— Olha quem decidiu colocar as garras de fora! — disse Azazel, sorrindo debochado.
— Depois de tantos anos sendo torturada, tive que aprender alguns truques. — Lisandra respondeu, no mesmo tom de deboche.
A menina estava parada, de frente para seu oponente. Lisandra analisava cada parte do corpo do homem parado à sua frente, olhando como ele de fato tinha mãos grandes e ossudas, mas não era tão alto como fora imposto em sua mente, nem tão corpulento ou assustador.
— Gosta do que vê? — Azazel perguntou, abrindo os braços e, consequentemente, a capa negra dando à Lisandra uma visão geral de seu corpo. Cicatrizes tomavam conta de seus braços e pescoço, algumas marcas recentes e avermelhadas do lado esquerdo do rosto, pés descalços e orelhas pontudas. Um elfo? Pensou ela, mas foi despertada de sua rápida análise com o som do riso do rapaz. — Acho que o seu namoradinho não vai gostar de saber que você está me secando desse jeito... — Azazel ainda tinha um sorriso nos lábios, o qual Lisandra ignorou e mudou de assunto logo em seguida.
— Ele não é meu namorado. — sua voz saiu firme. — E precisamos acabar com essa história, de uma vez por todas.
— Tá aí uma coisa que nós concordamos. — disse, partindo para o ataque.
Era incrível a forma como os dois se moviam de forma sincronizada. À medida que Azazel avançava com algum golpe, Lisandra bloqueava ao ataque e contra-atacava. Era como se ela conseguisse prever seus passos e soubesse exatamente como se defender. Percebendo que o seu oponente estava fraquejando, a garota partiu para cima, desferindo um golpe com o cotovelo em sua costela, quando ele se aproximou. Azazel arfou sentindo a dor tomar conta de seu corpo, mas não gritou, apenas recuou, respirando com um pouco de dificuldade.
— Está bastante preparada para combate de corpo também, hm...? — murmurou o homem, desfazendo-se de sua capa pela primeira vez em anos.
— Tive ótimos treinadores. — respondeu, ainda com o tom de deboche e isso fez a raiva fervilhar nas veias dele. — Você, foi o melhor de todos. — ela disse, sorrindo.
— Sempre fui o melhor. — ele rebateu, se permitindo sorrir.
— Aprendemos muito com a dor.
— E chegou a essa conclusão depois de quinze anos de terror?
— Não... cheguei a essa conclusão depois de quinze minutos com você me lembrando de tudo o que aconteceu. — ela sorriu olhando para a marca em sua mão, que agora tinha formato de lua nova, totalmente negra. — Você sabe por que o símbolo dos Ceifadores é uma Lua, Azazel? — o homem continuou parado, observando a garota em sua frente enquanto falava. — Dizem, que ela é muito mais que um satélite de luz própria... — Lisandra o observou com o cenho franzido, encarando-a com um possível medo. — Ela marca inícios e términos, sem contar que serve como uma ótima inspiração para as pessoas. — estendeu o braço na direção do rapaz e pendeu a cabeça para o lado. — Lua Nova... Sabe o que significa? — ele continuou calado e a garota riu. Um riso frio, sem humor, cético. Lisandra nunca havia se comportado daquele jeito, nunca sentiu aquilo antes, aquele prazer em ver o desespero, mesmo que mínimo, no rosto de alguém. — É hora de um novo começo, Azazel. — ela disse, quando parou de rir. — É hora de você sair de cena.
Azazel escorou-se na parede atrás de si, sabia que seu fim havia chegado. Observou a menina que estava de olhos fechados e sorriu ao vê-la acumulando seu poder para soltá-lo, jamais imaginara que aquela garotinha indefesa havia crescido tanto. Ele se sentia orgulhoso, de certa forma. Continuou olhando-a com um sorriso, não de ironia ou ceticismo, mas de felicidade. Agora sim ela estava pronta para reclamar o trono.
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Segredos dos Mundos - Livro I: A Encaminhadora de Almas
FantasíaEm toda sua vida Lisandra jamais imaginaria que teria poderes sobrenaturais ou que sua vida poderia mudar de forma drástica ao que é avisada de que se mudará para um lugar do qual nunca escutou falar em suas aulas de Geografia na escola, que transfo...