Capítulo 23 - A Garganta do Diabo

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Elena retornou ao convés de tombadilho e ficou em silêncio durante longo tempo, debruçada na amurada. Toby a olhava vez por outra com preocupação, mas ela parecia não se aperceber disso.

Passados vários minutos ele se debruçou ao lado dela. Elena narrou brevemente sua conversa com o Capitão no camarote dele: sobre Angélica, e sobre a ofensa que ele fez à bruxa de Montserrat, quando esta se recusou a ajudar a resgatá-la. Não foi surpresa para ele saber que Jenkins era o pai de Flynn; ouviu qualquer coisa a este respeito na primeira vez que os viu, na taverna em Tortuga.

Mas a história da filha do Capitão Pizarro elucidou um mistério recente. Decerto ela era a mulher que ele vislumbrara no camarote de Pizarro quando esteve a bordo de El Falcón Negro, e Flynn realmente devia amá-la muito, para ter dado a algibeira a ela justamente no momento em que mais precisava de seu amuleto de proteção.

Vendo a piora evidente de seu Capitão, a tripulação ficava mais ansiosa e mal humorada; e desse modo, pareciam ainda mais perigosos.

Embora tentasse parecer sempre tranquilo, ao fim da tarde Toby começou a ficar inquieto. Verificava a bússola a cada poucos minutos, e olhava apreensivo para o horizonte como se previsse uma terrível aparição.

Mas foi só no início da madrugada que os ânimos ficaram agitados a bordo do Maestrel. Ninguém se atreveu a dormir naquela noite, avisados de que estavam muito perto do fim de sua viagem.

Poucas horas antes do amanhecer, Alistair, o Mestre do navio, lançou um olhar assombrado ao horizonte, e, ao verificar a posição das estrelas, voltou-se para o convés de tombadilho, dirigindo-se a Toby com raiva e indignação.

– Maldição! – gritou o Mestre, chacoalhando a escada ao subir correndo. – Para onde está nos conduzindo, moleque?

Alistair deu um empurrão no timoneiro para fazer a volta, mas foi detido por Toby com um soco firme no queixo.

– Não se meta! – gritou Toby de volta, sem baixar a guarda, segurando uma das malaguetas para evitar que o timão se movesse a esmo.

– O que é que está havendo aí em cima? – berrou Jenkins, da porta do camarote do Capitão.

– O moleque está nos levando para uma armadilha! – gritou Alistair, levantando-se depressa e avançando contra Toby, que sacou uma pistola para se defender, deixando o timão novamente sob o controle de Sheep.

– Deixe de tolices, mandrião! – respondeu Jenkins, de mau humor. – Nosso curso está correto. Pare de importunar o rapaz!

Mas Gilbert se dirigiu à tolda após verificar a bússola, e gritou para o velho abutre:

– O Mestre tem razão, senhor! É prudente reajustarmos o curso alguns nós ao sul, ou seremos homens mortos em pouco tempo...

– Não ousem mudar o curso! – gritou Flynn, chegando-se com dificuldade à porta de seu camarote.

– Mas, Capitão... – interveio Gilbert, com voz urgente. – Se seguirmos nesta rota, vamos entrar na Garganta do Diabo!

Elena cobriu a boca ao perceber o motivo da aflição de Toby naquele dia.

– Sei disso, Sr. Gilbert – garantiu Flynn, sem se alterar. – E repito, mantenham o curso!

– Isto é uma grande loucura, Capitão! – insistiu Gilbert.

John Flynn lançou um olhar furioso ao Imediato, que apelou mais uma vez:

– Não há outro caminho?

– E se passarmos submersos? – sugeriu Elena, aflita. – Seria um jeito de evitar a tormenta...

– O vale dos mortos fica exatamente na extremidade norte do portal – interrompeu Toby, igualmente aflito. – Se não pudermos ver onde ele termina, não poderemos saber onde está o vale.

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