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Há 5 anos atrás, Katerine Halsen, Ohio, EUA.
— Bom dia, mamãe. — Dei um beijo na bochecha da minha mãe, que sorriu ao me ver. Ajustei a presilha preta no meu cabelo, me certificando de estar apresentável para o primeiro dia de aula no sexto ano, numa escola nova. Minha mãe disse que nos mudamos porque papai tinha "problemas de adulto" a resolver. Moramos agora numa casa menor, confesso, mas que meus pais encheram de amor, livros e música. Para mim, isso é o suficiente.
— Bom dia, querida. — Minha mãe procurou algo para me oferecer para o café da manhã. Sei que não temos muito dinheiro, mas amo minha vida e minha família do mesmo jeito. Notei que ela parecia confusa, com olheiras evidentes e um sorriso forçado. Sempre me dizia que, ao sorrir, podíamos tornar o dia de alguém melhor. Para evitar a situação desconfortável, peguei uma maçã da mesa e a mordi com um sorriso.
O problema é que eu não suporto sorrisos forçados.
— Filha, perdoe seu pai por não poder estar presente hoje. Sei que é seu primeiro dia, mas prometo que à noite faremos massa com molho de tomate, está bem? E na aula, lembre-se: seja gentil, mas jamais tola.
Assenti, olhando para o relógio. Não tenho celular, então percebi que já estava quase na hora do meu ônibus. Me apressei a terminar a refeição.
— Tchau, mamãe. Bom trabalho, se cuida. Te amo. — Ela beijou minha testa, e saí correndo de casa para não perder o ônibus.
{...}
O primeiro dia no sexto ano foi tranquilo, até. As pessoas não gostaram muito de mim, mas eu gostei do lugar e das aulas. Talvez, se eu me esforçar, consiga entrar na melhor escola da cidade daqui a alguns anos, com bolsa, claro. Só quero dar aos meus pais uma vida melhor.
Abri a porta de casa devagar, após ouvir uma conversa em voz alta. Não gosto disso. Meus pais têm o hábito de brigar na minha frente.
Caminhei devagar, vendo algumas coisas espalhadas pelo chão, como objetos caídos. Ajoelhei-me para pegar um porta-retratos de mim, da minha mãe e do meu pai, onde estávamos comendo massa com molho de tomate. O vidro estava quebrado.
— Yanne, você não pode evitar isso o tempo todo! Estou cansado dessa vida. Antes, era legal, mas depois que perdemos todo nosso dinheiro, nem sinto vontade de voltar para casa. — Ouvi a voz alterada do meu pai enquanto limpava o porta-retratos com cuidado para não me cortar no vidro. — Você acha isso legal? Não saber se vai ter comida amanhã? Ter que lidar com a sua doença e com a nossa filha que acha que tudo está perfeito? Isso é cansativo, e não sei se quero continuar assim.
— Não adianta chegar em casa bravo porque nossa vida não é boa o suficiente! — Minha mãe rebateu. Foi nesse momento que percebi que minha vida não era perfeita, e que tudo o que eu via era uma fachada.
Mamãe e papai não se amavam como prometeram. O problema é que, naquela época, eu ainda não entendia o quanto tudo era uma mentira.
Atualmente, Katerine Halsen, Los Angeles, EUA.
Arrasto minha mala vermelha pelo aeroporto, tentando encontrar minha tia, que viria me buscar. Será que evitar as coisas mudaria algo? Tiro os fones dos ouvidos e os coloco no bolso do meu casaco. Muitas pessoas caminham apressadas pelo aeroporto, até que finalmente vejo minha tia May acenando. Vou até ela, sorrindo.
Minha mãe e minha tia são bem diferentes na aparência. May tem cabelos castanhos claros, quase ondulados, usa roupas marcantes, batom vermelho, e tem uma pele clara com poucas rugas ou olheiras. Já minha mãe tinha cabelos castanhos claros quase loiros, como os meus, embora os meus sejam mais escuros. Ela também tinha olhos verde-escuros como os meus, mas sua pele era marcada por rugas e olheiras.
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AMOR FATI ( Em Andamento)
RomanceAmor Fati, a teoria de Friedrich Nietzsche sobre a aceitação do destino, seria então o ato supremo de amor próprio, você olha para a sua vida e reconhece que para ser quem você é hoje, tudo precisou acontecer do jeito que aconteceu. E sim algumas co...