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- Senhorita Riley? - a voz fraca do seu chofer a assustou. - Pesadelos de novo? - levantou-se, sentando-se no banco de trás do carro.

Carl a olhava através do espelho, seus olhos buscando por alguma coisa que indicasse algo de errado. Lisandra olhou ao redor, como se conferindo se ainda estava no carro.

- Já estamos chegando? - perguntou, ignorando totalmente a pergunta do chofer.

- Estamos perto de casa. - o senhor de quase sessenta anos respondeu, voltando seu olhar para o trânsito ao seu redor, antes de completar sua fala. - O trânsito não está tão complicado hoje.

- Por quanto tempo dormi?

- Desde que saímos do estacionamento da escola, Senhorita Riley.

- Lize. - ela disse, suspirando em seguida. - Quanto tempo faz? Seis ou sete anos que batemos na mesma tecla? - o chofer apenas sorriu em resposta. O resto da trajetória foi feita em silêncio.

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Chegando à mansão, o enorme e pesado portão negro se abriu, dando passagem. Carl percorreu lentamente pela estrada que levava até a porta principal da mansão Riley, localizada no Corredor da Vitória, um dos bairros nobres da cidade de Salvador. Estavam no mês de maio, o outono se manifestava de forma clara, como quase nunca ocorria na cidade, os dias se resumindo a chuvas e mais chuvas.

Carl parou em frente a porta principal, desceu do carro e foi até a porta do banco de trás, abrindo-a para que Lisandra descesse. Ela agradeceu e subiu a escadaria. Carl fez um pequeno aceno com a cabeça e voltou-se para o carro. - Entrou em casa e se sentiu aliviada ao constatar que as paredes permaneciam da mesma cor. Caminhou pelo corredor que levava à cozinha, as paredes estavam lisas, sem nenhum quadro, como sempre fora. Retornou à sala.

- Mãe?! - chamou e aguardou por quase um minuto então ouviu, mesmo que distante, sua mãe responder,

- Oi! Estou com a Lucy, no quarto dela. - suspirou em alívio ao ouvir a resposta de sua mãe e dirigiu-se ao corredor do escritório do pai.

Os quadros dos membros mais antigos da família enfeitavam as paredes do corredor. Passou pela biblioteca, e parou em frente a porta do escritório. Colocou as mãos no pescoço e sentiu seus pelos do corpo arrepiando-se ao lembrar-se da sensação daquelas mãos frias segurando-a ali, naquela região. Olhou a porta atrás de si, a que levava para o jardim da parte leste. Colocou a mão na maçaneta e hesitando, girou.

- Menina? - a voz da governanta da casa a fez sobressaltar, tamanha a surpresa.

- Lucy! - exclamou, fechando a porta no reflexo do susto.

A governanta já estava na faixa dos 65 anos. Tinha cabelos grisalhos e vestia um conjunto de saia e blazer azul marinho, com o brasão da família Riley que consistia em um hexágono com dois dragões dentro e as iniciais do patriarca e matriarca da família, JR e CR, Joshua e Camille Riley; bordada no lado esquerdo do blazer. Por dentro do blazer, ela vestia uma blusa de linho, cinza. A pele enrugada, da face e das mãos, não mentia a idade em que se encontrava. Lucy trabalhava para a família Riley há anos. Foi babá de Mark II, pai da Lisandra; e quando a mãe dele faleceu, ela foi como uma segunda mãe para ele. E quando o seu pai faleceu, cerca de um ano após a morte de sua companheira, deixando-o sozinho, aos 19 anos, Lucy sempre esteve presente. Já fazia parte da família àquela altura, ajudando-o e aconselhando-o em todos os momentos. E, por incrível que pareça, fazia o mesmo com Lisandra. Seus olhos pequenos, com pequenas rugas fitavam a garota diante dela. Lisandra sabia o que aquele olhar queria dizer e, revirando os olhos, disse:

- Eu acabei de chegar, Lucy. Ainda está claro e o tempo está chuvoso, eu não iria fugir.

- E desde quando esses fatores te impediram de usar essas escadas ou pular a janela do seu quarto? - a governanta sorriu.

Segredos dos Mundos - Livro I: A Encaminhadora de AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora