O Galeão Fantasma

Capítulo 26 - Para a Superfície ou Para a Morte

Jenkins e Toby ajudaram o Capitão a se levantar. O elixir surtira o efeito esperado, todavia ele ainda estava muito fraco. Flynn encarou com horror o rio de lava, e depois, além dele, o brilho da lâmpada na mão de Elena.

Não havia cipós daquele lado para que pudessem atravessar. Toby, que tinha os olhos mais vivos, procurou ao redor, tentando avistar qualquer coisa que pudessem usar como ponte. Um maldito azar, porque não havia sequer uma árvore daquele lado que pudessem derrubar sobre o rio para passar por cima da lava. Só o que havia ali eram pedras aos montões. Pedras enormes, que se o rio de lava não fosse muito profundo poderiam lhes servir de lajota para apoiar os pés.

Não vendo ali nenhuma outra saída, Toby e Jenkins se uniram para carregá-las até a margem. Toby gritou para que Elena se afastasse do rio, e, usando toda a força de seus braços, os dois homens lançaram a primeira pedra o mais longe que puderam. Ela bateu com estrondo no fundo, espirrando lava na direção deles. Jogaram-se rapidamente de lado para não serem queimados, e perceberam, com alívio, que restara uma boa medida de pedra na superfície do rio.

Lançaram mais três pedras, empregando menos força a cada arremesso, e perceberam que a distância entre cada uma delas já podia ser vencida com pulos curtos.

Felizmente a passagem da onda de lava não aumentava o nível do rio, mas lhes dava poucos segundos para fazer a travessia.

Jenkins mandou Toby ir na frente, como se quisesse testar que seu invento funcionaria, antes de colocar a si mesmo e ao filho em risco. E como o rapaz chegou bem ao outro lado, esperaram pela onda seguinte, e então o Capitão, embora muito fraco, começou a saltar sobre as pedras até a outra margem do rio.

A travessia de Jenkins, todavia foi mais difícil, pois a lava parecia dissolver lentamente as pedras, de modo que a primeira que lançaram já quase desaparecia da superfície. Felizmente as pernas do velho abutre eram bem longas, e apesar da idade, o marujo era muito ágil. Pisou em falso na última pedra – a primeira que haviam lançado –, equilibrando-se na ponta da botina já queimada, e lançou-se como último esforço à margem, erguendo os pés ao bater com o peito em terra.

Toby o arrastou para longe do rio, e o ajudou a ficar em pé. Apesar de um arranhão no queixo, o velho abutre estava quase em tão boas condições quanto ele.

Elena não parecia especialmente espantada por ver o Capitão de volta à vida. Estava segurando a corda da forca de Craven na mão, como se ela fosse o crucifixo a que Gilbert se apegava para rezar sempre que a situação beirava o desespero. Ela a estendeu ao Capitão, sem dizer nenhuma palavra, e ele a pegou, com uma expressão aliviada. A utilidade da corda agora era uma mera lembrança, mas ele sabia que precisava devolvê-la ao seu legítimo dono.

A subida pela escadaria de pedras foi infinitamente mais rápida e fácil que a descida, e logo eles alcançaram o bote. Toby remou devagar no lago prateado, com o mesmo cuidado da primeira travessia, agora em direção ao Maestrel, que continuava flutuando majestosamente sobre o ácido.

Os marujos içaram vigorosamente o bote para o convés, e tão logo abordou o navio, o Capitão foi recebido pela tripulação com um grande viva. Ele ergueu a corda de Craven, que ainda estava em sua mão, como um troféu, e deu ordem para que recolhessem a âncora.

Toby se encolheu junto à amurada, escudando Elena, e ficou bem quieto, com uma expressão preocupada. Ela pareceu perceber imediatamente que ele não sabia como levá-los de volta à superfície, mas o Capitão demorou alguns instantes para se lembrar de que precisava de instruções para navegar.

– Sr. Reid! – chamou Jenkins, indicando com a cabeça o convés de tombadilho.

Toby deu um suspiro entrecortado, e como o silêncio se prolongava demasiadamente, o Capitão Flynn decidiu reagir; todavia com absoluto bom humor: