🌒 19 🌘

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Lisandra acordou assustada e confusa na manhã seguinte. A mulher grávida lhe parecia muito familiar, apesar de nunca a ter visto antes. O alarme do celular tocava incessantemente e a luz do sol invadia seu quarto através das cortinas. O suor escorria pelo seu pescoço, os cachos grudavam na pele... aquele sonho era diferente e estranho, mas tão aconchegante e triste ao mesmo tempo. Sentiu dentro de si a raiva da mulher, ao mesmo tempo em que teve pena dela. Olhou no visor do celular, eram seis e quarenta da manhã. Decidiu guardar mais aquele pesadelo para si e levantou-se para começar a se arrumar e ir à escola.

Cristiana já estava pronta e Alícia ainda estava deitada, parecia que a preguiça a estava consumindo naquele dia. Virou para o lado na cama e decidiu não ir para a escola. Cristiana bateu na porta algumas vezes, mas ela não quis se levantar e aquilo foi estranho, pois, mesmo sem vontade alguma, Alícia sempre ia para as aulas. A necessidade de notas ótimas e manter os estudos sempre em foco para conseguir uma vaga em uma boa universidade, era maior que qualquer outra coisa; mas, naquele momento, Alícia não pensava em notas nem em universidades. O peito apertava de saudades, queria voltar para o Brasil, para o colo de sua mãe.

Havia três dias desde que começara a se sentir assim e tudo isso, depois de ouvir Ariel dizer que não a queria por perto. Não que ela nunca tenha se apaixonado por um garoto antes, mas com ele era diferente, era mais forte... quase surreal. Antes mesmo de vê-lo ao longe, seu coração já notava sua presença e batia descompassado, o som de sua voz era como música aos seus ouvidos e aqueles lindos olhos azuis com pintinhas douradas... tão profundos como um oceano e, na maioria das vezes que a olhava, frios como um gelo. Mais uma vez Alícia virou de barriga para cima e encarou o teto, sentiu falta do colo de sua mãe... sabia que viajou com as amigas por vontade própria, mas agora estava arrependida. Queria voltar, ficar em seu quarto de paredes lilases com prateleiras e estantes que guardavam seus livros e biscuits.

— O que eu tinha na cabeça quando concordei com isso? — perguntou a si mesmo, com a voz rouca e baixa, sentindo as primeiras lágrimas rolando pelo seu rosto.

— Lili? — agora era Lisandra. — Posso entrar? — ela permaneceu em silêncio, mas isso não foi o suficiente. A amiga tentou entrar e teria conseguido se a porta não estivesse trancada. — Qual é, amiga? O que está acontecendo, hein? — o que está acontecendo? Ela também queria saber... não se reconhecia mais, isso nunca acontecera no Brasil, ela nunca tinha se apaixonado assim...

— Nos falamos mais tarde. — foi a única coisa que conseguiu dizer e calou-se novamente.

Mais uma vez lembrou-se de Ariel e de sua paixão não correspondida. Precisava de colo e do amor de sua mãe, então, sem mais demora, pegou o celular e ligou para ela. Sabia que a ligação custaria caro, mas precisava daquilo mais que economizar nos créditos do celular. Com os olhos fechados, esperou pacientemente até que a mãe atendeu no quinto toque.

— Oi meu amor! — disse Júlia com uma enorme alegria na voz. — Como estão as coisas por aí? Falei com a Sheila ontem pelo Skype, ela me disse que você e as meninas já fizeram amizades e tudo. São garotos?

— Mãe... — Alícia respirou fundo antes de continuar e uma lágrima desceu por seu rosto.

— Lili, meu bem, você está bem?

— Eu não sei, mãe. — soltou de uma única vez. — Só sinto um peso no peito, uma confusão aqui dentro...

— Tem um garoto envolvido nisso?

Alícia soltou o ar abruptamente pela boca, repassando os acontecimentos dos últimos dias. Ariel era um garoto? Tecnicamente, sim. Mas ele era um Anjo e eles não têm sexo. Eles incorporam o sexo da casca que usa. Tudo bem que havia aprendido isso assistindo algumas séries hollywoodianas, mas não havia um ser na Terra que discordasse ou contrariasse esse dito, então seria assim até que alguém conseguisse provar o contrário. Pensou mais um pouco sobre a questão e por fim respondeu à mãe, que ainda esperava ansiosa na linha do outro lado.

Segredos dos Mundos - Livro I: A Encaminhadora de AlmasOnde histórias criam vida. Descubra agora