviarmos o armário, reparei numa numa sarjeta no chão. Ele largou o armário e eu fiz o mesmo. Abrindo a sarjeta do que parecia levar a um túnel, ele desceu. Fiquei ali parado a olhar. Eu estava chocado.

Primeiro, de onde é que surgiu essa coragem toda, porque se bem me lembro, ele estava cheio de medo quando estávamos no seu apartamento.

Segundo, que prédio é esse que tem uma sarjeta no seu interior? Já é raro uma cave, agora, uma sarjeta? E como é que ele sabe da existência dela?

Um estrondo acordou-me dos meus pensamentos. Um dos arqueiros estava novamente a tentar arrombar a porta.

— Vens ou vais continuar aí especado a olhar para o nada? — perguntou ele.

Desci para o piso do subsolo e fechei a tampa da sarjeta. Quando os meus olhos finalmente se adaptaram à escuridão pude ver que estávamos nos esgotos de Seul.

O cheiro era horrível e de facto se não fosse por uma questão de vida, eu mataria o ruivo neste exato momento por me trazer para um lugar desses.

— Precisamos nos despachar. Tenho certeza que eles vão nos seguir por aqui. — disse ele, começando a caminhar.

— Vamos à minha casa. Não deve ser difícil fazer o caminho por aqui. Preciso ir buscar umas coisas e podemos nos preparar melhor lá. Também quero ir buscar a Holly.

— Quem é Holly?

— A minha filha.

— Tens uma filha? Uau. A tua mulher deve ser muito sortuda.

Sorri com o comentário. Impressão minha ou ele acabou de flertar comigo? Impressão ou não, comecei a rir que nem um louco, o que o fez parar de andar e olhar para mim.

— Qual é a graça?

— Nenhuma, nenhuma. — disse mordendo o lábio para tentar parar de rir.

Continuamos a caminhar e eu aproveitei para soltar no ar o que estava a pensar.

— Nunca pensei que um desconhecido teria ciúmes de mim.

Desta vez quem gargalhou alto foi ele.

— Bom ver que até numa situação de morte não deixas de ser convencido. Nem imagino no dia a dia. Os homens são realmente todos iguais.

•ʀᴜɴ ʙᴛs•sᴏᴘᴇ•Onde histórias criam vida. Descubra agora