O marujo deu meia volta assim que abriu a porta da cela, e Toby precisou de alguns instantes para acalmar o coração antes de se levantar. Os ossos dos esqueletos na cela agora o perturbavam menos que o pesadelo que tivera, embora achasse pouco provável que algo parecido lhe acontecesse.
Quando finalmente subiu para o convés, foi recebido pelo Capitão com o mesmo sorriso divertido com que o enviara para a cela naquela noite.
– Dormiu bem, Toby Reid? – perguntou o Capitão, sadicamente.
Toby olhou furiosamente para o Capitão por um breve instante, então sacou a espada e investiu sobre ele com toda a força. Entretanto, o Capitão, parecendo antever seus movimentos, recuou alguns passos, sacando rapidamente a espada e defendendo-se com habilidade.
Alguns marujos fizeram menção de entrar na briga, porém, Jenkins deteve a todos, atravessando o próprio sabre, velho, grosso e curvado diante deles como uma barreira.
– O Capitão pode ensinar esta lição ao rapaz sozinho – disse, simplesmente, com sua voz cavernosa e ameaçadora como uma trovoada.
A luta ficou equilibrada por algum tempo. Toby era rápido e destemido, e dava golpes cada vez mais perto de ferir a carne do Capitão. Este, por outro lado, defendia-se com muita precisão, sem ao menos ameaçar ferir o rapaz.
Logo, porém, depois do que pareceu um ensaio onde o Capitão estudava os movimentos de Toby, ele investiu contra o rapaz de uma vez só, e o jogou no chão, apertando a espada contra sua garganta, e travando os braços do rapaz sob o peso de seu corpo.
Toby se debateu um instante, tentando se libertar. Porém, o Capitão apertou mais forte a lâmina da espada em sua garganta, sem feri-lo, e disse com um sorriso sarcástico:
– Está se esquecendo de uma coisa, Toby Reid: eu sou imortal!
– Tem certeza? – perguntou Toby, quase sem voz, mas com o olhar desafiador. – Capitão John Flynn!
O Capitão o olhou com espanto.
– Não me lembro de ter-lhe dito meu nome – comentou, sem afrouxar a espada da garganta do rapaz.
– Acho que adivinhei – respondeu Toby, como dando de ombros.
Os lábios do Capitão se puxaram um pouco num canto, no que pareceu um sorriso torto e sem graça, e cerrando os dentes, perguntou:
– E o que mais adivinhou?
– Que você está se borrando de medo de não chegar a tempo aonde quer ir – disse o rapaz com a voz firme, embora muito baixa por causa do aperto da lâmina em sua garganta.
A algibeira que pendia do pescoço do Capitão roçava o queixo de Toby, enquanto o apertava contra a coberta do navio.
– Você não teme o perigo, não é? – perguntou o Capitão, após perscrutar a expressão atrevida do rapaz por um breve instante.
– Eu deveria? – indagou Toby, com uma expressão irônica, sem se debater.
O rapaz ergueu a cabeça até onde conseguiu, sem se ferir na lâmina da espada de John Flynn, e desceu os olhos para o irritante objeto que insistia em bater-lhe no queixo.
– O que há na algibeira? – perguntou, com a voz sufocada pelo mau jeito de sua posição.
O Capitão afastou a espada e recolheu rapidamente a algibeira, escondendo-a dentro da camisa, e se levantando em seguida.
– Nada que lhe interesse! – respondeu, com uma expressão incomodada, subindo as escadas para o seu camarote.
Toby se levantou ofegante, e encarou uma tripulação curiosa que o observava em silêncio, dispersando-se lentamente.
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O Galeão Fantasma
AventuraMaestrel, o lendário galeão fantasma, tem assombrado os mares há mais de cem anos. Sua mera presença no horizonte é suficiente para amaldiçoar outros navios que o avistem, e arrastá-los às profundezas do oceano. Disto Toby Reid não tem dúvida, pois...