Toby se ajoelhou diante do marujo caído e pressionou os dedos em seu pescoço: Lee Cook estava morto. Seus olhos ainda encaravam Toby acusadoramente, mas o rapaz os forçou a se fecharem, pressionando-os com as pontas dos dedos.
Então se voltou para a porta da cabine do Capitão, de onde viu surgir, caminhando sobre os próprios pés, completamente sadio, seu companheiro Theodore Hawkins.
Toby correu imediatamente ao seu encontro, sem se importar com os olhares dos outros piratas e lhe deu um abraço apertado ao pé da escada.
– Que bela demonstração de afeto – comentou Jenkins, perto do tombadilho, em seu tradicional tom de deboche.
Toby e Theodore lhe deram um olhar zangado, mas ignoraram em seguida.
– Ainda está muito pálido – observou Toby, afastando os cabelos do rosto do companheiro.
Os vergões da decomposição ainda estavam abertos em sua pele, e agora ardiam aos salpicos do mar, e o cheiro também era forte, mas Theodore não se queixava. O simples fato de estar vivo novamente compensava todo e qualquer desconforto.
– Claro que está pálido! – bradou Jenkins. – Estava morto há mais de cinco dias! Deem alguma coisa para ele comer.
Keith se precipitou para a cozinha, enquanto o velho abutre olhava para os dois piratas com um sorriso zombeteiro que finalmente pareceu incomodá-los.
O Capitão Flynn, indiferente a tudo o que acontecia ao seu redor, colocou-se diante da balaustrada à frente de sua cabine, espiando o mar. Uma sombra enorme se aproximava rapidamente, vindo das profundezas do oceano.
Dando um suspiro ansioso, o Capitão sorriu e anunciou:
– O Emissário está vindo!
Toby permaneceu ao lado de Theodore, aguardando ansiosamente para ouvir dos lábios do próprio Craven que seu débito estava pago, e que o companheiro, enfim, estava livre.
Theodore lançou um olhar angustiado para o marujo morto no convés, e não pôde conter um soluço baixo. Jenkins olhou imediatamente para ele, mas engoliu o deboche ao conferir que, ao contrário do que pensou, o rapaz não estava chorando.
Todavia sua expressão estava carregada de culpa. A vida que ele agora desfrutava fora roubada daquele homem.
Este era o seu preço: carregar para sempre o peso de ter roubado a vida de um homem inocente.
Quando o navio de ossos emergiu à frente do Maestrel, respingando água para todo lado, Theodore instintivamente apertou a mão de Toby, recuando um passo para trás dele, temendo a aparição. O companheiro o escudou, e deu-lhe um olhar confiante por cima do ombro, que não diminuiu em nada os seus temores.
O céu cinzento do fim da tarde tornava a aparição ainda mais grotesca. O Emissário subiu das entranhas do mar exatamente como o nevoeiro que congelara a alma de Toby três noites atrás.
O enorme esqueleto flutuante deslizou lentamente até emparelhar com o Maestrel, e então o Capitão Jack Craven, que vinha altivamente sobre o castelo de popa, balançou-se numa corda – que mais parecia a tripa de alguém –, e pulou para o convés do galeão fantasma, saudando-os com uma expressão animada.
– Estão realmente com pressa de libertar o jovem ali – observou, apontando para Theodore meio escondido atrás do companheiro. – Dei-lhes três dias e vocês usaram apenas um para resolver tudo.
E aproximando-se, encarou Toby com um sorriso divertido:
– Parece-me que para recuperar a vida do seu amigo o rapaz mandou quase trinta homens para o meu navio. – E rindo mais deliciosamente, debochou: – O curioso é que só precisava de um!
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O Galeão Fantasma
AdventureMaestrel, o lendário galeão fantasma, tem assombrado os mares há mais de cem anos. Sua mera presença no horizonte é suficiente para amaldiçoar outros navios que o avistem, e arrastá-los às profundezas do oceano. Disto Toby Reid não tem dúvida, pois...