Três marujos ainda seguravam Toby quando Elena passou pela porta.
– Quem será o próximo felizardo? – murmurou um dos piratas que seguravam Toby, como provocação.
Mas o Capitão saiu atrás dela e gritou diante da balaustrada:
– Ouçam bem, homens: a senhorita aqui faz parte de nossa tripulação agora. Não é nossa prisioneira, tampouco prostituta de bordo. De modo que se alguém se atrever a tocar nela sofrerá uma morte extremamente dolorosa. Entenderam bem?
Um breve murmúrio de protesto ecoou no convés, mas foi logo interrompido por um tiro disparado para o alto por Jenkins, ao lado do timão.
– Entenderam? – repetiu o Capitão, empregando mais autoridade na voz.
Os marujos concordaram, de má vontade. E percebendo isso, o Capitão salientou:
– Todos os que estão aqui assinaram o Código para tripular este navio. Ninguém foi forçado a permanecer a bordo, e nem agora vou forçá-los, tampouco. Quem não estiver de acordo, ou estiver insatisfeito com a conduta com a qual todos concordaram ao serem aceitos nesta tripulação, deve abandonar o navio imediatamente.
Ao lado do Capitão, Elena encarava a todos muito atentamente. As palavras de Flynn subentendiam que se alguém ali não estivesse de acordo com suas ordens, caminharia na prancha naquela mesma hora.
Nenhum marujo se atreveu a protestar, e Toby finalmente teve prova da absoluta autoridade que John Flynn exercia sobre a tripulação do Maestrel. Podia ser um embusteiro se passando pelo Sanguinário holandês, mas todos ali pareciam respeitá-lo e temê-lo o bastante para sequer pensarem em motim.
– Pois bem... – gritou o Capitão. – Estão avisados!
E virando-se com raiva, tornou a se trancar em seu camarote.
Toby se livrou das mãos dos marujos e foi ao encontro de Elena ao pé da escada que dava para o camarote do Capitão.
– Você está bem? – sibilou, preocupado.
– Sim – respondeu ela, aliviada.
– O que houve lá dentro? – Não havia ciúme na voz de Toby, mas certamente algo mais que preocupação, que ela não pôde identificar exatamente.
– Nada – respondeu ela, sem titubear. – O Capitão é um perfeito cavalheiro, não se preocupe.
Os passos duros de Jenkins chacoalharam a escada lateral, que levava ao convés de tombadilho, e assim que se aproximou, o velho deu um tapinha no ombro de Toby, com um sorriso orgulhoso.
– Ah, seu malandrão... – zombou baixinho. – Eu fazendo mau juízo de você, enquanto na verdade você tinha nas mãos um mulherão... – E olhou para Elena. – Com todo o respeito, senhorita.
Toby lhe deu um olhar zangado.
– Sei que vocês não gostam de mim – sussurrou Jenkins –, e eu francamente não simpatizo com nenhum de vocês também, mas vou lhes dar um conselho de amigo: procurem ficar juntos todo o tempo! Mesmo sob a ameaça do Capitão, confiar nesses marujos, sobretudo quando exageram na bebida, é um erro. Fiquem de olhos abertos!
Aquela provavelmente foi a primeira e única vez que Toby não se sentiu irritado depois de ouvir a voz do velho abutre. Sempre protegera Elena sob o disfarce de Theodore Hawkins, e até aquele dia, o único além de Toby que soube que ela era uma mulher, fora Jack Craven, por uma razão muito óbvia: como Capitão do navio da morte, sabia reconhecer o que havia oculto em cada alma que transportava em seu porão. Nunca antes teve que defendê-la de uma tripulação inteira de marujos ávidos por um corpo de mulher.
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O Galeão Fantasma
AdventureMaestrel, o lendário galeão fantasma, tem assombrado os mares há mais de cem anos. Sua mera presença no horizonte é suficiente para amaldiçoar outros navios que o avistem, e arrastá-los às profundezas do oceano. Disto Toby Reid não tem dúvida, pois...