Segredos dos Mundos - Livro I: A Encaminhadora de Almas

🌒 17 🌘

O horário do almoço era o mais mágico e perfeito para as três amigas, certo? Errado! Esse era o horário em que havia mais discórdia. Antes de se mudar para Vangoury, Alícia e Cristiana discutiam com Graziela e Luíza sobre a quantidade de calorias que cada uma ingeria. Graziela sempre comia o menos possível e Cristiana a enchia a paciência para comer um pouco mais. Agora, Lisandra via a história se repetir, mas entre Alícia e Cristiana. Alícia insistia em comer apenas vegetais e frutas no almoço e Cristiana exigia que a amiga comesse algo mais sustentável e que a fizesse aguentar e passar o dia até chegar em casa, mas a garota rejeitava. Lisandra assistia a tudo, calada e sem ânimo para mandá-las calar a boca. Sua mente ainda estava no beijo que Naomi dera em David e na forma como ele reagiu... ela sabia que não podia confiar, mesmo assim decidiu dar uma chance. Iria falar com ele durante o almoço, mas agora já não valia de nada. Soltou um suspiro e olhou ao redor.

— Por que nos sentamos perto dos riquinhos metidos? — questionou Lisandra, observando a mesa ao lado composta por mais ou menos sete estudantes, todos com roupas de marcas se sentindo os maiorais em uma conversa altamente divertida entre eles, rindo à toa e tirando sarro de uma garota que atravessava às pressas o refeitório, caminhando para fora do mesmo. Lisandra observava a menina sair, cabisbaixa e levantou-se para ir atrás dela, porém foi interceptada por Naomi, a loira pálida de mais cedo.

— O que você quer? — perguntou, já impaciente. Alícia e Cristiana pararam de discutir sobre carboidratos e calorias e passaram a observar a cena que se desenrolava à frente delas.

— Meu lugar. — Ela respondeu, apontando para a mesa atrás da garota.

— Como? — Lisandra perguntou, olhando por cima do ombro. — Sério isso?

— Super sério.

Lisandra respirou fundo, lembrando da cena de mais cedo. Soltou a respiração devagar, lembrou de quando descobrira sobre Fernando e sua traição... com a maior naturalidade do mundo, encarou Naomi e suas amigas e começou a falar.

— Quem você pensa que é, pra chegar aqui dando ordens para mim? E daí que você costuma se sentar aqui? Por algum acaso tem seu nome nessa mesa ou nas cadeiras em volta dela? — a garota permaneceu calada, enquanto algumas pessoas ao redor paravam de se alimentar para olhá-las. — Você não passa de uma patricinha desbocada e insuportável. Se duvidar, nem mesmo essas garotas que te seguem não gostam de você.

— Em primeiro lugar, esse lugar é meu; em segundo lugar: me chamo Naomi Vangoury, isso te diz algo? E em terceiro lugar: você não é ninguém aqui. Tem apenas três dias em meu terreno e acha que já pode chegar fazendo o que bem quer e entende?

— Você pode me achar uma ninguém, mas sou bem melhor que você. Você e esses outros idiotas aqui. — Ela apontou para a mesa ao lado da sua.

Antes que Lisandra continuasse a falar, Naomi levantou sua mão direita, pronta para despejar toda sua energia armazenada na garota à sua frente, mas ela foi mais rápida. Antes mesmo de ter um feitiço pronto ou tentar apenas bloquear os poderes dela, Lisandra abriu as duas mãos na frente do rosto, liberando uma luz branca e forte em sua direção. O poder de Lisandra a atingiu em cheio e aquela energia fez com que as luzes do refeitório piscassem várias vezes. Alguns alunos observaram as duas: Lisandra parada olhando para suas mãos e Naomi ajoelhada, segurando a cabeça nas suas; outros pareciam não perceber o que acontecia em volta deles.

— Você não deveria ter feito isso! — Naomi levantou a cabeça e encarou o rosto assustado da garota com seus olhos totalmente negros.

— Agora eu vou ter que consertar sua burrada, sua idiota! — ela se levantou e instintivamente, Lisandra levantou a mão novamente. — Não! — ela gritou, mas fora tarde demais. Lisandra não sabia controlar seus poderes, mas percebeu, naquele momento que ela não era uma simples paranormal.