Os marujos carregaram com dificuldade a urna de vidro até o convés, e Toby os ajudou a colocar o corpo do companheiro dentro dela, cuidando que não o machucassem. O fantasma parecia apreensivo enquanto era erguido por aqueles homens, e só se tranquilizou depois que fecharam a tampa. A expressão de Toby parecia lhe dizer "vai ficar tudo bem".
– Um cadáver num aquário – observou Gilbert, fitando o corpo no esquife.
Os dois o encararam sem expressão.
– Apesar dos anos que passei neste navio, isso ainda me assombra – disse o Imediato.
Toby notou que ele apertava discretamente o crucifixo enquanto fitava o esquife, como se rezasse em silêncio pelo morto.
– Qual é o seu nome, meu jovem? – indagou Gilbert, finalmente encarando a alma do moço.
– Theodore Hawkins – respondeu o fantasma, de pronto.
– Por que estamos indo para Montserrat? – indagou Toby, antes que Gilbert dissesse qualquer coisa.
– Ironicamente, a mesma bruxa que condenou nosso Capitão, pode devolver a alma ao corpo do seu amigo.
Uma interrogação passou pela expressão de Theodore.
– Por isso o tal Flynn não está nada satisfeito com este desvio nos planos – deduziu Toby.
Gilbert balançou a cabeça para ambos os lados.
– Acredite em mim, rapaz – começou –, o Capitão não faz nada sem um propósito. Embora não pareça, estamos navegando exatamente para onde ele quer ir.
Toby pareceu confuso, porém, antes que perguntasse qualquer coisa, foram interrompidos por um grito do vigia:
– Navio à vista!
Toby subiu na amurada, segurando-se numa corda, e forçou os olhos para espiar o horizonte. Ainda muito distante, a pequena figura de uma embarcação vinha navegando devagar a bombordo.
A lembrança do naufrágio da velha escuna em Port Royal martelou na mente de Toby, deixando-o apreensivo.
– Vão afundá-lo? – perguntou ao Imediato, ao pular novamente para o convés.
– Não é a melhor parte do meu dia também – disse o Imediato, dando ordens aos homens para que se colocassem cada um no seu posto.
– Não façam nada! – gritou o Capitão, da ponte diante da porta de seu camarote.
Alguns homens pareceram querer protestar, todavia a expressão do Imediato se mudou em alívio.
– Mantenham-se no curso e não diminuam! – ordenou o Capitão, erguendo a luneta para observar o navio que vinha.
– Pensei que o Maestrel jamais se deixasse ser visto por um navio sem lhe fazer dano – comentou Theodore.
– Bem, embora não haja nevoeiro, não somos muito mais do que fantasmas para eles – explicou o Imediato. – É provável que nem nos vejam.
– Preparem um bote – gritou Flynn, baixando a luneta. – O Sr. Reid vai desembarcar.
Toby franziu o cenho, assustado.
– O quê? – indagou, correndo para a ponte do Capitão. – Por quê?
Bud o deteve pelo braço e o jogou com força na coberta.
– É sua responsabilidade arranjar um patife para dar ao Craven no lugar do teu amigo – disse Flynn. – Aquele navio carrega pelo menos vinte almas em potencial; escolha uma e dê um jeito de tirá-la de lá.
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O Galeão Fantasma
AdventureMaestrel, o lendário galeão fantasma, tem assombrado os mares há mais de cem anos. Sua mera presença no horizonte é suficiente para amaldiçoar outros navios que o avistem, e arrastá-los às profundezas do oceano. Disto Toby Reid não tem dúvida, pois...