Capítulo 8 - O Diário Perdido do Capitão Morgan

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Mal o Emissário desapareceu no oceano, John Flynn sacou a pistola e apontou para a cabeça de Toby.

– Muito bem, Sr. Reid – começou o Capitão. – Me dê o embrulho!

– Quando recuperarmos o corpo dele e lhe restituirmos a vida, eu entrego o mapa – prometeu Toby.

Jenkins sacou também sua pistola, e apontou a poucos centímetros da cabeça de Toby, fazendo a alma do companheiro dar um ganido assustado.

– Nosso acordo consistia apenas em tirá-lo do navio da morte – lembrou Flynn. – Pois bem, ele está aqui. Como vão recuperar o corpo dele ou quem darão em troca de sua vida não é problema meu. Dê-me o mapa ou farei vocês dois retornarem ao Emissário agora mesmo, e eu lhe asseguro que não moverei um dedo para resgatá-los novamente, Sr. Reid.

– Então perderá a segunda metade do mapa – desafiou Toby, dando de ombros.

O Capitão rangeu os dentes, contendo a cólera, e se afastou do rapaz, dando um tiro no horizonte. Depois, respirando fundo, voltou-se para Toby, e enumerou:

– Recuperar o corpo do seu amigo; achar um patife para dar ao Craven em troca dele; restituir a alma ao corpo... Tudo em três dias.

E com as narinas novamente inflamadas de cólera, gritou:

– Acha mesmo que vou arriscar o pouco tempo que me resta para resolver os seus problemas?

– Acho que você ainda tem tempo suficiente para fazer tudo isso e mais – respondeu Toby, sem se deixar intimidar.

O Capitão respirou fundo novamente. Agora o lodo estava ainda mais evidente em seus olhos.

– Preciso ao menos ver o mapa, para ter certeza de que tem o que me prometeu.

Toby considerou por um breve momento o pedido do Capitão, e por fim decidiu:

– Está bem. Vamos abrir o embrulho e inspecionar apenas a metade do mapa que está aqui. O restante, somente depois que ele retornar ao próprio corpo.

O Capitão rangeu os dentes outra vez, emanando a mesma cólera de antes.

– O problema, Sr. Reid, não é devolver a vida a ele – explicou o Capitão. – O mais difícil será recuperar o corpo.

A alma do companheiro deu alguns passos levemente cadenciados na direção do Capitão, sorrindo despreocupadamente, e parou bem junto à Toby.

– Talvez, se pedirem com jeito, Elba, a ninfa dos mares ocidentais possa jogar o meu corpo no convés – sugeriu.

– É mesmo? – indagou o Capitão, em tom de ironia. – E como sugere que a invoquemos?

– Creio que conhecem a canção...?

Jenkins e o Capitão se entreolharam, desconfiados.

– Cantar para uma deusa pagã? – protestou Gilbert. – Capitão...

– Ela é uma ninfa! – corrigiu o rapaz, encarando o Imediato com raiva. – Há uma diferença.

– Por que não nos ensina a canção? – propôs John Flynn, encarando impiedosamente o fantasma.

A alma do rapaz assentiu com um sorriso, e se encaminhou para a amurada. Toby o seguiu de perto, enquanto os outros esperavam ansiosos que ele começasse.

A canção para invocar a ninfa não possuía letra. Era apenas uma melodia entoada em única vogal, muito suave e tranquila; e a voz do jovem pirata morto era tão leve e melodiosa que facilmente podia ser levada pelo vento.

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