Capítulo 24 - O Vale dos Mortos

23 16 0
                                    

Com o impacto, os marujos caíram sobre a coberta, e a maioria perdeu os sentidos, logo após ouvirem o grito de um homem que fora varrido do convés pelo chicote de água. Só algum tempo depois, Toby percebeu que fora o criado de bordo do gorro vermelho com quem ele não simpatizava. Não lamentou por ele.

O navio ficou atravessado no oceano, cortado ao meio pelo portal: a bombordo estava a convidativa calmaria da manhã no Atlântico norte; a estibordo os raios da tempestade ainda rugiam alto, ameaçando partir a embarcação ao meio tão logo fosse atingida.

Porém havia ainda um perigo maior e inesperado. Provavelmente ninguém nunca havia percebido, mas aquele ponto do oceano dividido pelo portal, era cortado também por uma fenda muito íngreme, que se alargava lentamente enquanto o Maestrel se equilibrava sobre ela.

Os marujos recobraram os sentidos um a um, e Jenkins os alertou para que não fizessem movimentos bruscos. Se chacoalhassem o navio, a água cederia mais rápido, e seu destino seria tão lamentável quanto o do criado de bordo que fora levado pela tempestade.

Foi necessária uma manobra extremamente delicada, onde Jenkins mais uma vez demonstrou ser um sagaz e experiente lobo do mar. Por um infinitesimal instante, os marujos pensaram que o Maestrel seria tragado pelo abismo, quando num movimento um pouco mais brusco, a popa deslizou ligeiramente, fazendo o navio pender entre o oceano e a queda mortal.

Ajudados pelo vento, os marujos conseguiram afastar o navio do abismo, e fundearam poucos metros ao norte do portal.

O Capitão saiu de seu camarote, arrastando uma perna, e segurou-se na balaustrada diante da porta, parecendo estupefato com os acontecimentos mais recentes.

– Muito bem, Sr. Reid... – gritou Jenkins, encarando Toby. – Onde está o vale?

Toby respirou devagar, caminhando para a tolda.

– Antes de responder isso – começou Toby, demonstrando muita segurança ao falar –, tenho um pedido a lhes fazer.

O Capitão lhe deu um olhar fulminante de raiva, de aspecto extremamente demoníaco, vermelhos como estavam os olhos envoltos em sangue.

– Não tenho tempo para embromações, rapaz – esbravejou Flynn.

– É melhor me ouvir, ou não chegará ao vale! – ameaçou Toby.

Alguns marujos se prontificaram a arrancar a informação do rapaz a pancadas, todavia o Capitão decidiu ouvi-lo.

– Seja breve, então – rosnou Flynn, entre dentes.

– Quero que Elena desembarque num bote com suprimentos – disse Toby. – Isto inclui comida, água, armas e munição.

O Capitão estreitou os olhos, desconfiado.

– Ficou maluco, Sr. Reid? – indagou o Capitão.

– Quando ela estiver a uma distância segura, eu lhes digo como chegar ao vale dos mortos – prometeu Toby.

– Não! – protestou ela, descendo para o convés.

– Fique quieta, por favor! – ordenou Toby, com alguma rispidez.

– Não vou partir sem você! – insistiu ela.

– O que está acontecendo aqui? – indagou o Capitão, impaciente.

– Não importa o que vai acontecer comigo depois que eu lhe der a informação – disse Toby. – Prometi à mãe dela antes de morrer que a protegeria até o meu último suspiro. Irei com vocês, como garantia de que a informação que vou lhes dar é verdadeira, mas ela vai desembarcar segura antes de prosseguirmos.

O Galeão FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora