Capítulo 11 - A Bruxa de Montserrat

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É importante relatar que naquela madrugada, enquanto Toby enfrentava a fúria da tempestade, o Maestrel chegava a Montserrat.

Fundearam a sudeste da ilha, onde, apesar da escuridão, se via majestosamente erguido entre a vegetação o vulcão Soufrière Hills, adormecido desde o século passado.

O Capitão Flynn desembarcou num bote, acompanhado do velho Jenkins e do contramestre Bud, de posse de duas lâmpadas. Embora fosse o motivo da visita à bruxa, Theodore não pôde desembarcar do Maestrel, pois seu espírito não era capaz de tocar outro solo, mesmo o bote do navio fantasma.

Por escolha própria, o Imediato Wayman Gilbert ficou no navio com o restante da tripulação, parecendo aborrecido por estar tão perto da morada de uma bruxa.

A lua cheia brilhava no céu acima do vulcão, com a face manchada de vermelho, o que Flynn interpretou como um sinal de mau agouro.

Desembarcaram na praia deserta e caminharam por entre as folhagens da mata até a entrada de uma caverna ao pé do vulcão adormecido. Corria uma lenda pela região, que dizia que a bruxa havia adormecido a montanha, congelando a lava sob a ilha, apesar de algumas vezes se sentir um tremor, como o ronco do gigante adormecido, indicando que permanecia vivo na cratera profunda. Por isso ninguém ousava perturbá-la, temendo que ela facilmente despertasse o vulcão, e com sua fúria liberada, destruísse Montserrat.

De um lado da entrada da caverna, subia o cheiro pútrido do pântano venenoso com que a bruxa amaldiçoara o Capitão, cuja lama ele sentia correndo em suas veias. Flynn lançou um olhar agoniado na direção do pântano, e apertou a algibeira no peito. Em seguida, ergueu uma das lâmpadas à sua frente e precipitou-se para dentro da caverna, seguido de perto pelos dois companheiros.

A entrada era estreita e muito comprida, escura demais até durante o dia. Depois de uma curva à direita, um fino feixe de luz anunciava a morada da bruxa.

Era uma galeria arredondada e baixa, muito empoeirada, de cujas paredes escorria uma espécie de lodo muito quente e espesso, debilmente iluminada por archotes espalhados com simetria pela caverna. Num canto à esquerda, a lenha ardia no fogão, de onde pendia uma chaleira velha que apitava alto como um assovio. A pouca mobília era extremamente miserável, e nas prateleiras ao redor espalhavam-se os mais estranhos objetos imagináveis, que concediam um aspecto macabro a qualquer ambiente, incluindo crânios humanos e de animais e pedaços de ossos.

Havia uma mesa redonda bem no meio do aposento, cujo tampo de madeira estava repleto de cortes, e as pernas foram parcialmente comidas por cupins. Ao fundo, em uma cama pequena feita de gravetos, e coberta com uma manta velha e remendada, uma mulher se levantava devagar, afastando os cabelos vermelhos e selvagens, e se voltando para a entrada da caverna.

Não era velha, apesar da pele fina e frágil como papel, e seu rosto era quase tão meigo quanto o de um anjo; alguns poderiam até acrescentar: de uma beleza sobrenatural! Não fosse por uma venda escura que escondia seus olhos. Cega de nascença, mas com um fabuloso dom que lhe permitia ver muito mais que qualquer mortal com os olhos perfeitos; apenas mais uma ironia desse mundo assombroso que nunca me atrevi a questionar.

A mulher agarrou uma bengala de madeira torta ao lado da cama, e caminhou para a mesa com passos firmes e graciosos.

– Voltou antes do que eu esperava, John Flynn – disse a bruxa, com uma voz grave e rouca que acrescentava um charme mais excelente à sua figura.

Ela se sentou numa cadeira diante da mesa, e sinalizou para que os outros se sentassem também. Flynn se aproximou, levando outra cadeira até a mesa, enquanto Bud e Jenkins se ajeitavam nos banquinhos de madeira roída perto da entrada.

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